Fórum do Leitor
SP Reclama
O Estado de São Paulo
Desde que convivi e aprendi com especilistas, holandeses em particular, sobre qualidade de vida nas cidades, a importância da forma de fluidez do trânsito e das mobilidades, venho pregando sobre a urgência urgentíssima de se trocar todo sistema de semáforos de São Paulo, isto faz duas décadas.
Todos querem uma cidade mais fluida, mas ninguém fala uma palavra, pressionar nem pensar, para que se dê jeito na porcariada que temos aqui. Chuveu... O sistema não funciona faz muito e para tentar resolver foram fazendo ganbiarras, acho que só nas caixinhas de semáforo, que só serviram para jogar dinheiro no lixo. Choveu... (a rima fica para vocês). Agora parece que estão trocando, a passo de tartaruga, como o maldito trânsito que nos espera no dia a dia, mas estão trocando.
Óbvio que não se tem notícia da agenda, dos critérios e menos ainda dos custos. O que quer que se esteja fazendo não foi discutido com a população, ou pelo menos eu e meus amigos que nos interessamos pelo assunto não soubemos de nada.
O perfil dos transportes e mobilidades vem mudando com muita rapidez. O que se implanta é para solucionar problemas atuais ou futuros? Qual futuro?
Cidades européias tem sistemas semafóricos que priorizam o transporte de massa e as mobilidades ativas, sem grande prejuízo aos motorizados. Este é o caminho, mas alguém aqui sabe ou se interessa por isto?
Primeiro exemplo: trocaram os postes e semáforos da esquina da rua Oscar Freire com Casa Branca. Oscar Freire com Casa Branca? Não tem lugar com maior prioridade? A pergunta é, repito, qual o critério para da troca de semáforos para a melhora de fluidez da cidade?
Por que os das esquinas da Oscar Freire com Augusta e Ministro Rocha Azevedo, que têm muito mais fluxo de trânsito, ainda não foram trocados? Se foram, já deram pau com chuva. Estes novos são inteligentes, conectados com outros num sistema integrado? Todos semáforos novos vão ter semáforos e tempos para pedestres? Lembro que quando pedimos semáforo para pedestres nas esquinas da Oscar Freire com Augusta e Ministro Rocha Azevedo a resposta da CET SP foi que haviam feito inspeção e não notaram necessidade de semaforo para pedestres. Muito tempo depois instalaram os para pedestres. Foi pressão do supermercado da esquina?
Repito a pergunta: qual é a prioriadade para cada mudança específica? Como está incluída a questão das mobilidades ativas no processo? Terão tempos diferenciados para corredor de ônibus?
Fato, e exemplo: os pedestres que vem de seus trabalhos na Oscar Freire cruzam a Casa Branca fora da faixa de pedestre, e de certa forma eles tem lá sua razão. É o caminho reto, mais curto e lógico para entrar na rua Cravinhos que dá na av. Nove de Julho e seus pontos de ônibus. A cidade está lotada de situações como esta, onde o caminho mais prático e sensato para o pedestre não vale nada perante a manutenção da fluidez dos veículos motorizados. Pedestres atropelados? A culpa é dos pedestres, nunca da engenharia de segurança viária.
O cruzamento de pedestres na saída do Parque Ibirapuera para o ponto de ônibus da av. Pedro Alvares de Cabral sentido Centro que o diga. Mesmo depois de décadas com a posição da faixa de pedestres boa para o fluxo de trânsito, faz pouco foi parcialmente corrigido. Agora, depois de cruzar o primeiro trecho da avenida na faixa de pedestres para o canteiro central, o pedeste dá com o ponto de ônibus exatamente de frente, mas do outro lado da avenida. Daí é obrigado a caminhar uns 40 metros até a esquina, esperar um bommm tempo o semáforo dos motorizados fechar, finalmente cruzar a avenida e voltar mais uns 40 metros até o ponto. No ponto de ônibus vai assistir outros pedestres desconcertados com o caminho a seguir e alguns tantos que se arriscam no meio dos carros.
Para os funcionários do HC acontece o mesmo no cruzamento de pedestres para o ponto de ônibus que fica no canteiro central da av. Rebouças. Apareça por lá na saída do trabalho e facilmente vai entender o que digo. Walter Hook e Michael King, do ITDP, vistoriaram o local e saíram dizendo que é um absurdo não ter uma faixa de pedestres com semáforo, o que não faria qualquer diferença na fluidez do trânsito. A passarela existente um pouco acima? De novo, se obriga ao pedestre caminhar 100 metros, ou mais, até a passarela, subir e descer a escada para chegar ao ponto de ônibus. No ponto de ônibus ficam vendo a rua de onde vieram bem em frente e alguns tantos, incluindo doentes, se arriscando a cruzar no meio dos carros.
Sobre passarelas, por favor, procurem dados sobre passarelas e vão entender seus prós e contras, o porque a antipatia geral contra elas. Passarela não é caminho natural. Já ouvi de técnicos respeitados que "passarela não raro é razão de atropelamento". Pedestres a usam como sombra. Pergunte-se, mas por que?
Perguntem-se também: por que o pedestre faz seus próprios caminhos? Por que não respeita o que as autoridades impõem?
Quem respeita é respeitado. Pedestre é respeitado pelas autoridades?
Qual é o tempo de semáforo para pedestres cruzarem a av. Rebouças? Qual é a recomendação internacional? Em quanto tempo a paciência do pedestre europeu acaba?
Voltando, qual é o critério geral adotado para a troca de sinalização na cidade? Só se está mudando para fazer funcionar bem? Funcionar bem para quem, para que? Com o que está sendo realizado quantos dos problemas crônicos de trânsito e mobilidade serão corrigidos? Não vão apagar ao sinal da primeira chuva? Isto basta? Quais são os dados que se tem para estabelecer o cronograma e a prioridade de troca? Foi informado? Se foi, foi muito mal informado. A informação que a cidade receberá semáforos novos não diz absolutamente nada. É sobre a cidade, é sobre a vida dos cidadãos, e não simplesmente sobre a troca de semaforização, que é um detalhe importantíssimo e parte da solução, repito: parte da solução.
Só dará os resultados minimamente desejados caso o projeto de troca esteja integrado a uma política / estratégia muitíssimo maior. Neste sentido, imagino que o projeto esteja integrado a brutal mudança de densidade populacional que a cidade vem sofrendo com esta pandemia de edifícios novos. Está adensando, supõe-se que tenham recalibrado tudo que está debaixo da terra, água, esgoto, águas pluviais, energia, comunicações, gás... Como não vi uma obra de ampliação / adequação no subsolo, não será um novo sistema de semáforo que dará fluidez em ruas e avenidas quando estas forem esburacadas por obras futuras das concessionárias, que virão, virão, não tenham dúvidas.
A bem da verdade, quem se interessa? Pelo silêncio ninguém. O pessoal deve achar uma delícia ficar encalacrado todos dias no trânsito. Eu não acho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário