quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Pelas tumbas do Faraó!

- Valéria, você que mexe com internet faz tanto tempo podia imaginar que aquilo ia dar nisto, que a informação em vez de ser um controlador de poder iria um dia ser o detonador de revoltas como esta do Oriente Médio, principalmente Egito?
- Ninguém podia dizer.

As notícias correm numa velocidade brutal. O pau que está rolando neste segundo nas ruas do Cairo pode ser visto instantaneamente na telinha de um bom computador. Acabaram de me telefonar com voz embargada porque um camburão veio correndo contra a massa protestante e simplesmente passou por cima de uns tantos, enquanto outros voavam atirados para cima e os lados como fosse desenho animado. Só que “for real”. Era criança, 9 anos, estava na rua quando as rádios começaram a gritar que havia estourado a revolução (de 1964). Corri aos prantos para casa. Não sei como uma criança reagiria hoje, mas provavelmente mais tranqüila porque está acostumada a realidade nua e crua instantânea. Quando não aos “games” ou mesmo desenhos animados matinais onde tudo explode, tudo vai pelos ares, todos morrem com a maior naturalidade. Uma hora destas inventam uma forma de transmitir cheiros e a realidade será mais real ainda. Uma grande diferença para os desenhos de Pica-Pau e Pato Donald de minha época. No caso do Pato Donald era necessário montar a máquina projetora de filmes, tirar o filme da lata, montar o filme na projetora, encaixar bem os dentes do filme, esperar a lâmpada esquentar, acionar e ver o filme. Opa; esqueceram de ligar a caixa acústica.

Hoje é “enter”, ponto! Pato Donald vai para o alvo do tiro. Pannnn... pannnn.... pannn. Acertou! e o ser vivo que vinha voando em sua direção vira instantaneamente um frango assado com direito a pontuação. Game over.

Minha reação mudou muito e rapidamente. Quando Blumenau veio abaixo eu fiquei desesperado, praticamente surtei. Agora neste horror que aconteceu na Região Serrana, fiquei chocado, mas parece que me acostumei. Provavelmente não. A Internet trouxe notícias sobre desvios que foram feitos nas doações para Blumenau e isto tirou meu pique. Mas não foi só. Um amigo de Blumenau saiu de bicicleta e distribuiu fotos que qualquer mídia teria censurado, coisas brutais. Aquele nível de imagem obviamente foi também censurado agora. Há limites. Ou não deve haver?

Valéria acabou entrando no tema do momento: qual o limite a Internet deve ter? Nenhum. É a definição de liberdade em si. Censura, no pior sentido, neste caso é idiota porque ninguém segura a rede. O governo Egípcio bem que tentou, mas em vão. Cortaram a Internet do grande público. Cortaram a telefonia. Tentaram silenciar as mídias. Impossível. Internet via rádio amador. Via rádio amador?

- Hoje se transmite por Internet pela eletricidade. Por rádio amador é fácil; explica Valéria.

Os noticiários deram que operadoras da Europa deixaram livre seus sistemas para o Egito. Se não fosse assim seria de outra forma. A molecada acha um jeito, acha um caminho. Não tem mais freios. Ironia do destino é vitória completa do liberalismo. Tremam os que sentem arrepios deste desatino do capitalismo selvagem, mas é verdade, nada mais liberal que a Internet.

Olhando as imagens do desastre da Região Serrana do Rio de Janeiro fiquei me perguntando no que um ciclista como eu poderia ajudar. Provavelmente pouco porque nem as motos especiais estavam conseguindo passar. Já na época de Blumenau fiquei com a idéia de como organizar os ciclistas para uma situação de emergência. Na minha santa estupidez dos 55 anos de vida não consigo imaginar; ou consigo imaginar, mas não conseguiria executar. Provavelmente se colocasse na mão de moleque ele resolveria e rapidamente organizaria o pessoal via Internet. Ai teria que entrar a voz da experiência de algum macaco velho em desastres para a coisa toda dar resultado. Os dois mundos se completam, se necessitam.

O que não consigo mesmo achar resposta é porque quando a coisa é mais objetiva, como responder “O que vocês querem da (entidade) União dos Ciclistas do Brasil” vem só uma meia dúzia de respostas? Isto para falar no nosso mundinho. Mas porque não se consegue frear fatos cotidianos que nos massacram, como a violência brutal deste Brasil dito pacífico. Não vale a resposta que o brasileiro não dá bola para estas coisas, porque os pictogramas das bicicletinhas pintadas como protesto nas ruas foram entendidos pelos motoristas, um dos grupos sociais mais agressivos deste país, e estes passaram a tomar mais cuidado com os ciclistas que ali circulavam.

Porque tão fácil e ao mesmo tempo tão impossível?

O interessante de todo este momento histórico é que os islamitas, que boa parte do ocidente euro-centrado desdenha por toscos, limitados, primitivos, e outros adjetivos mais, é que estão mostrando o caminho da revolução binária. Alá ou Allah.

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