Ele segue caminhando por ai.
Estudou comigo e era um garoto normal. Um dia exagerou na dose e o barato saiu
caro, muito caro. Ele chegou na festa completamente empapuçado e ao passar por
uma parede espelhada, daquelas que se vê o corpo inteiro, não sabia mais de que
lado do espelho estava. A partir daí nunca voltou ao normal. Pirou total. Estava
ao lado dele, era a outra imagem em pé refletida no espelho, e imediatamente
percebi que ele não estava brincando, mas realmente não sabia mais quem era
quem, se ele ou a imagem. Sempre o vejo pelas ruas caminhando com sua pastinha
debaixo do braço. Fala sozinho, de vez em quando parece que está falando com
você, dando uma bronca ou reclamando enfaticamente sobre algo incompreensível.
Naquela exata noite fumei pela
primeira vez um baseado. Foi uma das mais mágicas experiências de minha vida. No
carro de um amigo ouvi Yes, And You and I, a primeira viagem. Ri sem parar por
mais de 30 minutos. A maconha daquela época, lá pelo início dos anos 70, tinha
outra qualidade, muito mais leve, alucinógena, risível. Todos nós, os fumantes,
tínhamos limites, e mesmo alucinados procurávamos manter um mínimo de educação,
cordialidade social e civilidade. Pelo menos tentávamos. Violência ou grosseria
eram consideradas inaceitáveis; quem extrapolava não era bem visto e afastado.
Era uma curtição aparentemente inconsequente.
Por alguma razão a boa maconha foi
desaparecendo. O barato foi ficando a cada dia mais pesado, depressivo,
desagradável. Fazia mal. Até ouvindo boa música a viagem nunca mais foi igual. A
saudade do passado virou uma constante nas conversas de praticamente todos
fumantes, excluindo viciados e chatos. Estavam adubando a erva? Possível. Nós
havíamos mudado? Com certeza. A maioria foi largando e tomando suas vidas
adultas.
“Não existe almoço grátis” (There
is no free lunch - Milton Friedman) é uma verdade incontestável. Minha geração,
pós Woodstock, encantada errônea e tardiamente com o Paz e Amor do Flower
Power, viajou sem consequência. O resultado está ai. Não sei quanto aos meus
amigos, mas eu peço desculpas a toda sociedade. Sou responsável por parte da
barbárie que está ai, não posso negar. Se pudesse voltar atrás..., mas é
impossível. Tenho que tentar limpar a merda, que é o mínimo.
Bicicleta acabou sendo meu novo barato.
Como não tenho paciência nem para vícios o pedalar sempre me fez bem. E
continua fazendo.
Exatamente como o barato das drogas,
a bicicleta esteve e está ligada a um sonho de uma vida mais leve, alegre,
divertida e fácil para todos. Foi e é uma viagem maravilhosa e principalmente
real, digna, de futuro. Para quem pedalou o sonho viveu um barato que valeu a
pena, mesmo que hoje se venha sentindo alguns efeitos negativos causados pela
minoria viciada, pelos fanáticos, ortodoxos, chatos, medíocres, sempre
presentes, ativos e infelizmente marcantes em sociedades pouco afeitas à realidade,
como a nossa, brasileira.
Não vou prolongar a conversa! Mas não concordo com esse slogan Suíço! Acho sim que deveria ser comercializado como qualquer outra droga e o dinheiro arrecadado com o comércio ser usado na educação e prevenção!
ResponderExcluirDa forma como está e todo mundo aceita, principalmente os usuários, é assinar em baixo que a violência é valida. Todo mundo se cala
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