segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Ciclofaixa de Lazer av. Paulista e...


É ou não relevante escrever sobre a Ciclo Faixa de Lazer da Avenida Paulista recém inaugurada e tão fartamente noticiada? Eu prefiro bater palminhas de foca, só não sei se para a iniciativa da Prefeitura ou para a postura da população.

A população de São Paulo, leia se classe média motorizada, adora pedalar segregada do ‘perigoso’ trânsito nos fins de semanas. Sente se protegida. A CET concorda. Bicicleta perigosa, motorista malvado!  Isto demanda da Prefeitura a criação de mais ciclo faixas e ciclovias de lazer. Há uma luta de foice entre os responsáveis pelo trânsito da cidade. Uns poucos querem a bicicleta, opção de transporte. Há os que acham que bicicleta não passa de moda e lazer, e os que simplesmente não querem ouvir sobre esta besteira, que é um bocado de gente.

Projetos como estes voltados exclusivamente para o lazer, com hora e local marcados aos domingos, aumenta a pressão sobre técnicos, funcionários e chefes que se recusam a aceitar a opção e direito pela bicicleta, e ao mesmo tempo aumenta a força da demanda reprimida, o que é verdadeiramente um perigo. Imagine se, por alguma razão qualquer, dá a louca neste pessoal domingueiro e todos eles, os aproximadamente 100 mil, decidem no mesmo dia ir para o trabalho pedalando. É uma imagem muito simpática, mas provavelmente seria um caos. A alegação da CET (e autoridades) que as ciclo faixas tem um caráter educativo é historinha para boi dormir, já que na vida real o ciclista jamais vai encontrar qualquer situação semelhante a daquela parafernália de custo alto. Soltar este pessoal no meio do trânsito malvado não é muito recomendável.

Uma das razões para que o povão se sinta tão seguro segregado é que eles creem que numa ciclo faixa ou ciclovia não há acidentes. Não há acidentes? Não é divulgado, o que é outra história. O povão gosta da festa e não quer saber das mazelas. “Tira do meio do caminho (quem está estendido no chão) para não atrapalhar a passagem e vamos em frente que o domingão está bom”.

No domingo do dia 02 de Setembro, na passarela EMAE / Vila Olímpia de entrada/saída para a Ciclovia Pinheiros, um ciclista vestindo  sapatilhas de clipe escorregou na escada e fraturou feio fíbula e perônio próximo ao tornozelo. Urrava de dor. É óbvio que o pessoal passava por cima do acidentado (“Que horror!”) e ia pedalar tranquilo, mas isto é bem Brasil. Uma série de confusões fizeram que o resgate só fosse realizado depois de uma hora e meia. Acidentes acontecem, mas não há qualquer interesse que sejam divulgados. Há muitos relatos sobre acidentes nas Ciclo Faixas de Lazer obviamente não divulgados e menos ainda oficializados.

Eu não gosto destas Ciclo Faixas de Lazer, mas reconheço que poderiam ajudar no processo de transformação da cidade. Eu gosto menos ainda do desprezo que a população, no geral, tem pela sua cidade, pelo seu próximo, e porque não dizer, por si próprio. A maioria quer usar a cidade para seu próprio bem, ou seja, usurpar. Quem é sério, capaz e inteligente dentro da administração pública e quer o bem comum acaba sem apoio e encurralado por esta usurpação. Projetos importantíssimos para os paulistanos, como o sistema cicloviário de bairros da periferia, como Jardim Helena, Grajaú e Brasilândia, onde o número de ciclistas circulando é muito alto, acabam afetados pelos domingueiros; o que por sua vez acaba atrapalhando a implementação de melhorias definitivas para pedestres e ciclistas nas mesmas áreas onde foram implementadas as ciclo faixas de lazer.

Tem opção? Várias. Basta olhar as experiências realizadas em outras cidades do Brasil e de fora. Esta balela que somos diferentes e que aqui não dá certo está entre a burrice, covardia e a pura má fé. O problema é que sempre tem um povo batendo palmas para qualquer coisa que pareça divertido. E assim vamos...

Um comentário:

  1. Arturo,
    Mais uma vez sua análise vai de encontro ao que tenho observado e aos meus valores. Ciclofaixa aos domingos e feriados, nem vou comentar....quanto à ciclovia tenho ressalvas a fazer e na maioria das vezes sou contra. Não devemos segregar, o código de trânsito existe e é muito claro, precisamos somente fiscalizar, educar as novas gerações e punir os infratores, inclusive ciclistas inconsequentes. Para ilustrar voltemos aos seus "post's" enquanto esteve na França recentemente. Abçs e obgd.
    Neto.

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