
Ouvi pela Rádio Eldorado este editorial do Estadão e dei pulos de alegria aos urros de "Bravo! Bravo! Bravo! Bravo!...". Como o Estadão não permite a leitura de não assinantes fiz uma molecagem e printei o texto, que segue no final.
Não sou jornalista, mas gostaria muito de sê-lo. Não tenho os quesitos necessários: ter a neutralidade investigativa obrigatória e um texto rápido, preciso e conciso para expor o que foi investigado. Sou emocional, quando o jornalismo obriga a uma frieza racional.
Pela quantidade de textos meus publicados na grande imprensa, que começou com uma coluna no Estadão, "Guidão e Pedal", 1987, eu poderia (passado) ter um documento que me atestasse "jornalista". Não quis, mesmo desagradando alguns jornalistas conhecidos e profissionais do meio de comunicação que me chamaram de "bobo", dentre outras. Não considerei, como ainda não considero honesto. Sou, quando tanto, um..., boa questão, um maluco que escreve. Colunista, articulista, comentarista, blogueiro (?!?), e outros tantos adjetivos, já me chamaram de tudo. Fato inequívoco, para minha tristeza, é que jornalista não sou, mas tenho uma inveja deles... Hoje me esforço para investigar, melhor, pesquisar o que escrevo, mas isto está longe de jornalismo que tanto invejo, repito.
Neste meu desabafo está muito do vejo no jornalismo, e não é de hoje.
Dei pulos de alegria com este editorial do Estadão porque coloca o dedo na própria ferida.
Imediatamente lembrei de um passado, durante a ditadura, anos de chumbo ou periodo militar, como queiram, quando em casa líamos no mínimo o O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, o Jornal do Brasil obrigatoriamente aos domingos, vez ou outra com certa frequência a Folha de São Paulo. Meu irmão, Murillo, ouvia notícias nas rádios e ainda víamos alguns noticiários de TV. Muita coisa? Não. Procura por detalhes que tentasse dar uma noção mais acurada do que realmente estava acontecendo. Diversas versões do mesmo fato, isto que interessava, e é isto que deveríamos estar interessados agora e sempre.
Jornal O Globo líamos raramente. Bobagem nossa. O Globo tinha textos longos, muito mais longos que os outros jornais, com muito mais detalhes sobre os acontecidos. Ali era preciso garimpar e filtrar informações preciosas. Globo era tendencioso? Na acepção da palavra, provavelmente não mais que os outros. O Globo era tido como jornal chapa branca, o que talvez não fosse o tanto quando julgávamos. Estávamos atolados neste estupidez de a favor ou contra, aliás, lembrando e rindo, "Brasil, ame-o ou deixe-o", nada diferente o que temos agora, muito menos histérico e ridículo com certeza. O julgamento estava, como segue, ainda mais agora, muito comprometido, julgamento muito fundamentado no que o jornalismo trazia.
Neste editorial do Estadão estão números que apontam, segundo pesquisa, para mais de 80% dos jornalistas como de esquerda e boa parte tendenciosos em seus textos. Minha experiência de vida, como alguém que esteve no meio deles e foi bem entrevistado, os resultados da pesquisa não surpreendem.
Temas como sistema cicloviário, transformação da cidade, desenvolvimento urbano, mobilidades, explosão imobiliária, meio ambiente, saneamento, educação e violência, para citar os assuntos que me interessam e sempre procurei me informar, foram e são tratados de forma raza ou, pior, tendenciosa. Principalmente no que diz respeito à bicicleta, ao ciclista, e sua segurança, que foi meu objeto de trabalho por mais de 30 anos, o jornalismo realizado é simplório, para dizer o mínimo. Para falar ou escrever sobre estes assuntos, os que se apresentaram (e seguem se apresentando) como jornalistas colheram (e seguem colhendo) de fontes viciadas que davam sustento aos próprios medos e angustias. As inúmeras possibilidades de ganho que a bicicleta poderia ter oferecido a um melhor desenvolvimento urbano e social foram distorcidas e o resultados está ai. Jornalistas divulgaram o mesmo do mesmo, e afirmo que não foi jornalismo.
A especulação imobiliária traz uma série de questões e dúvidas que nunca foram abordadas, não entendo por que. Sacaneando: será porque uma posição mais crítica colocaria em risco precisos anúncios? Creio ser possível fazer a mesma pergunta sacana, mas talvez não impertinente a vários outros temas sensíveis.
Fato é que existe um forte corporativismo no jornalismo, meio tipo "ou você está junto, fala em coro, ou está fora, não fala mais". Não sei como, mas tem que acabar imediatamente.
Não tenho a mais remota dúvida que uma das saídas para a estúpida crise geral que vivemos está num jornalismo investigativo, neutro e com espaço de redação suficiente para textos que nos façam pensar e questionar com fundamentos.
Para mim, um dos piores momentos da imprensa foi o "padrão Folha (de São Paulo)" que impunha regras a todos seus jornalistas e quem mais escrevesse para o jornal. Fui convidado para ter uma coluna de página inteira, escrevi, para meu horror o texto publicado foi todo deformado por um ignorante sobre o tema, bicicletas; e assim tive o imenso prazer de entrar na redação e mandar o editor chefe enfiar a coluna no cú (na época cú com acento e sem politicamente correto), e algo mais. Quando cheguei em casa recebi uma ligação de um dos principais jornalistas perguntando se eu tinha feito o que fiz, respondi que sim, e tomei uma das maiores descomposturas de minha vida, que a recebi às gargalhadas. Hoje este jornalista ri comigo.
Enfim, "padrão"? Textos sob medida, curtos e de fácil leitura? E o jornalismo, onde fica?
A saber, tenho orgulho de ter desbocado com vários outros meios jornalísticos. Há limites para tudo.
Bravo! Bravo! Bravo, Estadão. Parabéns pelo editorial. Salve o jornalismo! Eu disse: o jornalismo!





Nenhum comentário:
Postar um comentário