sábado, 13 de outubro de 2018

Não pedala no molhado

A quantidade de ciclistas circulando em dias de chuva cai radicalmente. O contador da av. Faria Lima atesta. Normal. Normal? O que há por trás deste não pedala no molhado? Que tal drenagem? Ok, não só, mas drenagem.
Não faço ideia de quem são os responsáveis pelo projeto de engenharia e execução das ciclovias de São Paulo (aliás, não só São Paulo), mas não tenho a mais remota dúvida que perderam as aulas sobre "drenagem". E tem a execução de obra no Brasil que é um tratado sobre analfabetismo funcional, então nem passemos perto desta questão.
Não é necessário ser engenheiro ou ter formação técnica para saber se tem poças na via pedalando você vai chegar em casa com bunda, vai tomar bronca de mamãe ou da mulher porque manchou a roupa. Ou ainda: lavo minha própria roupa. Por isto no molhado pedalo na ponta dos pés arregaçando as calças, sempre que possível evitando as maravilhosas ciclovias paulistanas que fazem jus ao apelido "pantanal paulistano". Não falemos sobre a tinta vermelha que impermeabiliza e escorrega mais que KY.

Não sou engenheiro, mas sou curioso, o que em certas situações vale muito mais que diploma pendurado na parede. Existe uma "coisa" chamada 'coeficiente de escoamento superficial', que por si só já se explica e automaticamente leva ao passo seguinte: bom coeficiente significa ciclovia sem poças. Via de regra deveriam inclinar um pouquinho de nada o piso da ciclovia para a água escorrer para o lado, assim não formando poças. Mas não é tão simples assim, primeiro por que a tropa os especialistas em ciclovias não descobriram esta velha técnica de construção. Uai, mas é lógico que não descobriram; eles só trabalham com sol, param na chuva, como vão descobrir tal fato?

A ciclovia pode ficar seca, sem poças, com uma leve inclinação ou com um piso absorvente. Um professor da USP, doutor em pavimentação viária, deu uma rápida aula sobre o assunto e indicou um tipo de asfalto que tem alto índice de absorção de água. A água desaparece quase como em areia. Provavelmente você já passou por um destes. Mesmo numa chuva mais intensa dificilmente vai formar qualquer poça. O professor completou afirmando sem muito melhor que bloquete, cimento ou concreto. Não sei como é a nossa lei ambiental, se permite ou não asfalto no meio de um canteiro central ou em área verde; lá fora permite e fica ótimo, ninguém reclama, muito pelo contrário. Quanto mais ciclistas melhor.

As ciclovias de Amsterdam têm poça? Sim, tem, uma aqui, outra ali, mas não este pantanal que temos por aqui. O piso de uma ciclovia europeia é bem alinhado, liso, sem ondulações para formar poças, com a correta inclinação e drenagem, e muitas vezes construído com material que absorve rapidamente a água. Eles não têm chuva tropical, mas chove muito. E faz frio. E neva. E eles continuam usando a bicicleta.

É na chuva, quando o trânsito entra em colapso, que a bicicleta é mais eficiente e prazerosa. Olhe a cara do pessoal dentro dos carros e entenderá. Quem pedala no molhado sabe muito bem a diferença que faz uma rua bem pavimentada. A roupa que o diga.
Com uma capa correta, própria para ciclista, e paralamas eficientes dá para chegar em casa limpo. Drenagem em país tropical é complicada de se resolver, mas o que temos aqui é erro grosseiro de projeto e execução. Não falemos sobre analfabetos funcionais. Enquanto digito fico lembrando o absurdo de uma ciclovia em Santos que tem pequenas muretas para proteger o ciclista dos carros e com a menor chuva simplesmente vira um canal aquático de uns 10 cm de profundidade. Perfeito para ciclistas. Metáfora deste nosso Brasil brasileiro.

E aí chegamos ao problema maior: ninguém reclama. Zero. Bom, sendo assim, que fiquem com bunda suja.

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