Mais uma vez recebi uma mensagem na qual se lê
ciclistas foram assassinados... Os dois casos acabam de acontecer em Manaus.
Pelo que se entende do que li nesta mensagem o processo sobre
estes acidentes em Manaus envolvendo os dois ciclistas estão transitados e julgados
e os responsáveis foram considerados por jure popular culpados por homicídio
doloso, provavelmente dolo direto, vulgo assassinato.
Palavras tem peso. Não medir palavras normalmente gera
atritos, o que via de regra é contra produtivo. Deixar portas abertas é bom
para qualquer processo, até quando um “inimigo” está envolvido.
Qualquer sistema que seja realmente seguro evita afirmações
drásticas porque levam a desvios, a erros, a enganos e não a verdade. Só se chega a segurança através de uma análise
fria, algumas vezes dolorosa, dos fatos reais. Segurança está diretamente
ligada à verdade, nunca a especulações. Especulações geralmente levam a
repetição do acidente.
Mesmo que não haja qualquer dúvida sobre o culpado é sempre recomendável
perguntar “bom, e aí, o que mais, o que está faltando neste quebra-cabeças?”.
Quanto mais dúvida sobre o que parece lógico mais se caminha no sentido da
segurança.
- Poucos aqui no Brasil levam em consideração a condição da via e do local onde ocorreu o acidente. Caso via ou localidade não estejam em conforme com a lei (e com o bom senso), o que é comum principalmente no viário brasileiro, a responsabilidade também deve ser imputada a quem é responsável dentro do poder público.
- É relativamente comum ocorrerem acidentes que são causados
por falha mecânica da bicicleta, ou falta de refletores, obrigatórios por lei e
importantíssimos para a segurança do ciclista na falta de luz do dia.
O próprio setor da bicicleta reconhece que há um problema (que considero gravíssimo) de qualidade nas bicicletas nacionais, que falham e ou quebram com facilidade colocando em risco o ciclista. Uma das concessionárias de rodovias de São Paulo, se não me falha a memória a da rodovia que passa por Rio Claro, levantou dados que apontam que mais de um terço dos acidentes fatais com ciclistas ocorrem por falha mecânica da própria bicicleta.
Os refletores fabricados e distribuídos no Brasil têm fixação à bicicleta frágil e, via de regra, caem ou mudam da posição correta, se transformando em objeto inútil. A falta de um refletor é responsabilidade do ciclista, do fabricante da bicicleta ou do governo que não controla a qualidade destes? - Bicicleta é considerado pelo CTB um veículo, portanto o ciclista é condutor de um veículo. Vendo a situação como ciclista sei que tem muito ciclista que pedala mal ou de forma imprudente. Mesmo que o ciclista não tenha responsabilidade no acidente é útil para segurança de todos tentar ver o que este ciclista poderia ter feito diferente.
- Não cumprimento da responsabilidade sobre a educação pelo trânsito...
- Problemas na manutenção da frota de veículos...
- Falta de polícia técnica e legistas...
- Falta de banco de dados confiável...
- DENATRAN que ficou um ano sem presidência e inoperante...
- CTB com falhas e rodoviarista...
- Técnicos mal treinados...
- Falta de verbas...
- Silêncio macabro da sociedade, de toda sociedade, sem nenhuma exceção, com o genocídio geral...
- Etc...
- Etc...
Fico muito feliz que os ciclistas pressionem as autoridades,
mas me preocupa este tipo de discurso, mesmo que seja de uns poucos. O Brasil é
um dos campeões mundiais de violência e só vamos sair desta situação horrorosa
quando começarmos a buscar as verdadeiras razões para este banho de sangue.
Apontar o dedo na cara do outro só vai prolongar nossa absurda agonia.
Como ciclista tenho certeza de minhas responsabilidades com a
sociedade, com o Brasil, não só com os ciclistas. Acredito piamente que a
bicicleta pela bicicleta só complica, só atrasa, só serve para uns poucos.
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