quarta-feira, 2 de maio de 2012

qualidade do pavimento

Qualidade do asfalto
Foi exatamente um buraco em mais de 3.000 km dirigindo um carro pelas estradas francesas. Sim, exatamente um buraco, passando por todo tipo de estrada, desde autopistas para limite de 130 km/h até estradinhas vicinais bem estreitas onde dois carros pequenos praticamente tocam espelhos. Exatamente um buraco. E só em raríssimos trechos apareceu sinalização avisando sobre irregularidades no asfalto, que para o padrão brasileiro é estrada de boa qualidade. Dá raiva lembrar a condição de nossas ruas, avenidas e estradas.
Lembro da primeira pedalada que dei em Miami. Depois de uns 20 km eu comecei achar que havia algo realmente estranho. Demorei a tomar consciência que o rodar da bicicleta era absolutamente macio, sem qualquer tranco, e depois de quase meia hora sobre o selim ainda não havia sentido sequer um defeito ou irregularidade no asfalto. Foge a nossa lógica tupiniquim.
Aqui em Paris, que parece estar passando por tempos mais difíceis, tive o desgosto de pegar somente um buraco maior, pelo menos para a bicicleta de pneus finos que estava usando. Pouco seria sentido num carro ou moto. Por aqui é relativamente comum encontrar o pavimento com algum tipo de problema, rachaduras, suaves irregularidades, nada comparado com a baixíssima qualidade que normalmente temos em qualquer cidade brasileira. Mesmo quando há paralelepípedo o rodar é bem mais macio, não só por conta do tamanho das pedras, que na França são quadradas e bem menores que as brasileiras, mas também pela forma de assentamento.
Vi várias obras viárias e fiquei impressionado com a grossura do pavimento cortado. Aqui eles cortam a rua e sai um bloco grosso e inteiriço, como um pedaço de boa cocada ou pé de moleque. No Brasil o asfalto sai meio quebradiço, em pedaços bem menores e irregulares, uma espécie de farofa mal feita.
Tenho um amigo que trabalha com asfalto e ele diz que o maior problema brasileiro é que a base da maioria de nossas ruas está subdimensionada para a carga de trânsito que temos hoje e que para corrigir definitivamente só retirando tudo, asfalto, brita, base e tudo mais, e refazendo tudo do zero. Difícil de acontecer.
Qualquer remendo no asfalto Francês tem a qualidade das realizadas em nossas melhores rodovias concessionadas. O resultado final praticamente não deixa irregularidade, degrau, bolha, deformidade ou um novo buraco. O remendo fica absolutamente liso e passa desapercebido. Eles usam uma compactadora mais pesada e com uma área de compactação bem maior, completamente diferente da usada (quando usada) no Brasil que mais vibra o operário que compacta o asfalto. A diferença é da água para o vinho.


Aqui não existe esta história de liberar o trânsito com a obra em andamento, com buraco aberto. Caso tenham abrir passagem eles fecham cuidadosamente o buraco com paralelepípedo, corretamente assentado.
Confesso que não consigo entender como nós, brasileiros, aceitamos algumas coisas. Já passei por vários países e cidades da América Latina, América do Norte, Europa e Turquia (que está entre dois mundos e é fantástica) e o pavimento sempre teve boa qualidade. Não dá para entender o nosso lixo. Não dá para entender nosso silêncio.

Um comentário:

  1. Tua viajem está me dando uma vontade louca de cair no mundo. Ai, que delícia!! Mas meu comentário, mesmo, é que você poderia se dedicar a literatura... você escreve muito bem! Beijos e saudades!
    Prima Ciça

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