terça-feira, 5 de setembro de 2017

Saudades do Brasil

Entramos num posto de gasolina numa estrada de Portugal para tomar um café e descansar um pouco. Passei os olhos nos CDs e lá estava "Carminho canta Tom Jobim". Tom Jobim sempre é bom, mas como será cantado por Carminho? Descobri ser maravilhoso. Carminho é uma das mais respeitadas cantoras portuguesas, canta em cima da partitura, mas por sua formação um fundo gostinho de fado polvilhando Tom Jobim. A densidade resultante é impressionante.
Ouvindo e dirigindo pelas estradas portuguesas, lisas, bem sinalizadas, de belas paisagens, ligando cidades limpas, bem arrumadas, com povo cordial e bem educado, quase tive que parar o carro. Foi duro controlar a emoção, o choro. Não só pela intensidade que as eternas músicas do Tom têm e tomaram com Carminha, mas porque começou a passar um filme sobre o que foi o Brasil Bossa Nova, quais eram nossas perspectivas de então, e no que nos transformamos. Como aquilo deu nisto? Onde foi parar aquele Brasil? Pergunta retumbante.
A saber, faz uns 10 anos fizeram um levantamento sobre quais eram as 10 músicas mais tocadas no planeta e Jobim entra nada mais que com quatro, Garota de Ipanema, Águas de Março, Wave e... e... (não me lembro). Beatles com uma, Elvis uma, etc... uma cada. Aquele Brasil ainda atrasado, terrivelmente desigual, mas menos brutal que o dos dias atuais, foi estupidamente desintegrado, incluindo (e talvez principalmente) sua música. 
Murillo meu irmão um dia perdeu as estribeiras com a pasmaceira de alguns de seus alunos e passou a gritar “Sonhem, sonhem, sonhem!”. Perdemos o sonho, perdemos delírio, perdemos a graça, perdemos a paz, perdemos nosso país, o Brasil brasileiro. Com certeza até mesmo para os mais pobres e sofridos. Tínhamos um absurdo abismo social, mas não uma guerra civil sem sentido até dentro do mesmo nível social, da mesma comunidade, entre irmãos. Pior, virou uma guerra civil politicamente correta, sem dúvida a pior de todas. Dá para acreditar neste país?

Ditado chines: A vida é como as nuvens que passam e nunca mais voltam.

Estou lendo a história (real) de bruxos, feiticeiros e afins. O que arrepia não é a carnificina, famílias inteiras virando churrasco, mas como nestes muitos séculos não mudamos nada. 




2 comentários:

  1. Você é muito eclético na sua visão de vida e descreve tão bem suas viagens que faz me sentir fazendo parte delas. Parabéns.

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  2. Você é muito eclético na sua visão de vida e descreve tão bem as suas viagens que faz-me sentir fazendo parte delas. Parabéns.

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