quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Romaria para Apareida do Norte


Quantos não são os medos que nos tiram felicidade ou nos atiram a falsos prazeres da vida? Por que esperar tanto? Por que fazer o que não gosta? Por que não esquecer? Por que fazer o que desagrada?
- Fé!

Rodovia Dutra:
- Por onde você vai? Mas é muito perigoso.
- Aparecida do Norte? Porque Aparecida do Norte? Romaria? Não sabia que você era destes.
- Destes? Que “destes”?

A primeira romaria foi para Bom Jesus do Pirapora. Romaria? Não, viagem de bicicleta para descobrir o que seria uma romaria. Descobri o que era uma viagem de bicicleta e até hoje não sei o que é romaria. Basta a romaria nossa de cada dia com suas decisões, indecisões e a necessidade de uma fé, qualquer que seja ela, para seguir em frente.
Numa Caloi 10 1978 azul clara metálica com um bagageiro delicado em aço bem fino e cromado, com dois pequenos refletores vermelhos embutidos numa tira de chapinha traseira também cromada, mochila de lona verde ai amarrada, sai de casa, pedalei na rodovia Castelo Branco, entrei numa estreita estradinha para Santana do Parnaíba, ainda cercada de belezas verdes, e dali o puro prazer até chegar em Bom Jesus do Pirapora, ver as festividades da Fé Cristã, coisa simplória bem diferente dos grandes, bem montados e lucrativos eventos de hoje. Houve uma missa tradicional, sem cantorias felizes que hoje me irritam, mas com todos acompanhando como cordeiros de Deus, puro ato de Fé. Dormi no chão da praça em frente à igreja cercado de fieis do povo todos enrolados em seus cobertores banhados por um frio de rachar. Não havia outro ciclista, não que tenha visto, mas algumas montarias. No dia seguinte tomei um pobre café da manha e segui pela Estrada dos Romeiros sentido Cabreúva e Itu cruzando os romeiros que se encaminhavam para as próximas missas e a tradicional festa. Fé, churrasco, dança, muita bebedeira; o caminho da felicidade que pela eternidade ira persistir. Para a eternidade também.
Foi uma romaria e tanto. Minha bicicleta que o diga. Deus que me perdoe, mas fé nos pedais!


Aparecida do Norte? Oportunidade do momento. E curiosidade pela festa da Padroeira. Estive duas vezes na Basílica, a primeira ainda em construção e a uns três anos quando dei uma entrevista para a TV Aparecida. Vale a visita, independente da fé ou Fé, como queiram. Por que não Aparecida do Norte e rever os romeiros de outrora?
Primeira tentativa de ir pedalando fracassada. Falta de confiança e calor, muito racha coco, mais que aguento. Meia volta no trevo da rodovia Ayrton Senna com a estrada de Mogi com rabo entre as pernas.
(Quantos não são os medos que nos tiram felicidade ou nos atiram a falsos prazeres da vida? Por que esperar tanto? Por que fazer o que não gosta? Por que não esquecer? Por que fazer o que desagrada?)

Aparecida do Norte 2, segunda tentativa, desta vez pela Dutra. Dutra? Calma, é um passeio, não é pagamento de promessa (pagamento é ótimo). A primeira tentativa, pela Ayrton Senna, teve uma boa dose de pirraça, esta segunda foi toda seja o que Deus quiser. Melhor. Bem melhor, na Dutra.

Pinheiros, Centro, Vila Maria e suas curvas simpáticas que levam até Vila Sabrina e Jardim Brasil (Terminal de Carga Fernão Dias), cruzar pelo viaduto a Fernão Dias para Guarulhos, av. Guarulhos, av. Monteiro Lobato, av. Papa João Paulo I, e deixar o pior da Dutra para trás. O que veio daí para frente foi uma grata surpresa: a Dutra é muito mais fácil e agradável de pedalar que eu poderia imaginar; pelo menos até São José dos Campos. Mais cheia de caminhões, que se diga, mas respeituosos.
Os romeiros continuam mais ou menos os mesmos. Pés doloridos, bolhas, passo torto ou mancado, roupas simples, camisetas comemorativas, algumas bandeiras e uns poucos carregando a Santa ou bandeiras. Boa parte vai em grupo, sempre tempo para longas conversas. Aqui e ali um deita na grama e ali fica com suas dores.

Muitos romeiros caminhando pela pista, mais do que eu esperava. Para “mim”, ciclista, bom e ruim. Bom porque os motoristas ficam muito mais atentos e cuidadosos. Há grandes faixas avisando sobre os romeiros espalhadas pela rodovia. E ruim porque se tem que ficar fazendo ultrapassagens, ou, pedalando mais próximo da pista. Conforme o número de romeiros crescia a situação para mim, ciclista, foi piorando até ficar chata um dia antes do Dia de Nossa Senhora da Aparecida, dia 12 de Outubro, quando os caminhantes praticamente desapareceram e o acostamento foi tomado por ciclistas, muitos deles, zoológico completo.
São uns 180 km, que teria feito em dois dias de pedal com tranquilidade. Tive sorte com o vento fraco e constante de popa. Fiz em três etapas, São José dos Campos, onde parei dois dias para ver amigos; Pindamonhangaba, onde parei numa maravilhosa pousada e andei de trem, e um bate e volta Pinda – Aparecida – Pinda, indo pela Dutra e voltando pela Estrada da Luz, SP 062, estradinha de mão dupla paralela à Dutra com asfalto, acostamento e vista divinos, e bem pouco trânsito.
Segui a recomendação de dois romeiros que já fizeram a romaria umas 5 vezes: se quer tranquilidade chegue em Aparecida um dia antes, de preferência antes do final da tarde. A noite entre o dia 11 e 12 a cidade vira uma festa lotada e muito animada e no dia 12 de Outubro Aparecida vira um formigueiro. Tem gosto para tudo.
2017 será a comemoração dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora por um pescador. Para quem gosta de ver grande festa popular vai ser uma beleza. É bom começar a organizar tudo desde já.

Cheguei em Aparecida dia 11 cedo e ainda peguei a Missa das 9:00 h. Muito tranquila, me fez lembrar a simplória celebração de Pirapora em 1978. Salve Nossa Senhora. Salve Renato Teixeira – “sou caipira pirapora, Nossa Senhora de Aparecida, ilumina a trilha escura, ilumina minha vida...” (maravilhoso)

Quantos não são os medos que nos tiram felicidade ou nos atiram a falsos prazeres da vida? Por que esperar tanto? Por que fazer o que não gosta? Por que não esquecer? Por que fazer o que desagrada?
Fé na vida.


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