Agora entendei o que
aconteceu. Já haviam me explicado algumas vezes, mas mesmo sendo brasileiro e
paulistano não caia a ficha. “Isto aqui é uma fábrica de loucos”; “O Brasil não
precisa de surrealismo”; “É samba do crioulo doido”... usem a definição que
quiserem porque não vai fugir da verdade. E, finalmente, entendi, ou pelo menos
creio que tenha entendido aceitando o dito antes que eu fique mais louco que já
sou.
Haddad deixou 494 km e
duzentos metros de vias com tratamento cicloviário no Município de São Paulo.
Nestes estão contados o que havia sido implantado em administrações anteriores
e também o que foi implantado pelo Estado e SABESP.
Do que é responsabilidade da
Administração Haddad tudo foi feito sem projeto? Não, mas boa parte foi e
dentro da lei. A sutileza é que boa parte foi implantada como mudança de
sinalização viária. São aquelas que da noite para o dia apareciam pintadas e
taxadas nas ruas. Não se pode chamar o ex Secretário de Transporte e Presidente
da CET Tatto de bobo. A CET tem pleno poder de mudar a sinalização viária. A
questão é quais foram os critérios adotados para esta mudança.
Uma parte bem menor dos 400 km
foi implantada com projeto e, que pelo que entendi, saíram da Secretaria de
Obras do Município. A parte final foi obra das Subprefeituras de então. Diz a
fofoca que quando os projetos ficavam prontos daí é que eram apresentados para
CET sinalizar. E diz a lenda que ninguém se conversa direito. Se não é real não
sei, mas que eu acredito eu acredito.
“O que o Haddad deixou foi a
discussão sobre o uso do espaço viário”, disse Reginaldo, e ele está
absolutamente correto. O inferno está cheio de boas intensões. Mais uma vez
faltou inteligência e sobrou soberba.
São Paulo hoje conta com um
minhocário cicloviário. Não resta mais dúvida que não foi feito um planejamento
integrado nem sequer para a questão da bicicleta, o que dizer para a mobilidade
e transportes. O mapa das vias com tratamento cicloviário que está no site da
CET SP (http://cetsp.com.br/consultas/bicicleta/mapa-de-infraestrutura-cicloviaria.aspx)
até enche os olhos, mas amplie e olhe
com cuidado e verá que a realidade é outra. Será que os ciclistas vão por ali? Quase
caia da cadeira toda vez que ouvi de alguns cicloativistas, até mesmo os mais
ligados às esquerdas (?) que apoiaram Haddad e suas “ciclovias”, que boa parte
dos 400 km implantados nestes últimos anos, provavelmente mais de 100 km, não
servem para nada. Pior, parece que não há dinheiro para manutenção, o que não
duvido.
Quantos ciclistas estão
circulando em São Paulo? Esta é uma boa pergunta. Parece que ninguém sabe ao
certo. A pergunta ou um número ficaria mais interessante se o número de ciclistas
for dividido pelos km de vias com tratamento cicloviário na Administração
Haddad. Mas este é o cálculo correto, ou o único cálculo a ser feito para saber
onde estamos?
A pergunta que todos, sem
exceção, fazem é: E agora, o que se faz com isto?
Talvez uma das soluções para
esta e outras confusões é obrigar as áreas de governo Municipal e Estadual a
conversarem entre si. O mínimo que deveríamos ter é um banco de projetos de todas
Secretarias e Órgãos; e prestadores de serviços. É o mínimo do mínimo.
O tamanho da bagunça? Lá por
2005 fazendo uma vistoria técnica para o projeto cicloviário no entorno de Grajaú
e Interlagos dei da cara com a ponte próxima a barragem da Represa de Billings que
liga Jurubatuba a Interlagos em estágio bem adiantado de construção. Na reunião
seguinte do Projeto GEF – Banco Mundial falei sobre a ponte e o pessoal quase
caiu da cadeira, incluindo CET e Obras. “Que ponte?” perguntou um pasmado e
completou bravo “Não tem ponte nenhuma lá”. Mostrei as fotos e mesmo assim
fizeram questão de ir ver pessoalmente.
Opa, lembrei de mais um
exemplo de nossa brilhante organização: a ciclovia da av. Robert Kennedy, também
em Interlagos, teve três projetos simultâneos, sim, 3, um, dois três. Fez, desfez, faz de novo.... afinal, é dinheiro público. Não foi, não
deve ter sido e mui provavelmente não será o único caso.
Arturo,resgato uma opinião do Milton Santos quando afirma que nunca tivemos planos urbanísticos, porque nunca consideramos o território das cidades, nos restando o que ele chamou de "estética urbana". Por isso esses vários exemplos de pontes que ninguém sabe porque foram feitas - a de Jurubatuba, que V. citou e - muito mais emblemática - aquele viaduto na entrada de Santos, durante anos e anos sem as estruturas de acesso, chamado "carinhosamente" de "elefante branco". No caso das ciclovias, lembro a da Juscelino, inaugurada sem foguetórios e, anos depois, destruída sem lagrimas. Todos os cicloativistas reclamam por um Plano Cicloviário. No entanto, a experiencia da Baixada Santista com seu Plano e seus espetaculosos resultados (a ligação Santos/São Vicente, a balsa do Guaruja) continuam sem muita repercussão, apesar de bem sucedido.
ResponderExcluirArturo,resgato uma opinião do Milton Santos quando afirma que nunca tivemos planos urbanísticos, porque nunca consideramos o território das cidades, nos restando o que ele chamou de "estética urbana". Por isso esses vários exemplos de pontes que ninguém sabe porque foram feitas - a de Jurubatuba, que V. citou e - muito mais emblemática - aquele viaduto na entrada de Santos, durante anos e anos sem as estruturas de acesso, chamado "carinhosamente" de "elefante branco". No caso das ciclovias, lembro a da Juscelino, inaugurada sem foguetórios e, anos depois, destruída sem lagrimas. Todos os cicloativistas reclamam por um Plano Cicloviário. No entanto, a experiencia da Baixada Santista com seu Plano e seus espetaculosos resultados (a ligação Santos/São Vicente, a balsa do Guaruja) continuam sem muita repercussão, apesar de bem sucedido.
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