Não foram
poucos os erros que cometi na vida, inclusive tentando ajudar a questão da
bicicleta. Um dos que mais me arrependo foi ter entrado numa discussão inútil,
ter perdido a calma e, mais, ter estupidamente chamado meu tio Zico de
fascista. Zico tem suas ideias e convicções, umas tantas diferentes das minhas,
mas tem uma bela história de vida e muito trabalho, construiu uma solida
relação de respeito social, tem uma empresa muito respeitada no setor cujos
funcionários que trabalharam lá falam bem. Zico partiu praticamente do zero. Quem
tem uma história destas não merece qualquer insinuação de irresponsabilidade
social e menos ainda de ser chamada de fascista. Fascista vergonhosamente fui
eu. Fiz uma estupidez completamente contraprodutiva, tão grave quanto tantas
outras onde a paixão gritou sobre um mínimo de sensatez e bom senso.
São diversas
as razões para eu ter me afastado do meio da bicicleta: minha saúde e
principalmente discordar dos rumos tomados pela maioria. Meu desencanto, ou
melhor, minha tristeza, que virou profunda tristeza, começou com as notícias
que vinham das massas críticas, bem mais agressivas do que eu poderia imaginar,
tanto em ações como em palavras ditas pelos próprios participantes. A gota
d’água de minha desilusão foi o primeiro passeio de ciclistas nus, que no mundo
inteiro é um protesto divertido e pacífico e que aqui desde o primeiro minuto propenso
ao confronto e à bagunça. Acabou na frente da FIESP com Pasqualini levantando a
bicicleta para os jornalistas, uma troca de tapas entre fotógrafos e Pasqualini
preso (Eu estava ao lado de Pasqualini no momento, já contei a história). Se
tivéssemos cruzado a av. Paulista nus e pacificamente silenciosos o protesto
teria virado um marco social e os resultados seriam positivos. A opção mais uma
vez foi enfrentamento e a brincadeira acabou. Depois disto andei participando
de algumas mesas, debates, conversas, mas, com se dizia na minha época, “eu
estava mais para fora que umbigo de vedete”. Senti que tinha virado um velho
chato que dizia coisas que caiam no vazio e me retirei do pedaço.
Uns dias
antes da eleição para Prefeito ouvi de um amigo sobre o manifesto que foi lido
para os candidatos de São Paulo que debatiam no Cine Belas Artes. Contou que o
posicionamento do movimento da bicicleta simplesmente não vai aceitar qualquer
outra posição do futuro Prefeito que não seja a manutenção integral e aumento
de ciclovias e ciclofaixas e a redução ainda maior da velocidade dos automóveis
na cidade; do contrário vai ter massa crítica, (leia-se pau, acho eu). O
manifesto é mais que valido, a segunda intenção não.
Olívio Dutra,
um dos fundadores e um dos mais respeitados e influentes dentro do PT disse
ontem que “o PT tem levar uma lambada forte porque errou”. O erro aqui em São
Paulo foi muito grosseiro, as urnas provam isto. Haddad perdeu feio em todas as
zonas eleitorais (mapa eleição 2016 - São Paulo).
Pior, Haddad só teve votação próxima ao normal em zona eleitoral de “coxinha”,
Pinheiros e outro bairro coxinha que não lembro. Nos bairros mais pobres Haddad
tomou um pau sem tamanho. O (pseudo) socialismo do PT foi completamente
reprovado. Doria ganhou em todas zonas exceto Parelheiros e Capela do Socorro
onde Marta ganhou. Para quem não é paulistano ou não sabe o extremo sul de São
Paulo, onde Marta ganhou, é conhecido como Tatolândia, ou seja, reduto
intocável dos irmãos Tatto, um deles atual Secretário de Transportes e
‘responsável pelas ciclovias’. Mesmo assim o PT tomou pau ali. É maluco, mas
Haddad tomou pau no extremo leste. Uau! O povo deixou claro seu recado.
Não resta
dúvida que uma das inúmeras razões para a derrota incontestável do deste
projeto socialista (?) foi a forma como a administração Haddad chegou aos 400
km de ciclovias. A maioria dos paulistanos quer a bicicleta nas ruas? Quer, mas
não desta forma. Mesmo ciclistas que usam as ciclovias e que elogiam as que são
boas fazem pesadas críticas aos muitos quilômetros de ciclovias sem sentido,
cheias de buracos, mal sinalizadas, implantadas em ruas erradas, com subidas e
descidas absurdas... O discurso dos cicloativistas “faz e depois corrige”, tão
repetido aos quatro ventos, pegou muito mal, muito mal mesmo. A maioria dos
ciclistas votou contra Haddad. Acredito até que a postura do cicloativismo
paulistano mais prejudicou que ajudou Haddad. Perdemos uma oportunidade de ouro
de fazer bem feito, de marcar uma boa posição, de respeitar a bicicleta.
O movimento
da bicicleta precisa entender que se trata da cidade, não da bicicleta, pela
bicicleta e para o ciclista. Bicicleta é uma revolução em si, silenciosa, sem
alardes. Bicicleta é de uma inteligência a toda prova, não precisa de
combustão, de fogo no circo. Foi assim que a história escreveu que “Ao socialismo
se vai em bicicleta”. Melhor colocando aos dias de hoje: “A equidade chega
pedalando”. Vide os índices sociais dos países onde mais se usa a bicicleta.
Apenas quero deixar um ponto que tenho reparado.
ResponderExcluirCiclofaixa, deve ser respeitada por ambos (motoristas e ciclistas) mas alguns ciclistas, estão travando guerra com automóveis, assim como tivemos e temos motoqueiros x carros, e isso é perigoso, pois a carcaça do ciclista é o proprio.
presenciei na Praça Panameircana, com outros e comigo mesmo.
Tem de haver uma educação no transito para o ciclista também.
Não desista Arturo, o Brasil precisa de gente como você. Mais importante que não errar é saber reconhecer os erros e tomar as ações para mitigar ou corrigir suas consequencias. Concordo plenamente com tua conclusão final. A bicicleta não é um objetivo, é apenas um meio. O "ciclo-ativismo" tem que sempre ter em mente o objetivo (equidade, sustentabilidade, meio ambiente, saude, bem estar).
ResponderExcluirGrande abraço!
Eu sempre aprendo com vc Arturo! Nunca desista.
ResponderExcluirCara, você vive nos anos 1950. Normal você se sentir um velho chato que fala coisas que caem no vazio: para mim, você é exatamente isso.
ResponderExcluiralien9, quem está no vazio, pelo jeito, é você. E seu nickname lembra justamente isso. Alienado. O Arturo atua desde 1982 em prol da popularização das bikes como meio de transporte. Ele não me conhece, mas eu o conheço. Seu trabalho inovador como bike repórterme ajudou muito. O Arturo pode criticar com propriedade certos ciclo ativistas porque conhece o movimento e suas mazelas.
ExcluirJá você, alien9, o alienado, poderia nos contar sobre o que você já fez de concreto pelos ciclistas? Ou você só faz blá blá blá?
Gente inútil e idiota, infelizmente, há em todo lugar.
Alien9. Agradeço seu comentário. De fato, tenho a autocrítica sobre o viver no passado; aliás, as coisas hoje passam tão rápido que não faço ideia em que tempo estou. Certamente não faço parte do que deve estar acontecendo, o que quer que seja por que não consigo acompanhar, pelo menos as mídias sociais. Meu celular, sim celular, morreu faz uns dias e estou feliz da vida no silêncio, o que me dá mais tempo para pensar, ler, pensar, olhar, olhar me no espelho, num processo de crescimento e de autocrítica algumas vezes duro, outras felizes. Comprei um smartphone, o que quer que isto signifique, e estou mais feliz ainda por que permanece desligado. Sagrado silêncio com Summer '68, Pink Floyd, de fundo.
ResponderExcluirAo contrário do que disse 'xyz' (não me lembro o nome do pensador) a história não morreu e não morrerá jamais. 1950 não, mas 1970, 1980, 1990, 2000, 2010 como referência e um olhar no futuro consciente que somos todos humanos e que só a história pode nos ensinar a NÃO cair nos mesmos erros. Vide Gandhi.
abraços e novamente obrigado. Vou pensar, aliás, penso. abraço
a maioria nem pedala , só querem causar , chamar atenção , não são ciclo ativistas, são ciclo partidarios que perderam e não aceitam , são cabos eleitorais de bike , triste e carentes de aten~ção
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