domingo, 10 de julho de 2011

David Byrne e o futuro das mobilidades no Brasil

David Byrne está fazendo um giro aqui pela América Latina e aqui em São Paulo, no SESC Pinheiros, vai fazer uma fala dentro da mesa “A bicicleta e o futuro da mobilidade”. Compõe a mesa o Secretário de Transportes do Município de São Paulo Marcelo Branco, Eduardo Vasconcellos da ANTP, e eu, com muita honra. Participar de qualquer mesa sempre é uma honra; nesta em particular é mais que uma honra, é fato interessante.

Há uma grande expectativa que David Byrne, aqui no Brasil mais conhecido por seu trabalho no Talking Heads, venha a encher a casa, ou seja, o teatro do SESC Pinheiros, que não é pequeno. E esta é a questão. David Byrne deve encher o teatro.

Já postei um texto sobre Nova Iorque. Estive lá recentemente e estou até agora um tanto embasbacado com o que vi, muito mais pela comparação imediata que faço com nossa, paulistana, brasileira, inacreditável inércia para transformar, mudar, evoluir, responder às demandas do tempo e principalmente as do futuro. Estive em NY em 1994 e depois não voltei mais. Mas tenho recebido constantemente notícias sobre o que está acontecendo lá com a questão da bicicleta e dos pedestres. Antes de ir havia ficado maravilhado com o vídeo e texto do Sérgio Abranches “Ruas sustentáveis de NY” sobre a transformação da 7ª Av. com a retirada de espaço para os carros para a “invasão” de pedestres e ciclistas no leito da própria avenida. Gente sentada em cadeiras municipais no meio do asfalto, ciclovia, floreiras, mesinhas, tudo usando metade do espaço que antes era do automóvel e trânsito infernal. Fizeram e não resultou num caos, muito pelo contrário. Incrível, fizeram e deu certo. Em NY! Não é mole!

Fui conferir pessoalmente e fiquei pasmo com que vi. (Repito com prazer!) A quantidade de espaço que foi tirada dos carros e passada para pedestres e ciclistas, andando, sentados e distraídos, é muitíssimo maior que eu pudesse sonhar. Como toda vez que alguém ia para lá pedia que entrasse numa bicicletaria e pegasse um mapa das ciclovias, portanto sabia que o processo de mudança está sendo rápido, forte e constante. A malha cicloviária de NY cresceu uma barbaridade nesta última década. Nunca vi números comparativos, mas acredito que seja a maior transformação de todas grandes capitais do mundo, batendo Londres, Barcelona, Paris e outras que a gente tanto ouve falar. Mas a coisa não para por ai porque estão recuperando áreas degradadas por todas os cantos. Há projetos curiosos e muito inteligentes como a transformação de uma linha férrea aérea em bulevar para pedestres junto com toda a área no entorno. Mágico! Mas o que impressiona mesmo é que a cidade está incrivelmente mais leve. É visível que as pessoas estão muito mais leves, felizes. NY está indo para frente, para o futuro. A transformação não se restringe só a estes locais, mas reflete em toda Manhattan. NY é hoje muito agradável, completamente diferente da cidade de 1994 onde não se podia andar em paz nas ruas e cheia de áreas proibidas.

E penso como as coisas acontecem por aqui. A transformação humana de São Paulo é praticamente zero. As cidades brasileiras começam a sofrer as conseqüências da irresponsabilidade daquela tropa pseudo-socialista, com-certeza-sindicalista-populista que comanda o país e que acha e propagandeia que salvou a pátria da crise mundial via carros quase de “grátis”. Lê-se notícias de ex-cidades calmas lá nos cafundós sofrendo com congestionamentos absurdos. Morrem pedestres às pencas, também motoristas, motociclistas, morre todo mundo. Quem se danem! E o transporte coletivo foi para o brejo, investimento pífio, resultados ridículos. Mas a economia foi salva (a maioria acredita) e todo e qualquer um pode ter o conforto de seu próprio carro. A cidade brasileira involuiu incrivelmente num espaço de tempo muito curto. Socialismo puro! O sonho de humanismo é das montadoras.

No SESC Pinheiros minha fala será curta, 10 minutos, e eu terei que me controlar, o que vendo o que vejo no dia a dia é bem difícil. Vou agradecer a presença do David Byrne, do auditório cheio, mostrar fotos do que vi em NY (adoro falar sobre isto - não custa sonhar), falar rapidamente sobre o que deve ser mobilidade, e terminar perguntando quem gostaria de se inscrever para uma possível palestra de Meli Malatesta. (Silêncio.....) Quem é Meli Malatesta? Meli é hoje a responsável pela questão da bicicleta na cidade de São Paulo. É, em última estância, quem manda no pedaço. Sempre que falo isto ela nega, dizendo que as coisas não são bem assim, mas as leis federais que regem a assinatura técnica dizem o contrário. Será que teremos um auditório tão cheio para ver Meli?

Eu não acredito que nós, ditos cidadãos paulistanos (ou qualquer brasileiro), tenhamos interesse em gastar nosso tempo para entender, pensar, discutir e propor um futuro para nós próprios. A mobilidade que existe dentro de cada um de nós vai da casa para o trabalho e volta, e eventualmente para algum lazer. De preferência de carro. Construir uma cidade humana onde as crianças possam andar nas ruas com total liberdade não está em pauta.

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