Fazia muito tempo que não
sentia dor no peito, aquela dor profunda, imensa, dor de tristeza, dor de
desalento. Ontem senti, hoje um pouco menos, amanha passa, diriam meus amigos.
Nossa memória é curta, principalmente de quem é brasileiro.
Sexta-feira passada recebi a notícia que o MuBI, Museu
da Bicicleta de Joinville, fechou as portas definitivamente. Valter Busto, o
responsável pelo MuBI, foi avisado num dia para retirar a coleção praticamente
no outro. Não sei exatamente o que aconteceu, qual a razão. Faz uns anos o
museu também foi fechado depois de uma besteira tipicamente tupiniquim e depois
de uma longa briga voltou a abrir. Desta vez acabou. Não interessa a cultura,
não interessa o relativo sucesso do MuBI nestes 17 anos de existência, não
interessa a preservação do passado, enfim não interessa e ponto.
O desrespeito com sua história
é uma das marcas registradas deste Brasil brasileiro. A despreocupação com os
museus pode ser medida na baderna e quase falência que atingiu o MASP, Museu de
Arte de São Paulo, não faz muito tempo. Se o mais divulgado e famoso museu da
cidade mais rica do país, 17% do PIB nacional, passou pelo que passou imagine o
resto dos museus ou entidades de preservação da memória nacional vivem. Vide a
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro só como mais um exemplo de tão vergonhoso
é nojento. Nossas igrejas, palácios, fazendas, cidades históricas...
Conheci Joinville ainda quando tinha cara de Joinville. Era
uma poesia. Hoje é uma cidade brasileira qualquer com uns resquícios da
Joinville verdadeira. Quando começou a modernização (???), com a derrubada de
antigas casinhas ou deformação de fachadas, dei uma entrevista numa rádio de lá
e falei sobre a importância de preservação da linda e rica história da cidade e
seus cidadãos. Não demorou muito a rádio começou a receber telefonemas, muitos
deles ameaçadores. Neste contexto fechar um museu não significa nada, mesmo que
Joinville tenha orgulho de ter sido a "cidade das bicicletas" com
seus congestionamentos de bicicletas na saída da Fundição Tupi e ciclistas,
homens e mulheres, pedalando por toda parte.
Na mesma sexta-feira estive em Piedade, interior de São
Paulo, próximo a Sorocaba, para conversar com a escola de minhas sobrinhas
netas. Quero ajudar na educação delas e achei que poderia oferecendo palestras
ou conversas sobre o que está sendo feito com as cidades mundo afora. O
coordenador da escola, Miro, inteligente, vivenciado em educação e viajado,
colocou com sabedoria que mostrar outras realidades para aqueles pais de alunos
"poderia" ser contraproducente. Talvez até ofensivo, entendi eu. Não
duvido. Não se deve falar mal da cidade onde vivem - que é a melhor cidade do
mundo, devem pensar. Já ouvi esta história muitas vezes, mas imaginei, melhor
dizendo, sonhei que tinha mudado.
Brasileiro não aceita sequer comparações desfavoráveis, o que
dizer de críticas. As cidades brasileiras são um desastre. Tirando raríssimas
exceções, não tem personalidade, não tem história. Foram todas desintegradas em
nome de um moderno, de um futuro, de um progresso pobre, mesquinho, sem
sentido.
Vários estudos apontam que a preservação da história de um
povo é um dos melhores caminhos para a estabilidade social e que a memória é o
caminho para o progresso sustentável. Aprendemos com erros e acertos. Mas quem
de nós brasileiros se interessa?
Como brasileiros continuamos
sendo usurpadores de uma terra. História? O que é isto? Para que serve?
Principalmente, para quem serve?
Valter no MuBI |
Coordenador da EMem/MuBi, Vice-Presidente da ABAJO e Bike Jornalista
em Joinville/SC.
E agora ouvi na Rádio Eldorado na Crônica da Cidade com Antonio Penteado Mendonça: “Mundo brasileiro é dos malandros ou dos espertos”. Alguém tem coragem de negar? Quem se importa?
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