terça-feira, 26 de novembro de 2024

Continuam os roubos em cemitério

O Estado de São Paulo
SP Reclama
Fórum dos Leitores

Esta é a primeira vez que entro no Cemitério da Consolação e tem um segurança na porta. Agradeço a quem tomou a providência, mas ou chegou tarde ou não foi capaz de evitar o roubo de placas, detalhes e esculturas de bronze. Olhando em volta do túmulo de minha família descubro que fizeram uma rapa completa. O belo baixo relevo redondo num dos túmulos foi-se e todo resto que puderam encontrar. É simplesmente inacreditável que ninguém ouça o barulho de uma talhadeira. Deprimente.

Incrível que, mesmo sendo crime continuado, e faz muito, não se tem uma notícia sobre investigação, sobre os receptadores, e nem onde vai parar a barbaridade de material já roubado dos cemitérios ou de fiação elétrica, entre outros.

Sobre o pedaço da escultura de  400 kg de bronze do   monumento histórico a Carlos Gomes, nem palavra. Ninguém viu, ninguém sabe, tudo indica que já foi esquecido. A histórica escultura sem um importante pedaço virou arte moderna devem pensar as autoridades.

Tal qual o monumento a Carlos Gomes, talvez a próxima peça de bronze a ser roubada seja uma das belíssimas esculturas que decoram túmulos, mais ou menos do mesmo peso da peça roubada da homenagem ao genial músico.  
Ou talvez alguém já tenha descoberto que as escuturas maravilhosas de Victor Brecheret que ornam alguns túmulos, peças em pedra bruta de algumas toneladas, podem ser vendidas no mercado paralelo. Basta parar um caminhão com um guindaste dentro do cemitério que ninguém vai perceber. 

Um dia saiu uma matéria que afirmava que numa noite tinham sido roubados 4 km de fios de cobre de uma das linhas da CPTM. Como assim? Sobre as investigações, ninguém sabe, ninguém viu. Roubar túmulos deve ser muito mais seguro que pendurar-se em torres eletrificadas para roubar fios eletrificados. 

O túmulo em questão é de ninguém mais que do Educador, Sociólogo Fernando de Azevedo, que também poucos sabem quem foi, o que fez. Mesmo antes de morto o cidadão que fez história desaparece neste país. Morto então é um igual a qualquer um que nos cemitérios estão, não faz diferença nenhuma, não importa se teve ou não relevância para este Brasil. 

A beleza e a qualidade cultural de nossos cemitérios foi impressionante. Foi, há muito. Quem se importa? Vários cemitérios italianos são patrimônio histórico e alguns, como o de Gênova, geram boa receita com turismo. Os nossos estão mortos.

Outro dia inauguraram mais um museu em São Paulo, dos o dos Livros Esquecidos. Não pude peder a oportunidade de perguntar quando vai pegar fogo. Faz todo sentido. Museu Nacional, Museu da Lingua Portuguesa, outro dia o Museu da Casa Brasileira, dentre outros tantos que desapareceram pelo fogo, roubo, por cair aos pedaços, por não ter espaço para seus acervos, pelo simples e completo desprezo, que o digam. 
Bronze de cemitério? Já ouvi que só serve para dar um prato de comida aos desabrigados que pulam o muro. Pelo preço do bronze deve ser no Casserole. Boa definição do que pensam alguns sobre como corrigir nosso desastre social.   

sábado, 23 de novembro de 2024

Mortes no trânsito








O Estado de São Paulo 
SP Reclama 

Rádio Eldorado FM 

Os semáforos continuam a ser sabotados, agora mais. Alguém continua mudando a posição dos focos de maneira a confundir o trânsito. Isto ocorre há muito tempo e ninguém faz nada, mesmo que o perigo criado seja muito alto.
Enquanto alguém importante ou uma autoridade não morrer em consequência desta "brincadeira" assassina parece que não acontecerá nada. Nem notícia.

Não é de se estranhar. O número de acidentes no trânsito, muitos graves, só aumenta, e não se faz nada como sempre nada se fez. Dizer que fizeram campanhas, que as autoridades agiram, tomaram providências, o que quer que seja, pode e deve ser colocado no campo da falácia porque o resultado aí está. Me lembro que faz uns 20 anos, foi divulgado que São Paulo, a cidade, ocorriam em média 70 atendimentos de motociclistas acidentados in loco por dia, ou seja, atrapalhando ou parando o trânsito, fora os absurdos custos hospitalares. Não se fez e continuamos a não fazer nada, pelo menos que sinalize que venha a ser produtivo e que os números realmente caiam. O que ouvimos normalmente, são falácias, bem ao "me engana que eu gosto".

Atacar a questão de trânsito, dentro da seriedade de problemas que temos, só vai apresentar resultados sensíveis quando o planejamento olhar e respeitar a realidade. A lei e o CTB são as diretrizes, mas não raro mais que desconhecidas e descumpridas, pouco ou nada servem no combate à mortandade que vivemos. Interessa o que o motociclista em geral pensa, quais são seus erros conceituais, o porque ele pensa daquela forma e o levou ao acidente, ou antes deste ao incidente. Interessa saber quais foram as causas precisas do acidente, não uma falácia de causas prontas para entreter a platéia. 
Ou se olha a realidade, ou nunca resolveremos a questão. As autoridades já mais que provaram que na base de sua realidade é que vale, e nossa história vem provando que a realidade do que está nas ruas é definitivamente outra. As mortes no trânsito que o diga.
Ou se encara a realidade ou o país do futuro será sempre o lugar do tem lei que cola e lei que não cola, o que garante a tranquilidade do emprego público de muita gente e todo o resto que se dane.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Mulheres tem medo de se deslocar a pé




Insegurança faz com que 97% das mulheres temam se deslocar a pé

Para
Rádio Eldorado
SP Reclama - Estadão 

Bom dia. Pura verdade. A violência no Brasil perdeu as regras e limites que toda criminalidade normalmente se impõe. Assaltar mulheres de baixa renda que saem para o trabalho de um ponto de ônibus de periferia, sendo que os assaltantes são vizinhos, filhos de vizinhos conhecidos, como já ouvi mais de uma vez, ultrapassa e muito o que se pode chamar de absurdo. E ninguém faz absolutamente nada, nem as autoridades, nem a própria comunidade onde vivem assaltadas e assaltantes. O medo impera. Ninguém sabe, ninguém vê, ninguém ouviu.

Ontem, na porta de uma academia de bairro rico, perguntei a uma jovem onde morava para pegar um Uber. Seis quarteirões dali, respondeu ela, e não ia a pé por medo.
Respostas como esta são regra. Medo!

Equilíbrio e justiça social de um país só são viáveis quando a cidade oferece condições para isto. Um é reflexo e produto do outro.

"São Paulo não pode parar", velho lema dos paulistanos, da forma como vem acontecendo é bem mais que um tiro no pé. A idiotice do desenvolvimento urbano desenfreado que se vem praticando por aqui vem há muito causando distorções sociais que nos recusamos a ver. O mundo inteiro tem provas cabais que o modelo não é este, e não é de hoje. Mas quem se interessa? Acham lindo, um progresso. Sim, continuamos progredindo para uma cidade de cada vez mais guetos, ricos, médios e pobres, onde cada um cuida do seu. Medo!

O primeiro passo para qualquer futuro digno é vender a ideia que somos todos paulistanos, sem selfies. Paulistanos!, não indivíduos que usurpam para si a mesma cidade, ou melhor, o mesmo espaço urbano, o seu espaço urbano.

São Paulo deixou há muito de ser uma cidade. Nos recusamos ver, tudo em nome de nossa ilusória segurança individual. Deprimente, e burro.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Foi-se meu karma

Terminei de tomar o café da manhã, olhei para o leito e me perguntei "Ué? Não está respirando?" Fui até ele, coloquei a mão no seu peito. Sai do quarto, fiz sinal discreto com as mãos para o médico sinalizando que parou, ele respondeu também com as mãos sem fazer alarde, levantou se e me acompanhou, entrou no quarto, colocou o dedo no pescoço e com cara de espanto disse " Foi. Não esperava que fosse tão rápido". Foi-se meu karma, o mais pesado de minha vida.

Mesmo com todos problemas que tive com ele pela vida, e foram muitos, frequentes, alguns para lá de desagradáveis, as pernas deram uma amolecida. Sinto profundamente pelo que foi. 

A dimensão do que aconteceu pode estar numa resposta que ouvi várias vezes pela vida de amigos próximos dele: ¨Não sabia que Arturo tinha um filho¨. A última foi numa reunião entre amigos aviadores dele quando quem falou a mesma frase quase caiu da cadeira com a descoberta depois de mais de 60 anos de convívio.

Não faz muito o apartamento dele ficou sem internet durante alguns dias. Quando fui avisado, fui até lá, peguei os documentos necessários para religar tudo, tomei o elevador para a garagem, quando abri a porta dei com meu tio que me deu um esculhambo sem tamanho. ¨Você quer matar seu pai?¨. Coisas de família. Só fiquei chateado de não ter respondido que ele, meu pai, como pai, estava morto desde antes de 1966, quando se separou de minha mãe e saiu de casa. Os anos seguintes, sem ele por perto, foram os mais leves e tranquilos daquele momento de minha vida, sem nenhuma discussão dele com meus irmãos, filhos do primeiro casamento de minha mãe, viuva, nem com ela se trancando no quarto por causa de enxaqueca, que minha irmã dizia ser sempre curada com bife gelado.

A primeira surra a gente não esquece. A bem da verdade, eu não me lembro, mas tenho claro o primeiro espancamento, e o pavor que passei a ter dele depois disto. Confesso que de anjinho eu tinha nota zero, e que a razão para a feroz e desproporcional surra foi minha primeira suspensão, ainda no pré-primário. 
Da segunda escapei com a intervensão do braço forte de minha mãe, que conseguiu segurar o punho fechado dele ainda no ar. Pelo menos reagi e deixei claro que por mais aquela reação desproporcional ao meu acidente de carro, causei uma batida, ficaria dois anos anos sem vê-lo, e assim o fiz. Eu tinha 16 anos e até os 18 foi uma paz. Por causa da pressão de toda família, principalmente minha avó, mãe dele, acabei num restaurante, de merda direi, para uma sincera conversa pai - filho. Desde restaurante italiano, ou dito italiano, que felizmente fechou logo depois, e da conversa, que ele falou muito, lembro de uma das sacadas boas que tive na minha vida: ¨Me diz uma coisa, quem é o adulto aqui?¨. Não podeira estar mais certo. Ele enfiou o rabo entre as pernas. Anos depois descobri que os mais próximos da família dele o chamavam de "eterno adolescente". Nada mais real. 

Hoje tanto se fala de bulling, inclusive sobre bulling familiar. Sei bem o que é isto. Ou não terá sido isto? Certo é que ele competia comigo, coisa da cabeça dele, não minha. 
Uma vez, voltando do Guarujá, ele no seu potente SP2 e eu no Fuscão de sua mulher de então, no meio da Serra do Mar me encheu o saco da lerdeza dele, passei e sumi. Não imaginei que seu ego de brilhante motorista, ou piloto, ficasse tão afetado. De novo, não tomei uma surra porque a divina senhora o conteve. 
 
O filho que ele gostaria de ter tido sei bem quem seria porque ele nunca teve qualquer constrangimento não só de apontar quem eram, mas chamá-los de filhos para toda plateia presente. Ciumes meu, dirão? O que houve antes de 1966 e a separação de minha mãe foi bem pesado, supera, melhor, apaga qualquer outro sentimento. Ciúmes? Eu pensava: vai firme que o pai é teu.

Ao que aconteceu comigo juntou-se o que ocorreu com minha mãe e o que pela vida foi ocorrendo no relacionamento com suas outras companheiras. Sempre me questionei se não havia um exagero por parte de minha mãe, mas não, a prova conclusiva veio com o encontro de minha babá faz uns poucos anos. E, mais cômico,  com as próprias histórias que ele contava de sua vida nestes últimos anos. O que minha mãe contou bateu palavra por palavra.
Os jantares de quintas-feiras tinha este confessar inconsciente que tirou um monte de fatos pesados do limbo da raiva para os campos da comédia. 

Ele era um monstro? Definitivamente não. Vou defini-lo como um tanto pragmático para sí próprio. Com a maioria das pessoas era um doce, uma pessoa adorável, querida. Também tive estes momentos, mas recheados de estupideses completamente dispensáveis. 

Sei quem sou e sei muito bem quem fui. Nestes poucos dias pós sua ida fiquei relembrando e, pós perda, buscando culpas, razões e etc... A bem da verdade, não soube me posicionar e reacionei muito menos que o necessário, e não raro da forma pouco apropriada para o momento. No final da vida dele, quando finalmente ele baixou a bola, eu até quis conversar, passar a limpo, mas já não era mais tempo, passou, acabou, portanto tenho que engolir o que foi e ponto final. Defino isto como o karma do karma, o não poder vomitar. 

Da mesma forma que simplesmente apagou de minha memória os tempos que ele ainda estava em casa, casado com minha mãe, espero que a maluquice pesada desta nossa vida se apague na minha cabeça. Os bons momentos que ele me proporcionou, que existiram, ainda estão vivos. Afinal, como esquecer um razante de avião na rua Augusta? Sim, verdade. PT BDU, ou Bidú, o apelido do maravilhoso Aero Comander 560U vermelho e branco.

Teve e tem piores, muito piores, muito piores mesmo, gente com uma capacidade destrutiva sem tamanho. Não foi o caso dele. A vítima dele, se é que se pode chamar assim, foi o filho, eu no caso, o único filho, pelo menos que se saiba até aqui. 
A psiquiatria ou psicologia criou um termo para definir a personalidade dele: frienemy, ou o amigo-inimigo. Encaixa perfeito. A mulherada que passou pelo seu mel pelo menos saiu da piração encantada com as qualidades dele. Como disse sabiamente uma delas ¨amor emburrece¨. Sacada genial, a mais pura verdade.


Frienemy ("Frenemy" is an informal term that describes a person who is both a friend and an enemy, or pretends to be a friend but is actually an enemy)

Vá em paz e por favor comporte-se com as mulheres que encontrar aí em cima ou lá em baixo. Lá em baixo acho que não vão se importar muito, mesmo assim, onde quer que esteja veja se deixa a adolescência para trás.

A bem da verdade entender uma brincadeira ou piada nunca foi o seu forte.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Prolongar a vida e o business da medicina

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

50 atrás participei de minhas primeiras reuniões "ecológicas". Naquela época a maioria não fazia ideia do que seria a palavra e sua importância vital para o planeta e todos nós. A discussão dentro da sociedade era praticamente zero, quando não, motivo de piada. Deu no que deu, neste desastre sem precedentes e sem solução. 
Hoje se sabe que o problema é  ambiental, muito mais amplo e sério.

Mais uma vez estou num hospital acompanhando um familiar idoso que vai ser "ressuscitado" para ter uma "vida normal".

Estou revivendo mais uma vez exatamente a mesma história de 50 anos atrás. Óbvio que esta política de manutenção da vida não dará certo. Os números e a curva de faixa etária provam. 
Não discutir racionalmente o que é morte, qual o ponto de se deixar a vida ir, é tão irresponsável, tão inconsequente, tão perigoso quanto foi a cegueira ambiental daqueles anos passados. Repito, os números, a verdade, está aí para quem quiser ver.

Aliás, aos jornalistas pergunto: como é a matemática financeira do sistema de saúde privado em relação aos mortos vivos? Assim os chamo com conhecimento de causa e respeito à verdade.

Por que é para que o sistema está funcionando desta forma? Perguntas que não querem calar no país de uma farmácia em cada esquina.

Por que não investigar e tornar público a questão?

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Jornalismo e credibilidade


Com profunda emoção leio este texto de Carlos Alberto Do Franco, no Espaço Aberto do Estadão, sobre os caminhos para se recuperar o jornalismo. Acerta na mosca quando diz que passamos e muito do ponto de se fazer jornalismo, investigar além das fofocas ou do que atenda às próprias crenças e verdades, o que infelizmente vem sendo muito frequente. Passou muito do ponto de ficar ouvindo sempre as mesmas fontes e seus mesmos princípios, pensamentos e verdades. Além de chato, por repetitivo, é desinformativo. Faz muito que o "E aí, o que mais?" sumiu da pauta.

(A imprensa) "...cada vez mais falamos apenas com uma certa elite. Cada vez mais falamos com nós mesmos", está no texto, pura verdade. A comprovação está na eleição de Trump, como mostram os resultados. Foi, dentre outros, um voto de desconfiança ou desinteresse no discurso fechado desta mesma elite que lê a grande imprensa, portanto o jornalismo mais apurado, profissional e que trabalha dentro de critérios sérios.

De minha parte, como alguém que estudou sobre transformação da cidade e seus cidadãos pelo uso da bicicleta, sei bem o que o artigo trata. 
A baboseira da cabeça dos jornalistas, associada a seus medos infantis, nunca foi capaz de ouvir e respeitar a ciência e as experiências internacionais. Para eles capacete e ciclovias fariam a revolução, e são a resposta incontestável para a segurança do ciclista. É mesmo? Que revolução? Esta que está aí? Nunca foram capazes de ler ou se informar corretamente o porque da bicicleta, o para que a bicicleta, o que se fez correto lá fora. Nunca se interessaram pelo que diz a história e a ciência. Olham o próprio umbigo e ponto final, texto feito e publicado.

Cito a questão da bicicleta, que é exemplo batata para mim, mas o mesmo acontece com vários setores de nossa vida que são divulgados pela imprensa. A questão da violência que o diga, é ótimo exemplo. Eliane Cantanhede, por quem tenho todo respeito, ficou espantada quando descobriu ao vivo na Globo News que a coleta de dados sobre crimes não é uniformizada entre os Estados e que este é um sério problema para a segurança pública. Como assim não sabia?

E daí? O que mais? É o que falta ao jornalismo. 
Aqui cito outro ponto sobre a baixa qualidade do jornalismo que se pratica no Brasil: jornalismo não se aprende na escola. O verdadeiro jornalista tem alguma coisa fora do comum que aqui brinco a sério: jornalista de verdade é um cão farejador de primeira. Só ele sabe onde estão as trufas. É de se tirar o chapéu.

sábado, 9 de novembro de 2024

Violência sem limites

Rádio Eldorado FM


Não só o número de casos de assaltos e roubos têm aumentado, mas a forma como ocorrem.

Sempre houve uma espécie de regras e limites mesmo entre a bandidagem. Sem dúvida não há mais.

O que realmente está acontecendo?

Onde e quando os acordos subterrâneos entre poder público e bandidagem deixaram de funcionar? Por que "o desta linha vocês não passam" simplesmente não está funcionando?

A verdade é que estamos ou nos permitimos estar a mercê de duas bandidagens, uma deprimente política e outra dos ditos bandidos ilegais.


O assassinato a tiros de um denunciante em pleno aeroporto internacional diz muito sobre onde estamos.



sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Fascistas, fantasias politicas, e a nova era

Num agradável jantar em Roma, no meio de gente da esquerda, alguns bem esquerda, subiu a discussão sobre se deve ou não usar o termo fascista para designar algumas figuras.

O artigo abaixo esclarece.


Dois artigos sobre a eleição de Trump e derrota Democratas.



Um tio, gente grande como editor, um dia disse para não ser exagerado na escrita, mas dizer que estes três artigos do Estadão são brutais não é nenhum exagero. 
Esta eleição nos USA define um antes e depois, e o título "Bem vindo ao mundo de Trump" é muito mais acertivo do que possa parecer.
De minha parte diria: esqueça tudo que você sabia. 

Infelizmente o Estadão não dá acesso a não assinantes. A leitura destes três artigos é formativa para uma nova consciência.

Para terminar, fotografei este quarto artigo publicado, sem autorização do Estadão. Que me perdoem, mas é de tanta importância que aqui vai.

Se for ler, antes vai uma tirada de sarro minha ao "libelu" desta vida.
Quando estavam fazendo as primeiras reuniões para a formação de um novo partido político, isto lá na segunda metade dos anos 70, pedi para acompanhar uma amiga da faculdade que estava participando. A resposta dela foi profética:
- Não levo porque você usa mocassim. 

A ironia que vem deste quarto artigo do Estadão é que ele mostra, ou prova, que a revolução social,  a verdadeira, a que veio do povo, de baixo para cima, e não comandada por ditos heróis, ou uma elite ou um grupo fechado em si mesmo, aconteceu no país dos "canalhas capitalistas", como dizem os até ontem revolucionários do e para o povo que seriam seguidos por suas boas ideias. E este recado revolucionário vindo do povo se consolidou através do discurso completamente disparatado, agressivo, criminoso. Ou seja, os que cacarejam suas histórias prediletas como verdades absolutas que guiariam o povo para liberdade deram com os burros n'água.

Não é a história que está sendo reescrita, o que é mais que pertinente quando necessário e honesto, mas o futuro do planeta. 
Peço desculpas às gerações futuras. Errei grotescamente.

Fico triste que uma caminhada digna esteja terminando ou tenha terminado com esta eleição americana, mas falo há tempo que meios e forma não eram adequados. Esticamos demais a corda.
Repito: olhe-se no espelho. 

Sou de esquerda, mas digo que há uma imensa diferença entre populismo de esquerda e projeto realista de responsabilidade social e ambiental que evite vôo de galinha. 

Dizia minha mãe, e repito aqui:
- Não interessa o que você pensa. Me interessa o que os outros pensam de você.

As esquerdas têm suas verdades inabaláveis. As inconsistências são e sempre foram patentes. O resultado está aí para quem quiser ver.

Daqui para frente será uma trabalheira reverter está loucura. Espero que este mundo novo sirva de lição para não repetirmos os mesmos grosseiros erros.





Sentir-se seguro, ser seguro. Tem diferença

Sentir-se seguro e estar seguro: é bom não misturar as coisas.

Ciclismo é essencialmente técnica. Quanto mais você se atem a técnica - correta - mais seguro você está.
A bem da verdade, "Não é a bicicleta que é insegura, mas qualquer veículo mal conduzido é inseguro"; usando as palavras de meu caro amigo Luiz Dranger. Ele costumava tirar um sarro completando "faz besteira num tanque de guerra para ver a merda que dá".

Capacete, luzinhas piscando, ciclovias, e tudo mais que possa ajudar na segurança do ciclista. Ajuda? Óbvio que o sujeito sente-se mais seguro, mas será? As pesquisas são absolutamente claras: uso de capacete aumenta em 17% a possibilidade de acidente. Não faz sentido? Faz. Simples, capacete faz o ciclista sentir se mais seguro, e sentindo-se mais seguro faz dele mais propenso a acidentes.

Não é o sentir-se mais seguro, mas o ser mais seguro que vale. Há uma diferença enorme entre as duas situações. Mais um pouco chego aos 50 anos pedalando praticamente direto, diariamente e com boa quilometragem. Estou farto de conhecer ciclista que bate o pé que faz tudo certo, mas vira e mexe sofre acidente. Óbvio que os outros sempre são os culpados. 

Pensando neste texto lembrei de quando tornaram obrigatório o uso de cinto de segurança e muita gente dizia que não usava porque se caísse num lago com o cinto preso morreria afogado. Quando perguntado sobre quantos carros haviam caído num lago ou córrego, a resposta era imediata: "sem cinto me sinto mais seguro". 

Num pais onde a individualidade é essencial, quanto mais se chama a atenção melhor e se poderá fazer praticamente tudo sem punição, fazer o que se deve fazer é mais que chato, é um risco social. 
Brasil tem índices altos de acidentes de trânsito porque o "eu sei o que estou fazendo" vale mais que tudo. 
Segurança definitivamente não tem nada a ver com eu, mas tudo a ver com nós, com o jogo coletivo, com regras que foram aprendidas por muitos. Deu certo para um ou dois é eventual, deu certo, foi bom para muitos tem tudo para ser o caminho certo.

Seja seguro.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Roubo chique é outra coisa?


Bom dia. Quer um símbolo muito explicativo do que o Brasil se transformou?

Não entendeu? Então veja e verá o cadeado para evitar roubo.

Este aparelho está instalado num dos hospitais top da rede Prevent. Aqui só circula classe média alta ou funcionários diferenciados. O detalhe bem explicativo deste Brasil é o cadeado auto-explicativo.

No café do hospital conversei com dois senhores, ligados ao sistema, que confirmaram o uso obrigatório de cadeado e outros sistemas para evitar roubo. Já aconteceu de levarem a bóia da descarga, tampa de privada, etc...

Que vergonha!
Todos querendo um país melhor, menos violento. Responsabiliza se a população mais pobre. Seria bom reavaliar a realidade. Os que estão por cima tem a obrigação de dar o exemplo. Não é o que ocorre.

Estive por um mês e meio em Roma, Itália, morando nas redondezas da estação Termini de trens, área normalmente mais tensa da cidade. Risco de roubo ou assalto? Zero.

De volta ao hospital. Compare as duas fotos. O que está faltando? Advinha porque está faltando.



Estou falando besteira? Por que não dá um pulo até às Kalungas que ficam em áreas ricas e pergunta qual é o perfil dos meliantes? Por que não faz o mesmo no Santa Luzia, o mercado dos mercados, gente fina é outra coisa para valer.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Ambulâncias, e suas dificuldades na cidade

SP Reclama
O Estado de São Paulo 

Bom dia meus caríssimos

Meu pai está com um problema de saúde, o que me fez passear de ambulância. Conversando com os dois motoristas, confirmei mais uma vez as dificuldades que eles têm no trânsito. Eles e todos os veículos que pelo CNT deveriam ter prioridade de circulação. Como ciclista, em especial quando fui Bike Repórter Rádio Eldorado, posso afirmar sem dúvida, que boa parte dos cidadãos motoristas não sabe como ajudar, dar ou abrir passagem. Fora os que se recusam a sair do lugar com medo de tomar multa da CET, fato absurdo que infelizmente é fácil de comprovar. De um dos motoristas de ambulância ouvi que já foi multado por um CET mesmo provando a ele que tinha situação de risco iminente de morte da criança transportada. Como ciclista já ajudei a abrir passagem no trânsito para ambulâncias, polícias e bombeiros e sei bem como é.

Num dos trajetos em ambulância passamos por uma rua, rota lógica para a chegar ao hospital e está com asfalto muito irregular, obrigando o motorista a praticamente parar para não prejudicar a situação clínica do paciente.

Para terminar, meu pai está no Prevent Paris, na Saúde, que é novo e ótimo para pacientes, mas teve projeto de engenharia e arquitetura aprovado pela Prefeitura completamente inadequado para as ambulâncias. Quem autorizou este projeto de garagem / recepção veicular não faz a mais remota idéia do que seja uma ambulância, sua manobrilidade, as necessidades do veículo e as dos socorristas. Provavelmente também não sabe do que se trata um paciente.

A cidade não ter um planejamento realista e funcional para veículos de emergência e segurança é um absurdo. Educação, treinamento e informação precisa para a população. Posicionamento apropriado, claro e aberto ao público sobre política e ações correlatas. E prioridade de manutenção de vias de acesso e saída de hospitais e outros.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Maturidade

A razão para ter parado em Roma foi ter sido incluído numa exposição coletiva de arte. A partir daí cresceu o sonho da possibilidade de vender algumas obras minhas no mercado europeu. Não saiu como imaginava, mas saiu e espero que tenha resultados futuros, o que parece provável.

Por que Roma? Porque lá tenho onde dormir e espaço para pintar e deixar algumas obras para ver no que dá. Como disse, não vendeu, mas os trabalhos tiveram uma boa recepção por parte do mercado que fizemos contato, algumas respostas bem positivas.

Toda esta experiência me fez mais uma vez olhar para trás. O que teria sido caso eu tivesse saído para o mercado de arte e trabalho fora do Brasil ainda jovem? Segundo o que dois amigos, muito experientes, me falaram num passado distante, eu teria tido uma vida de resultados mais certos, inclusive financeiros. Foi-se. Estou velho, mas ainda não morto.

Aposentadoria é uma merda! Mas você acaba tendo tempo de sobra para olhar o passado. Olhar o passado, não ficar remoendo o passado, o que faço um pouco, confesso.

Um dos erros atávicos deste país, Brasil, é que nós, brasileiros, deixamos o tempo passar, deixamos as coisas se acomodarem. Eu, classe média, sou um brasileiro típico, não fujo a regra.

Um dos melhores momentos deste meu amadurecimento está sendo revisitar e revisar meus trabalhos como artista. A primeira exposição individual foi em 1981 e até 1990 continuei expondo, algumas individuais grandes, mas poucas vendas. Considerava o dito mercado de arte um saco e não tive a maturidade de abaixar a cabeça e entrar no jogo, o que foi um erro com reflexos inclusive na qualidade de meus trabalhos. Só agora tenho consciência disto. Maturidade.

Nesta longa e lenta revisão não precisei muito para tomar consciência e entender minhas limitações patentes, e as minhas qualidades, várias, peculiares. Passei um bom tempo corrigindo desenhos que considerava perdidos e fiquei bem satisfeito com o resultado. Amadureci!

Roma me fez olhar mais fundo para meus erros passados, que vão além do desenho ou pintura. "Não basta saber fazer, tem que saber comunicar", e com isto vender, e no vender fui um desastre. O trabalho teria crescido uma barbaridade caso deixasse de olhar para o umbigo e caísse na vida.

É inerente ao nosso ser, o aminal e mais ainda o humano, trocar, o que hoje se traduz também como 'vender'. Assim como é inerente a nós o ser aceito pelo simples fato que "unidos venceremos". Vender, comprar, ou trocar, por valores, monetáiros ou não. Os que mais trocamos são os não monetários, os humanos, este é o jogo essencial.
Eu fiz uma besteira sem tamanho na vida de tentar preservar minha pureza não entrando no mercado de trocas. Passei boa parte da vida tentando limpar os meus próprios diabos, os comportamentos sociais que eram impróprios ou inapropriados. Em outras palavras, me esforçando para crescer a alma, pensando bem diria 'seja lá o que isto signifique'.

Um dia me olhei no espelho e disse em alta e boa voz: "Idiota! Para com besteira!"

Em Roma me foi perguntado quem sou eu e o que pretendo (ou pretendi) da vida. Minha resposta foi imeiata, certeira e sem dúvida: "Ajudar os outros". O quem eu sou ainda não sei bem e não vai ser a maturidade que vai me mostrar, só vai me fazer aceitar.

Só se ajuda os outros se você estiver ajudado ou 'se ajudado'. Talvez português errado, mas pensamento correto. Se você não estiver centrado tudo não funciona bem, começando por você próprio e terminando nas trocas, as vendas e compras, o jogo básico do 'unidos venceremos' que sem ele ninguém ganha, repito. Diálogo! simples assim.

"Cala a boca Arturo!" ouvi muito pela vida, em palavras ou não, e deveria ter ouvido e agido. "Não interessa o que você fala, interessa o que você faz (e fez)", esta ouvi de minha mãe uma única vez de minha vida, o suficiente. Pura verdade. "No lo diga al pedo", dizem os argentinos. Certíssimo. Falamos mais besteira do que peidamos. "Que nojo!". Nojo? O que? O 'pedo', que é espontâneo e natural, ou a besteirada que vomitamos no dia a dia em nome da "verdade", em nome de ensinar as verdades aos outros? Fósforos anulam o cheiro. O estrago de uma besteira dita costuma não ser tão fácil de ser contornado, quando é possível contornar.

Comecei a ser gente quando calei a boca (pelo menos tento) e passei a ouvir mais (o que me esforço). Sentir-se gente traduz-se por equilíbrio. Equilíbrio! Ufa! Paz! Hoje sinto o prazer de afagar o equilíbrio, delicioso equilíbrio, e sua paz subsequente.

Unidos venceremos só funciona se os indivíduos forem bons, ou, joguem o jogo do coletivo do bom para fazer parte do unido. Aí entram as regras impostas; e dança ou não a cabeça do indivíduo. Quem sou eu?

A maturidade traz uma capacidade diferente no avaliar as situações. Quem amadurece bem cresce muito e só fica com raiva do por que não pensou e agiu melhor no passado.

É muito fácil cometer erros de avaliação, mais do que fácil, é praticamente uma regra social. "Uma mentira dita mil vezes tornar se verdade", dizia Goebbels, um dos homens de Hitler. Acertou na mosca. Começou com ele? Definitivamente não. Provavelmente surgiu muito antes do poder da igreja católica que hoje rege a vida de crentes e não crentes. Ninguém escapa do olhar de Deus, diz a religião. Vale para o social, o coletivo, e muito mais para o pessoal.
Nos mentimos milhões de vezes e muitas de nossas verdades são fruto deste repetir mil vezes, diria milhões de vezes, as mesmas besteiras. Para justificar o que aqui digo, prefere Freud, Jung ou Pavlov, para começo de conversa?

Ou incapacidade de fazer uma avaliação apropriada que me levou aos erros passados? Disto não tenho dúvida. Meus princípios! ah! meus princípios - muitos idiotas diria. Avaliação apropriada só ocorre quando temos capacidade de um olhar amplo e neutro. Não era nem amplo e muito menos neutro, de boa fé quero eu. Com os valores que eu perseguia, "minta(-se) mil vezes". Foi impossível ter uma avaliação correta, portanto obter os melhores resultados.

Me resta acreditar na minha boa fé, mas de boa intensão o inferno está cheio. Novamente me olho no espelho e vejo que meus 'valiosos princípios' foram aplicados em situações onde não eram aplicáveis, ou, não serviram para nada. Muito esforço no que não deu resultado.
Pelo menos consigo ver os meus erros, que obvio persistem, em muito menor grau, mas ainda estão aí. Maturidade!

Em Roma ouvi mais uma vez, quase como sempre nestes dias de redes sociais, teorias da conspiração. Um pensador político definiu bem "teoria da conspiração" como um resposta simples para um problema complexo. No dia seguinte fiquei pensando quando conspiro contra minha própria vida.

Último dia em Roma revi todas sete pinturas que fiz lá. As condições de trabalho não foram as melhores, mas reconheço que reclamo de boca cheia. Como tudo na vida, ficou claro que o olhar que tive imediatamente após terminar cada pintura é muito diferente daquela revisão final antes de voltar ao Brasil. Nem todas me agradaram como no momento do "terminei". O tempo transforma a realidade.

Pouco posso fazer agora, aqui no Brasil, para acertar as obras terminadas que ficaram em Roma. Espero que vendam. Deixo para os outros julgar. Do que fiz, aprendi, amadureci, simples assim, com algumas dores e prazeres. A vida é assim. Tudo mais é "no lo diga al pedo".


Para quem quiser ver, aí vai. Agradeço muito ao Renato de Camilis não só pela recepção, mas principalmente pelo ótimo trabalho de divulgação.


https://arturoalcortaarte.blogspot.com/?m=1 As pinturas realizadas em Roma estão aqui

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Gracie Roma


- Como foi Roma? ou - Como está Roma? Clássicas perguntas para quem voltou de viagem, não importa de onde tenha vindo.

Com toda bagunça, e não é pouca, eu moraria lá. Deixar Roma não foi fácil. Adorei! mas....

Roma? A estação de trens Termini é a chegada natural a Roma. Muito movimentada, não perfeita, mas limpa, funcional, espaçosa. Claro que com o maravilhoso café, expresso e curto, primeiro ato em solo romano, e mais outras delícias dando as boas vindas. O zoológico circulando pela Termini é completo, a maioria europeus vindos de todas as partes. Orientais, africanos, islâmicos, bem menos que as pessoas pensam, nada que grite aos olhos como as tropas de chineses que se vê em Paris, por exemplo.

Saiu da Termini, a primeira impressão de Roma. Saiu pela frente tudo em obras, tapumes por todos lados. Saiu pela lateral para o lado da Basílica Santa Maria Magiore é um horror, conjunto de edifícios muito mal cuidados, fachada caindo aos pedaços, literalmente, mesmo onde está o McDonald's. Cruzando a avenida, dependendo de onde se vá, anda-se por baixo de "palazzi", edifícios imponentes que faz muito tiveram sua importância comercial, hoje lojas abandonadas, sujeira e alguns mendigos. Saiu pelo lado contrário da estação, onde se encontram vários hoteis pega turistas tradicionais da cidade que são vistos de longe, a situação é bem melhor. A primeira impressão, correta por sinal, é de uma Roma sofrida. Quem se hospeda no entorno da Termini e só vai aos pontos turísticos não faz ideia do que seja Roma.

Uns poucos quarteirões de distância da Termini começa aparecer a Roma eterna, lotada de turistas em alguns pontos, os turísticos é claro. Lotada é o termo correto. Os romanos estão cansados da bagunça, responsabilizam a turistada pelas ruas sujas, que segundo soube era bem mais sujas não faz muito. A prefeitura descobriu que já inventaram lixeiras e muitas foram instaladas pela cidade. O interessante é que elas tem o desenho de lixeiras que deveriam existir num passado distante e não destoam da paisagem das ruas. Como tem muita pixação, não se pode culpar só os turistas. A cidade está mal cuidada e pouco respeitada pelos seus. 


As ruas, ah!, as ruas de Roma, com suas calçadas esburacadas, estreitas, dependendo do local lotadas, gente desviando para caminhar junto com os automóveis e motos também num pavimento frequentemente irregular e ou esburacado. Motoristas e motociclistas estão acostumados e respeitam. Os edifícios, i palazzi, lindos, todos meio parecidos, mesmo número de andares e com pintura de fachada que há muito deveria ter sido restaurada. Que horror? Não, definitivamente não! Fiquei imaginando se a não obrigação de manutenção pelos proprietários tem a ver com a imagem que se quer passar de uma Roma Eterna para os turistas. Faz parte do pacote ou não?




Não é por causa do maravilhoso café, expresso e curto, e das inúmeras gelaterias, sempre movimentadas, que vale a pena a caminhada. É comum cruzar com ristoranti, osterie e cantini com mesas na rua e turistas felizes, mas não só eles. Roma é uma deliciosa bagunça italiana, vale a pena. Muito da vida urbana está nas ruas. Eu moraria lá fácil fácil. Delícia. 


Para nós brasileiros um detalhe: nada de violência, nem no entorno da Termini onde a questão social está mais patente. Soube que tem um ou outro problema, mas são pouquíssimos, a sensação de segurança é plena não importa que horas você esteja na rua, nem em que rua. Uma madrugada voltei para o apartamento cruzando uma zona nos fundos da Termini, é pouco italiana, muito menos européia, onde vivem imigrantes de todas as partes, local que lembra áreas inseguras por aqui. Nada, zero, tranquilíssimo, bastou dois quarteirões para entender que não estava no entorno da Estação da Luz do meu imaginário. Um bebado cruzando pernas nos fez ir para a rua, mas porque ele vinha como bola de pinball, da parede para os carros, dos carros para a parede, cai não cai, bafo que 10 metros se sentia.
 
Mendigos? Sim, infelizmente. Todos imigrantes? Não só. Italianos também, muitos, a maioria mais velho. Eles sentam em algum canto e seguram uma canequinha, não pedem, não incomodam, continuam com consciência de seus limites como cidadãos. Em um mês e meio ouvi só dois falando alto, o que não é grande coisa em se tratando de Itália e italianos que falam mais alto que os demais europeus.


No último dia cruzei com um cidadão que brigava ao celular em alguém voz alta e, óbvio, gesticulando com a mão como se regendo uma ópera bufa. Fato normal, todos passavam por ele e ninguém se importa. Divertido é ver os que estão no celular com as duas mãos soltas, falando, gesticulando, andando para lá e para cá, expressões as mais diversas de corpo e rosto. Italianos.

- Nossa! Roma está tão ruim assim? 
Infelizmente está passando por uma crise, é patente. Pelo que dizem os romanos, já vem de bom tempo, os prefeitos antes deste foram ruins. Tem obra por tudo quanto é canto preparando a cidade para o Jubileu em 2025, evento religioso que ocorre a cada 25 anos. A bagunça é generalizada, maior que a de outras cidades italianas que estive, incluindo as do sul.


Fiquei próximo à Basilica Santa Maria Magiore, que é impressionante. É uma das quatro basílicas papais, imponente, maravilhosa. Da janela era possível vê-la. Acordar e a noite a vista valeu cada minuto. Os sinos dobrando por 4 minutos às 7:00 h da manhã... A vida no seu entorno é um pouco turística e muito local. Andou um pouco os turistas diminuem e a vida romana surge, a mais diversa, muitas vezes surpreendente. Adorável.
 
Todas as manhãs ia tomar um café, expresso e curtíssimo, delicioso, italianíssimo, no Black & White, sempre cheio de locais que não param de falar. Aula de italiano diária por Euro $ 1,10. Café deles é maravilhoso, para quem gosta de café. Menos de um dedo na xicara, preto, que deixa um sabor por bom tempo. Eu chamo de "aula de italiano" porque o povo em volta fala de tudo, algumas vezes compreensível, outras definitivamente não. Instrutivo, divertido, simpático.


Fiquei ansioso para ir ao Alfredo, il vero, restaurante tradicionalíssimo, receita tradicionalíssima, talharim, manteiga e parmesão, acho que um pouco de creme. Divino a pasta e o local, uma construção modernista imponente. Ansioso também para ir ao Morgana, pequeno restaurante de bairro, ótima cozinha, que continua bem, mas tem um atendimento de merda. Não tivesse acompanhado teria levantado e saído. Virando a esquina tem o Ristorante Pizzeria da Michele, que passei na frente algumas vezes e não dei nada. A recomendação veio de Claudio Bordi, da Bordi Belle Arti, uma casa de material artístico de 150 anos de história, e que história. Voltando ao da Michele, que não tem site, +39064872672, e que às quintas-feiras serve um gnochi maravilhoso, digo único. Não erro ao dizer que é um local para você se sentir "benvenuto a Roma",, a dos romanos.
 
Pizza, pizza, pizza, as romanas, tem por tudo quanto é canto, quadrada, cortada com tesoura, inúmeros sabores, requentada na hora, de tudo quanto é qualidade, do normal para ótimas. Pizza a qualquer hora do dia, café da manhã, almoço, lanche, jantar. Experimente tudo, basta um pedacinho para saber o que são. Cuidado com as 'arrabiatas', apimentadas, que são uma bomba mesmo para quem gosta de pimenta. Sai de São Paulo querendo comer a pizza napolitana, as redondas, borda gorda, fundo fino e pouco recheio. Comi e quero mais. Aliás, comer, gula, Deus que me perdoe minha gula. Não entrei em todas as 920 igrejas de Roma, mas num monte, para agradecer. No geral são de uma riqueza...

É muito agradável sair caminhando por Roma. Patrimônio arqueológico aos montes, nos principais turistas aos montanhas. Quando ainda estava lá decidiram dar um basta na bagunça em torno da Fontana di Trevi. Vão cobrar, vão restringir a visitação, com o que concordo. É muita gente, muita bagunça, muito selfie!

E Roma tem o Monumento a Vitorio Emanuelle, mais conhecido pelos romanos como a máquina de escrever, um treco branco mármore imenso, cheio de detalhezinhos irritantes, um eclético horroroso, de muito mal gosto, que se vê de vários pontos da cidade. Meu Deus do Céu, que coisa feia, que treco destoante de tudo. Já falei demais, chega!

E tem as sirenes. Ah! como é bom o silêncio! E como são chatas as sirenes que cruzam Roma. Pior que em NY? Pior, são muito mais altas e estridentes. 




Só isto sobre Roma? Podeira ficar contando histórias e indicando locais por dias. Desta vez, com tempo, fiquei um mês e meio trabalhando, adorei. Moraria nela fácil, fácil. 

Seja e não seja turista. Fuja do adorável turismo pronto se quiser conhecer o local.