Encontrei sem querer este texto foi enviado para a Pedal.com em 2007. Faz uma avaliação sobre como estava a questão da bicicleta e das mobilidades ativas. Publico como complemento, referência e um pouco de autocrítica. Creio que avançamos muito, graças principalmente a mídia social ciclística, mas creio que poderíamos estar muito mais a frente.
Passei
praticamente todas as férias da década de 70 na Argentina e acompanhei a
tragédia que o Peronismo e os Militares fizeram com aquele maravilhoso país. A
população viveu anos acreditando em gente que não merecia crédito nem na mesa
de um bar. Infelizmente vivemos uma situação no Brasil que a mim parece muito
parecida. “Me engana que eu gosto”, esta é nossa verdade. Em nome do social e
de um pseudo-socialismo se faz coisas inacreditáveis e ninguém enxerga ou quer
reagir. Mas, todos sabemos, eles não sabiam de nada. E seguramente somos todos
idiotas – lá e aqui.
Todo
brasileiro é pedestre e o veículo mais usado no Brasil é a bicicleta, com 45
milhões de ciclistas rodando no dia a dia. A frota de automóveis e motos é
menor, assim como o número de usuários, mesmo assim a matemática das verbas
gastas pende completamente para o lado deles. Os governos gastam praticamente
zero com não motorizados. Mas tem gente que ainda acredita que aqueles que nos
enganam que estão falando sério e fazendo algo.
A situação de
pedestres, ciclistas, crianças, idosos, deficientes, e outros não motorizados
nas cidades brasileiras, talvez em especial em São Paulo, é muito ruim por
várias razões e responsabilidades. Uma delas, e crucial no contexto, é a
inexistência de pressão para que se melhore as suas condições de vida. Os
próprios prejudicados desinteressam-se e desconhecem seus direitos, e entendem
como natural o lugar e o poder do automóvel. E no caso dos ciclistas ficam
naquele discurso de “ciclovias”, “capacete” e outras inconsistências mais.
Saber o que está acontecendo de fato e exercer pressão legitima e eficaz nicas!
Mas pelo menos
no caso da bicicleta há luz no fim do túnel. O que deixa feliz é o efeito
“Internet” que vem agregando ciclistas, muitos deles ativistas, e alguns
resultados já estão aparecendo. Mesmo que a informação e discussão gerada por
sites, blogs, e grupos de discussão algumas vezes caia em velhos pecados e
esteja distante da realidade, a quantidade e qualidade do que está surgindo aí
é muito boa. Há algumas lideranças com excelente base de formação e
consistência de posições.
Há uns dias
foi realizada a criação oficial da UCB – União dos Ciclistas do Brasil - http://www.uniaodeciclistas.org.br/
, que aconteceu no Rio de Janeiro. Reuniram-se algo em torno de 70 pessoas, das
mais diversas partes deste Brasil. Algumas fizeram apresentações de seus
trabalhos e ações e o que se pode ver foi qualidade. Mesmo nas conversas
informais era impressionante o nível de amadurecimento da elite pensadora da
bicicleta no Brasil. Bravo!
A UCB vem
completar o triângulo básico necessário para que as coisas andem de fato. Já
havia entidades representantes das indústrias e do setor de bicicleta (http://www.abraciclo.com.br/ ; http://www.abradibi.com.br/ ; http://www.simefre.org.br/ ), organismo
misto do setor e sociedade civil ( http://www.pedalabrasil.com/
); do Governo Federal ( http://www.cidades.gov.br/
) e aos poucos surgem os órgãos municipais. Faltava um representante oficial
dos ciclistas para fechar o tripé e aí está. A base está criada e tem boa
qualidade.
O que nos
falta agora é um “bike advocacy”, um grupo de advogados que trabalhem única e
exclusivamente para a questão da bicicleta e afins. E esta questão está sendo
de novo levantada e agora parece que vai sair. Demora um pouco, mas vai sair. E
aí teremos de fato a base estável, um quadripé. Aliás, não se deve deixar de
fora desta base as entidades internacionais que estão auxiliando muito neste processo.
O próximo
passo é afinar o discurso geral. Descobrir as lideranças e burilá-las.
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