quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Me engana que eu gosto


A maioria que vive o dia a dia do ir e vir para o trabalho neste trânsito enlouquecedor quer melhorias no sistema viário, mais avenidas, mais faixas de rolamento, pontes, viadutos e túneis, mais transporte coletivo, metro, monotrilho... A felicidade do povo é o óbvio. O voto normalmente vai para aqueles que conseguem vender sonhos, quando não delírios, visíveis, quase palpáveis pelo imaginário distorcido do eleitor. E assim vamos carregando a vida da cidade pela estrada do visível / invisível. Bom que é bom é bom. Sobre coisa ruim é melhor nem falar. A dualidade entre o bem e o mal religiosa. Haja fé cega! Será o bom visível e o mal invisível?

Dentro deste o bom é o óbvio imagine só convencer ciclistas e pedestres conscientes a apoiar uma proposta de investimento pesado na troca do sistema semafórico de toda a cidade para dar maior fluidez ao trânsito. “O importante é construir ciclovias...”, vai responder 10 em 10 ciclistas. Um sistema semafórico completamente integrado e inteligente permitiria aumentar a baixíssima velocidade média da cidade, o que diminui a tensão geral, melhora o ar e aumenta a segurança de todos, inclusive e principalmente pedestres, deficientes e ciclistas. Ciclovia é visível; eficiência é invisível, abstrato, fora dos nossos parâmetros de óbvio. Vote em ciclovia e ciclo faixa.

Nossas cidades não têm mapas de qualidade. Por que não apoiar quem se comprometa a fazê-los? Qualquer cidade minimamente organizada tem pelo menos três mapeamentos: +3 metros, zero, -3 metros (subsolo, solo, construções). Cada concessionária tem seu mapa e Prefeitura geralmente briga para saber o que há debaixo de sua responsabilidade legal. Dai o Google Earth ter sido
uma ferramenta precisíssima de trabalho para funcionários sérios. Hoje caça-se menos cabos, canos, dutos, tubulações e outros, mas a situação ainda é muito precária. Não raro alguém mete a picareta e corta o que é de outro, causando obras demoradas. Perda de tempo, perda de dinheiro, perda de eficiência, aumento de insegurança, danos a saúde pública... Quem apoia um programa
político que fale sobre mapas e outras informações pertinentes? Não é nada óbvio.

Quem já viu uma plotadora sobre rodinhas? E uma sala cheia de computadores e outros eletrônicos sem tomada? Quem apoia um plano de melhoria de condição de trabalho para funcionários públicos?

Há uma infinidade de “detalhes” que desconhecemos. Não há condição de se colocar na mesa e realidade bruta da cidade, principalmente no que tange ao administrativo, à eficiência. Assusta. Vota-se no que é burramente óbvio. Me engana que eu gosto.
 

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