quarta-feira, 29 de março de 2017

Brasil periferia: um passeio divertido - se não fosse trágico

Estou ligado na tomada 220. Foi um dia atípico, dos que quero viver com mais "freequência" (free + frequência; errei, mas gostei) daqui para frente. Preciso mudar, estou mudando aos trancos e barrancos. Não aguento mais o que está ai no dia a dia e saí pedalando, venci meus medos e fui buscar umas linguetas de trava de janela que só são encontradas numa empresa no Campo Limpo, rua Prof. Oscar Campiglia 92, onde Judas perdeu as bostas. 
De Metro ou bicicleta? De Metro iria seguro e estaria a uns 1.500 de lá. De bicicleta estava com medo de pedalar na ciclovia do Pinheiros entre a Ponte Cidade Jardim e a João Dias, onde contam um montão de histórias sobre assaltos. Da ponte João Dias são mais uns 4 ou 5 km num trânsito que me lembro chato e perigoso. Vamos lá! coragem! bicicleta!
A ciclovia do Pinheiros é linda, principalmente no trecho sul, rumo à represa. Entrei nela e demorei para relaxar. Precisei cruzar uns tantos ciclistas com cara tranquila para que deixasse de ficar buscando vultos no meio das folhagens. Neurose? Exagero? Pode ser. Deve ser. Somos uma sociedade treinada para sentir medo. Falta de segurança é um dos negócios mais rentáveis deste país, mais de R$ 200 bi/ano. Todo mundo acha normal; porque também não posso me sentir inseguro?
Sai da ciclovia e cai no trânsito da João Dias e depois Estrada de Itapecerica. Para meu espanto muito mais tranquilo que imaginava. E continuei tranquilo. Um bom trecho numa ciclofaixa à esquerda da avenida Carlos Caldeira Filho, diga-se de passagem, suja, claramente pouco usada e beirando um córrego em estado vergonhoso. Dobrei na Estrada do Campo Limpo, sobe, desce e cheguei onde queria, feliz, topo de morro, vista para Taboão e edifícios do Morumbi. Bela vista. 
A volta? Bem, porque não voltar pelo meio de Campo Limpo e Eliseu de Almeida? "Não é tão longe" disse e vi um sorriso maldoso de um motorista que ali estava.
Entrei na Estrada do Campo Limpo e fui para a aventura pelo meio do bairro. É óbvio que cheguei distraído num cruzamento e segui a esquerda, quando deveria ter virado a direita. Nem percebi. Pedala, pedala, pedala, e uma hora decidi perguntar. (Já sei: deveria ter aberto o celular e olhado o mapa, mas confesso que estava me divertindo perdido, ou meio perdido). O sujeito a quem fiz a pergunta assustou quando disse que ia para Pinheiros pedalando, e apontou, "Sobe aquela rua que você vai dar na (rodovia) Regis (Bittencourt)". Ops. Vamos lá. E cai na Regis uns 3 ou 4 km para lá de Taboão. 
A volta foi divertida, me sentindo livre por estar pedalando numa rodovia. Medo de pedalar em rodovia? Medo dos carros? Nada! Que vontade de tomar o sentido contrário e ir para Curitiba, sumir. Uns quilômetros a frente o centro de Taboão, a esquerda para a Eliseu de Almeida, e ainda cheguei a tempo de receber o pessoal para o almoço. Feliz, muito feliz, e triste ao mesmo tempo.
Feliz porque sai do meu mundinho de "zelite" e fui pedalar num outro Brasil, no Brasil geral, o Brasil de todos. Triste.
Conheço boa parte de São Paulo e alguma coisa da região metropolitana. Não conhecia o lugar onde pedalei, a divisa entre Campo Limpo e Taboão. Infeliz urbanização pobre, sujeira e algum entulho nas ruas, casas e negócios feios e ou mal conservados, calçadas ruins, pouco arborizado, zero paisagismo, lugar comum nas cidades brasileiras, principalmente nas periferias. O futuro de paz e justiça social passa obrigatoriamente por cidades civilizadas. Brasil é uma grande periferia; que futuro temos? Como mudar isto? Como vender a ideia para aquele povo que a cidade pode ser infinitamente melhor, muito mais civilizado? Que parâmetros eles tem para saber o que é civilizado, o que deve ser uma cidade, um bairro, uma vida coletiva, e quais reflexos disto sobre a segurança e equilíbrio social?  

Olhe para as tomadas de sua casa. São as antigas usadas por mais de 30 países ou são as novas, as tomadas do PT. Pois bem, ai é que abaixaram as calças de toda a população brasileira, eu, tu, ele, nós, vós, eles, e viram que mesmo numa situação tão absurda como a introdução obrigatória de modelos de tomadas unicamente brasileiros ninguém falou nada. Não perguntaram o porque, não pediram pesquisas que justificaram, não se importaram com a indústria nacional, não fizeram nada. Silêncio total e absoluto. E enfiaram as tomadas do Lula e PT na bunda de todos. Hoje temos uma tomada exclusivamente brasileira, que orgulho!
É difícil, vide o número de manifestantes que saíram às ruas contra o foro privilegiado e o voto em lista fechada, dentre outras barbaridades que podem afundar o Brasil de vez. Com certeza não há interesse da população em construir um Brasil melhor. "Não vai fazer diferença" ouve-se de bocas de todos níveis sociais e culturais. UAU!
Com as tomadas do PT fizeram um teste de mercado e deu neste Brasil que temos ai. Parabéns a todos!

2 comentários:

  1. Você viu q a vida pode ser diferente, q podemos sair da mesmice,da rotina , não é tão difícil e dá prazer . Ótimo .
    Agora , vc falou, falou e reclamou de um monte de coisas . O q vc vai fazer para tentar mudar pelo menos uma dessas coisas ?

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  2. Anônimo; você está absolutamente correto. Mesmo com o site Escola de Bicicleta, mesmo com toda minha história, todos os trabalhos que estive envolvido, tenho que apresentar algo novo; e vou. O que está sendo penoso é saber o que e como. Infelizmente sou lento, mas sigo em frente.
    Obrigado pelo comentário

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