quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Ambulâncias, e suas dificuldades na cidade

SP Reclama
O Estado de São Paulo 

Bom dia meus caríssimos

Meu pai está com um problema de saúde, o que me fez passear de ambulância. Conversando com os dois motoristas, confirmei mais uma vez as dificuldades que eles têm no trânsito. Eles e todos os veículos que pelo CNT deveriam ter prioridade de circulação. Como ciclista, em especial quando fui Bike Repórter Rádio Eldorado, posso afirmar sem dúvida, que boa parte dos cidadãos motoristas não sabe como ajudar, dar ou abrir passagem. Fora os que se recusam a sair do lugar com medo de tomar multa da CET, fato absurdo que infelizmente é fácil de comprovar. De um dos motoristas de ambulância ouvi que já foi multado por um CET mesmo provando a ele que tinha situação de risco iminente de morte da criança transportada. Como ciclista já ajudei a abrir passagem no trânsito para ambulâncias, polícias e bombeiros e sei bem como é.

Num dos trajetos em ambulância passamos por uma rua, rota lógica para a chegar ao hospital e está com asfalto muito irregular, obrigando o motorista a praticamente parar para não prejudicar a situação clínica do paciente.

Para terminar, meu pai está no Prevent Paris, na Saúde, que é novo e ótimo para pacientes, mas teve projeto de engenharia e arquitetura aprovado pela Prefeitura completamente inadequado para as ambulâncias. Quem autorizou este projeto de garagem / recepção veicular não faz a mais remota idéia do que seja uma ambulância, sua manobrilidade, as necessidades do veículo e as dos socorristas. Provavelmente também não sabe do que se trata um paciente.

A cidade não ter um planejamento realista e funcional para veículos de emergência e segurança é um absurdo. Educação, treinamento e informação precisa para a população. Posicionamento apropriado, claro e aberto ao público sobre política e ações correlatas. E prioridade de manutenção de vias de acesso e saída de hospitais e outros.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Maturidade

A razão para ter parado em Roma foi ter sido incluído numa exposição coletiva de arte. A partir daí cresceu o sonho da possibilidade de vender algumas obras minhas no mercado europeu. Não saiu como imaginava, mas saiu e espero que tenha resultados futuros, o que parece provável.

Por que Roma? Porque lá tenho onde dormir e espaço para pintar e deixar algumas obras para ver no que dá. Como disse, não vendeu, mas os trabalhos tiveram uma boa recepção por parte do mercado que fizemos contato, com respostas bem positivas.

Toda esta experiência me fez mais uma vez olhar para trás. O que teria sido caso eu tivesse saído para o mercado de arte e trabalho fora do Brasil ainda jovem? Segundo o que dois amigos, muito experientes, me falaram num passado distante, eu teria tido uma vida de resultados mais certos, inclusive financeiros. Foi-se. Estou velho, mas ainda não morto.

Aposentadoria é uma merda! Mas você acaba tendo tempo de sobra para olhar o passado. Olhar o passado, não ficar se remoendo o passado, o que faço um pouco, confesso.

Um dos erros atávicos deste país, Brasil, é que nós, brasileiros, deixamos o tempo passar, deixamos as coisas se acomodarem. Eu, classe média, sou um brasileiro típico, não fujo a regra.

Um dos melhores momentos deste meu amadurecimento está sendo revisitar e revisar meus trabalhos como artista. A primeira exposição individual foi em 1981 e até 1990 continuei expondo, algumas individuais grandes, mas poucas vendas. Considerava o dito mercado de arte um saco e não tive a maturidade de abaixar a cabeça e entrar no jogo, o que foi um erro com reflexos inclusive na qualidade de meus trabalhos. Só agora tenho consciência disto. Maturidade.

Nesta longa e lenta revisão não precisei muito para tomar consciência e entender minhas limitações patentes, e as minhas qualidades, várias, peculiares. Passei um bom tempo corrigindo desenhos que considerava perdidos e fiquei bem satisfeito com o resultado. Amadureci!

Roma me fez olhar mais fundo para meus erros passados, que vão além do desenho ou pintura. "Não basta saber fazer, tem que saber comunicar", e com isto vender, e no vender fui um desastre. O trabalho teria crescido uma barbaridade caso deixasse de olhar para o umbigo e caísse na vida.

É inerente ao nosso ser, o aminal e mais ainda o humano, trocar, o que hoje se traduz também como 'vender'. Assim como é inerente a nós o ser aceito pelo simples fato que "unidos venceremos". Vender, comprar, ou trocar, por valores, monetáiros ou não. Os que mais trocamos são os não monetários, os humanos, este é o jogo essencial.
Eu fiz uma besteira sem tamanho na vida de tentar preservar minha pureza não entrando no mercado de trocas. Passei boa parte da vida tentando limpar os meus próprios diabos, os comportamentos sociais que eram impróprios ou inapropriados. Em outras palavras, me esforçando para crescer a alma, pensando bem diria 'seja lá o que isto signifique'.

Um dia me olhei no espelho e disse em alta e boa voz: "Idiota! Para com besteira!"

Em Roma me foi perguntado quem sou eu e o que pretendo (ou pretendi) da vida. Minha resposta foi imeiata, certeira e sem dúvida: "Ajudar os outros". O quem eu sou ainda não sei bem e não vai ser a maturidade que vai me mostrar, só vai me fazer aceitar.

Só se ajuda os outros se você estiver ajudado ou 'se ajudado'. Talvez português errado, mas pensamento correto. Se você não estiver centrado tudo não funciona bem, começando por você próprio e terminando nas trocas, as vendas e compras, o jogo básico do 'unidos venceremos' que sem ele ninguém ganha, repito. Diálogo! simples assim.

"Cala a boca Arturo!" ouvi muito pela vida, em palavras ou não, e deveria ter ouvido e agido. "Não interessa o que você fala, interessa o que você faz (e fez)", esta ouvi de minha mãe uma única vez de minha vida, o suficiente. Pura verdade. "No lo diga al pedo", dizem os argentinos. Certíssimo. Falamos mais besteira do que peidamos. "Que nojo!". Nojo? O que? O 'pedo', que é espontâneo e natural, ou a besteirada que vomitamos no dia a dia em nome da "verdade" em nome de ensinar as verdades aos outros? Fósforos anulam o cheiro. O estrago de uma besteira dita costuma não ser tão fácil de ser contornado, quando é possível contornar.

Comecei a ser gente quando calei a boca (pelo menos tento) e passei a ouvir mais (o que me esforço). Sentir-se gente traduz-se por equilíbrio. Equilíbrio! Ufa! Paz! Hoje sinto o prazer de afagar o equilíbrio, delicioso equilíbrio, e sua paz subsequente.

Unidos venceremos só funciona se os indivíduos forem bons, ou, joguem o jogo do coletivo do bom para fazer parte do unido. Aí entram as regras impostas; e dança ou não a cabeça do indivíduo. Quem sou eu?

A maturidade traz uma capacidade diferente no avaliar as situações. Quem amadurece bem cresce muito e só fica com raiva do por que não pensou e agiu melhor no passado.
É muito fácil cometer erros de avaliação, mais do que fácil, é praticamente uma regra social. "Uma mentira dita mil vezes tornar se verdade", dizia Goebbels, um dos homens de Hitler. Acertou na mosca. Começou com ele? Definitivamente não. Provavelmente surgiu muito antes do poder da igreja católica que hoje rege a vida de crentes e não crentes. Ninguém escapa do olhar de Deus. Vale para o social, o coletivo, e muito mais para o pessoal.
Nos mentimos milhões de vezes e muitas de nossas verdades são fruto deste repetir mil vezes, diria milhões de vezes, as mesmas besteiras. Para justificar o que aqui digo prefere Freud, Jung ou Pavlov, para começo de conversa?

Ou incapacidade de fazer uma avaliação apropriada que me levou aos erros passados? Disto não tenho dúvida. Meus princípios! ah! meus princípios - muitos idiotas diria. Avaliação apropriada só ocorre quando temos capacidade de um olhar amplo e neutro. Não era nem amplo e muito menos neutro, de boa fé quero eu. Com os valores que eu perseguia, "minta(-se) mil vezes". Foi impossível ter uma avalição correta, portanto obter os melhores resultados.

Me resta acreditar na minha boa fé, mas de boa intensão o inferno está cheio. Novamente me olho no espelho e vejo que meus 'valiosos princípios' foram aplicados em situações onde não eram aplicáveis, ou, não serviram para nada. Muito esforço no que não deu resultado.
Pelo menos consigo ver os meus erros, que obvio persistem, em muito menor grau, mas ainda estão aí. Maturidade!

Em Roma ouvi mais uma vez, quase como sempre nestes dias de redes sociais, teorias da conspiração. Um pensador político definiu bem "teoria da conspiração" como um resposta simples para um problema complexo. No dia seguinte fiquei pensando quando conspiro contra minha própria vida.

Último dia em Roma revi todas sete pinturas que fiz lá. As condições de trabalho não foram as melhores, mas reconheço que reclamo de boca cheia. Como tudo na vida, ficou claro que o olhar que tive imediatamente após terminar cada pintura é muito diferente daquela revisão final antes de voltar ao Brasil. Nem todas me agradaram como no momento do "terminei". O tempo transforma a realidade.
Pouco posso fazer agora, aqui no Brasil, com obras terminadas que ficaram em Roma. Espero que vendam. Deixo para os outros julgar. Do que fiz, aprendi, amadureci, simples assim, com algumas dores e prazeres. A vida é assim. Tudo mais é "no lo diga al pedo".



segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Gracie Roma


- Como foi Roma? ou - Como está Roma? Clássicas perguntas para quem voltou de viagem, não importa de onde tenha vindo.

Com toda bagunça, e não é pouca, eu moraria lá. Deixar Roma não foi fácil. Adorei! mas....

Roma? A estação de trens Termini é a chegada natural a Roma. Muito movimentada, não perfeita, mas limpa, funcional, espaçosa. Claro que com o maravilhoso café, expresso e curto, primeiro ato em solo romano, e mais outras delícias dando as boas vindas. O zoológico circulando pela Termini é completo, a maioria europeus vindos de todas as partes. Orientais, africanos, islâmicos, bem menos que as pessoas pensam, nada que grite aos olhos como as tropas de chineses que se vê em Paris, por exemplo.

Saiu da Termini, a primeira impressão de Roma. Saiu pela frente tudo em obras, tapumes por todos lados. Saiu pela lateral para o lado da Basílica Santa Maria Magiore é um horror, conjunto de edifícios muito mal cuidados, fachada caindo aos pedaços, literalmente, mesmo onde está o McDonald's. Cruzando a avenida, dependendo de onde se vá, anda-se por baixo de "palazzi", edifícios imponentes que faz muito tiveram sua importância comercial, hoje lojas abandonadas, sujeira e alguns mendigos. Saiu pelo lado contrário da estação, onde se encontram vários hoteis pega turistas tradicionais da cidade que são vistos de longe, a situação é bem melhor. A primeira impressão, correta por sinal, é de uma Roma sofrida. Quem se hospeda no entorno da Termini e só vai aos pontos turísticos não faz ideia do que seja Roma.

Uns poucos quarteirões de distância da Termini começa aparecer a Roma eterna, lotada de turistas em alguns pontos, os turísticos é claro. Lotada é o termo correto. Os romanos estão cansados da bagunça, responsabilizam a turistada pelas ruas sujas, que segundo soube era bem mais sujas não faz muito. A prefeitura descobriu que já inventaram lixeiras e muitas foram instaladas pela cidade. O interessante é que elas tem o desenho de lixeiras que deveriam existir num passado distante e não destoam da paisagem das ruas. Como tem muita pixação, não se pode culpar só os turistas. A cidade está mal cuidada e pouco respeitada pelos seus. 


As ruas, ah!, as ruas de Roma, com suas calçadas esburacadas, estreitas, dependendo do local lotadas, gente desviando para caminhar junto com os automóveis e motos também num pavimento frequentemente irregular e ou esburacado. Motoristas e motociclistas estão acostumados e respeitam. Os edifícios, i palazzi, lindos, todos meio parecidos, mesmo número de andares e com pintura de fachada que há muito deveria ter sido restaurada. Que horror? Não, definitivamente não! Fiquei imaginando se a não obrigação de manutenção pelos proprietários tem a ver com a imagem que se quer passar de uma Roma Eterna para os turistas. Faz parte do pacote ou não?




Não é por causa do maravilhoso café, expresso e curto, e das inúmeras gelaterias, sempre movimentadas, que vale a pena a caminhada. É comum cruzar com ristoranti, osterie e cantini com mesas na rua e turistas felizes, mas não só eles. Roma é uma deliciosa bagunça italiana, vale a pena. Muito da vida urbana está nas ruas. Eu moraria lá fácil fácil. Delícia. 


Para nós brasileiros um detalhe: nada de violência, nem no entorno da Termini onde a questão social está mais patente. Soube que tem um ou outro problema, mas são pouquíssimos, a sensação de segurança é plena não importa que horas você esteja na rua, nem em que rua. Uma madrugada voltei para o apartamento cruzando uma zona nos fundos da Termini, é pouco italiana, muito menos européia, onde vivem imigrantes de todas as partes, local que lembra áreas inseguras por aqui. Nada, zero, tranquilíssimo, bastou dois quarteirões para entender que não estava no entorno da Estação da Luz do meu imaginário. Um bebado cruzando pernas nos fez ir para a rua, mas porque ele vinha como bola de pinball, da parede para os carros, dos carros para a parede, cai não cai, bafo que 10 metros se sentia.
 
Mendigos? Sim, infelizmente. Todos imigrantes? Não só. Italianos também, muitos, a maioria mais velho. Eles sentam em algum canto e seguram uma canequinha, não pedem, não incomodam, continuam com consciência de seus limites como cidadãos. Em um mês e meio ouvi só dois falando alto, o que não é grande coisa em se tratando de Itália e italianos que falam mais alto que os demais europeus.


No último dia cruzei com um cidadão que brigava ao celular em alguém voz alta e, óbvio, gesticulando com a mão como se regendo uma ópera bufa. Fato normal, todos passavam por ele e ninguém se importa. Divertido é ver os que estão no celular com as duas mãos soltas, falando, gesticulando, andando para lá e para cá, expressões as mais diversas de corpo e rosto. Italianos.

- Nossa! Roma está tão ruim assim? 
Infelizmente está passando por uma crise, é patente. Pelo que dizem os romanos, já vem de bom tempo, os prefeitos antes deste foram ruins. Tem obra por tudo quanto é canto preparando a cidade para o Jubileu em 2025, evento religioso que ocorre a cada 25 anos. A bagunça é generalizada, maior que a de outras cidades italianas que estive, incluindo as do sul.


Fiquei próximo à Basilica Santa Maria Magiore, que é impressionante. É uma das quatro basílicas papais, imponente, maravilhosa. Da janela era possível vê-la. Acordar e a noite a vista valeu cada minuto. Os sinos dobrando por 4 minutos às 7:00 h da manhã... A vida no seu entorno é um pouco turística e muito local. Andou um pouco os turistas diminuem e a vida romana surge, a mais diversa, muitas vezes surpreendente. Adorável.
 
Todas as manhãs ia tomar um café, expresso e curtíssimo, delicioso, italianíssimo, no Black & White, sempre cheio de locais que não param de falar. Aula de italiano diária por Euro $ 1,10. Café deles é maravilhoso, para quem gosta de café. Menos de um dedo na xicara, preto, que deixa um sabor por bom tempo. Eu chamo de "aula de italiano" porque o povo em volta fala de tudo, algumas vezes compreensível, outras definitivamente não. Instrutivo, divertido, simpático.


Fiquei ansioso para ir ao Alfredo, il vero, restaurante tradicionalíssimo, receita tradicionalíssima, talharim, manteiga e parmesão, acho que um pouco de creme. Divino a pasta e o local, uma construção modernista imponente. Ansioso também para ir ao Morgana, pequeno restaurante de bairro, ótima cozinha, que continua bem, mas tem um atendimento de merda. Não tivesse acompanhado teria levantado e saído. Virando a esquina tem o Ristorante Pizzeria da Michele, que passei na frente algumas vezes e não dei nada. A recomendação veio de Claudio Bordi, da Bordi Belle Arti, uma casa de material artístico de 150 anos de história, e que história. Voltando ao da Michele, que não tem site, +39064872672, e que às quintas-feiras serve um gnochi maravilhoso, digo único. Não erro ao dizer que é um local para você se sentir "benvenuto a Roma",, a dos romanos.
 
Pizza, pizza, pizza, as romanas, tem por tudo quanto é canto, quadrada, cortada com tesoura, inúmeros sabores, requentada na hora, de tudo quanto é qualidade, do normal para ótimas. Pizza a qualquer hora do dia, café da manhã, almoço, lanche, jantar. Experimente tudo, basta um pedacinho para saber o que são. Cuidado com as 'arrabiatas', apimentadas, que são uma bomba mesmo para quem gosta de pimenta. Sai de São Paulo querendo comer a pizza napolitana, as redondas, borda gorda, fundo fino e pouco recheio. Comi e quero mais. Aliás, comer, gula, Deus que me perdoe minha gula. Não entrei em todas as 920 igrejas de Roma, mas num monte, para agradecer. No geral são de uma riqueza...

É muito agradável sair caminhando por Roma. Patrimônio arqueológico aos montes, nos principais turistas aos montanhas. Quando ainda estava lá decidiram dar um basta na bagunça em torno da Fontana di Trevi. Vão cobrar, vão restringir a visitação, com o que concordo. É muita gente, muita bagunça, muito selfie!

E Roma tem o Monumento a Vitorio Emanuelle, mais conhecido pelos romanos como a máquina de escrever, um treco branco mármore imenso, cheio de detalhezinhos irritantes, um eclético horroroso, de muito mal gosto, que se vê de vários pontos da cidade. Meu Deus do Céu, que coisa feia, que treco destoante de tudo. Já falei demais, chega!

E tem as sirenes. Ah! como é bom o silêncio! E como são chatas as sirenes que cruzam Roma. Pior que em NY? Pior, são muito mais altas e estridentes. 




Só isto sobre Roma? Podeira ficar contando histórias e indicando locais por dias. Desta vez, com tempo, fiquei um mês e meio trabalhando, adorei. Moraria nela fácil, fácil. 

Seja e não seja turista. Fuja do adorável turismo pronto se quiser conhecer o local. 

terça-feira, 29 de outubro de 2024

O povo não sabe o que faz? A eleição responde

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

O que se vende é o que o povo vai comprar. Vendeu errado, vendeu e não entregou, ou qualquer outro problema, vai perder o público, simples assim.

Está eleição prova, mais uma vez, que o resultado não é fruto de mágicos manipuladores, mas do que a população está comprando, ou, mais importante, quer comprar.

A voz do povo... a voz de...

Acredito, ou tenho certeza, que a população seja muito menos boba do que se diz ou querem acreditar. Eles sabem onde estão, sabe onde apertam os calos, e sabem ou buscam saídas para seus problemas. Erram como todos nós, incluindo os que acreditam ter soluções ou ser a solução.

Somos todos humanos.

Me curvo em respeito ao pé de chinelo (literalmente) que pedala muito mais que o pelotão numa bicicleta chinfrim toda gambiarrada. Ele é forte feito um cavalo, sem frescuras, e tem um conhecimento incrível de como recuperar o irrecuperável, transformar o improvável em mais que provável. Morro de inveja.

Mas tenho consciência que meu conhecimento é tão valioso quanto o dele e poderíamos trocar conhecimento e experiências, enriquecer um ao outro.

Um não invalida ou outro, mas se complementa. Aí está a falha de nossa sociedade, o outro é o outro, o eu sei, o selfie. Ah! O selfie! Sempre existiu, mas agora, ah! o selfie.

Somos todos humanos. Fazer distinção por que está deste ou daquele lado é, pelo menos, imaturo.

Falta ao Brasil maturidade. Disto ninguém tem dúvidas, não importa de qualquer lado se esteja. Nossa responsabilidade como cidadãos é olhar o outro, os outros, o todo, com respeito, sem estar com o umbigo de fora, a vista.

Mesmo que não goste, eleições contam verdades. A verdade está aí para quem quiser ver, concorde ou não.

Quer mudar? Não aponte o dedo, abra os olhos.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Eu sou o sol

Eu sou o sol. O sol sou eu. Música maravilhosa de Jorge Ben. 
Não me lembro da letra completa, mas o refrão é  maravilhoso, perfeito. Eu!

A cidade, a população, os indivíduos.

Roma. Cidade eterna. Italianos. Romanos, romanos. Cada um com suas peculiaridades, tudo junto, um sol, varios planetas circundando. O sol da cidade eterna, que por eterna é o sol em si. O sol da Itália, e dos italianos. Dependendo de que cidade, eles negam, tem seu próprio sol e ponto final. Roma foi outro Império,  portanto outro planeta. O dos romanos, começando pelo seu falar peculiar, italiano ma non troppo, romano da vero. O sol de cada um que brilha para todos, discretamente selfie para cada qual.

Roma está uma cidade eterna que urge mudar. Parou no tempo, bom por um lado, perigoso por outro. A modernidade mais que chegou pelo planeta Terra, massacra quem não se adaptar a ela. Roma, ainda um pouco vivendo como no final do Império Romano, trânsito rápido e agitado entre monumentos históricos que se espalham por todos lados. A memória está mais presente que o futuro. O Prefeito está trabalhando para tirar a cidade, leia-se população, deste pensar inercial, o eu sou romano, sou história, eu sou o sol do passado, de um grande passado, talvez do maior da história humana. Mas passado. Por do sol não ilumina as almas. A telinha digital pelo menos os rostos as ruas meio escuras ilumina. É mais que alguma coisa, é o novo sol, a meu ver falso, pueril, enganoso, mas o centro deste novo universo, mais poderoso que a Roma de seu grande Império.

Renato, onde estou hospedado, afirma com todas as que tem que ser direto e sob a batuta das regras digitais. A I.A., inteligência artificial, está aí para ficar, diz ele. Está certo. É o novo sol. Roma que se cuide.
Renato me mostrou como funciona a coisa, leia-se I.A.. Você digita um texto em português claro, formal, explicando sem deixar dúvidas o que você precisa e o I.A. pensa por você. Ou, dizem, trabalha por você. O I.A. coleta todas as informações existentes no mundo virtual e faz uma beleza para seus olhos. Ele é o sol. Viva nossa preguiça na espreguiçadeira, só parece que esquecemos o protetor solar. 

Acho que o I.A. está atrasado. As ideologias oferecem exatamente o mesmo resultado sem a necessidade de digitar uma explicação prévia. O sol que ilumina a tudo é sempre a ideologia pronta. Ou dá fé sega 3 inabalável. Um dia o I.A. ainda chegará lá. Ou estou sendo ingênuo ou não quero crer que a partir de agora seremos devorados  pela religião, a ideologia e o I.A.? Devorados é muito? Controlados, melhor? Pode falar em anulados? Não? Pois é, adorável mundo novo.

Eu sou a revolução! Eu sou o sol! O sol sou eu.
Selfie!

Um dia o I.A. vai ser tão populista quanto as ideologias obsoletas. Obsoletas? Desculpem, não posso, não devo, não direi isto. Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa! 

MTV. Music Television. Eu sou o sol! 
Sou diferente. Eu sou o sol!
A revolução sou eu, meu sol é o que aquece os corações e trará o bom futuro. Terei direito de não querer? Duvido. Se o fizer serei literalmente cancelado. Muitos já os são.

Selfie!

A cidade eterna tem que se modernizar, não resta dúvidas. Está largada e não de hoje. Problemas são muitos, visíveis. Começo pelas calçadas, esburacadas, sujas... Da última vez que estive aqui nem lata de lixo se encontrava pelas ruas. O pequeno rato desesperado que cruzou a rua e distraído atropelou a canela da senhora não foi o único que vi desembestado. Ratos romanos! Devem ser chiques, patrimônio histórico.

Roma está obsoleta. Neste mês que fiquei, ou estou, aqui não ouvi uma conversa entre os romanos sobre modernizar. Eles querem viver a vidinha deles, que aliás é para lá de gostosa. Os ratos que o digam.

Eu sou o sol, eu sou o indivíduo, eu tenho e mereço o calor de meus direitos irrevogáveis. Assim caminha a humanidade. Funcionou até aqui e deve funcionar para o futuro. O ponto é a velocidade que se pretende ou que se impõe, esta nunca tivemos.

Estamos sendo jogados em algo imprevisível. A única coisa que se sabe é que o sol continuará a brilhar, com ou sem vida na terra.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Poluição de Roma

Diferente a poluição de Roma. É branca e grudenta. A princípio pensei que fosse gordura da cozinha, mas definitivamente não é. Vem com o ar, sei lá de onde e do que.

Um pouco antes de deixar São Paulo, depois de mais de um mês sem chuva, quando esta veio, a água captada pelo tonel de minha casa era muito suja, preta como nunca vi, horrorosa. Mesmo morando próximo ao terminal Pinheiros fiquei assustado. Sabia que a poluição estava feia porque tinha que tirar pó num dia, dia seguinte tinha que tirar de novo, e assim todo dia, bastante. Mas não esperava que a água da chuva caída no telhado viesse tão preta e nojenta quanto veio.

Não fui atrás do que gera esta poeira grudenta aqui de Roma, mas desconfio que seja resultado da quantidade de motos e scooters, que poluem mais per capta que automóvel. Sei lá, só um chute. 

“A exposição média dos residentes de Roma às PM2,5 anuais é mais de três vezes maior do que o sugerido pela OMS. Reduzir a poluição do ar de acordo com as diretrizes da OMS poderia não apenas melhorar a saúde do cérebro, mas também reduzir a demanda por serviços psiquiátricos pós-pandemia já sobrecarregados.”

O ar de Roma é leve e inodor, diferente do de São Paulo que em locais congestionados é pesado e tem cheiro forte. A outra diferença se vê no colarinho. Tal qual em Paris, aqui em Roma você usa uma camiseta branca por dias e não tem aquela mancha preta dura de tirar na lavagem, sujeira tipicamente paulistana.

Inexiste veículo soltando fumaça pelas ruas. Todos devem passar por vistoria periódica, típica da Europa. Óbvio que é necessária e faz muita diferença. O máximo é sentir cheiro de gasolina dos poucos carros de colecionador que são usados para passear turistas. 
Sentir gasolina no ar era comum antes dos motores à injeção eletrônica. Eu achava o máximo aquele cheirinho daquela fumadinha de cano de escapamento, símbolo de liberdade, velocidade, emoção,  viagem..., e outras coisas mais daqueles tempos. O desaparecimento do carburador foi uma benção não só para a economia de combustível, mas principalmente para as emissões de poluentes. 

O que me pergunto é se a poluição de Roma é só resultado dos veículos a combustão. Duvido. Motos e scooters, que aqui tem de montão?
A ciência diz que duas rodas motorizadas a combustível fóssil poluem mais que automóvel. A questão é que as daqui, Roma e Itália, estão todas reguladinhas, funcionando perfeitamente, sem escape aberto, barulhento, diferente do que se vê e sente em São Paulo.

A bagunça italiana é outra. Todos mundo tem seus males, defeitos e erros, mas nós caprichamos em tudo. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Sentir-se seguro e estar seguro: não misturar coisas. O exemplo de Roma

 


O trânsito da Itália é a prova cabal que há uma diferença entre estar seguro e sentir-se seguro. O trânsito de Roma tem uma fluidez que parece caótica, e de certa forma é, que dá sensação de insegurança, o que não condiz com a verdade dos fatos. Eles param para pedestres! Ou deixam cruzar a rua! O que é quase a mesma coisa. No fim das contas, chega-se do outro lado da rua sem ser atropelado. Mas aqui em Roma, pelo menos até se acostumar com os usos e costumes locais, vida de pedestre é com alguma emoção.

Pelas ruas se vê ingleses, alemães, suecos, americanos e gente de outros países de trânsito bem organizado que ficam em pânico até entenderem como é o jogo. Em seus países o trânsito para nos dois sentidos no momento que o pedestre põe o pé  no asfalto até quando ele sobe na calçada por completo. É o correto? Sim. Pode ser. Talvez?

Em Roma não, os carros param só quando o pedestre está na linha de frente para o capo do carro. E o pedestre segue assim até chegar na calçada do outro lado. Saiu da frente do carro, ele começa a se movimentar. Não se preocupe com motos, scooters, patinetes, e bicicletas que vão passar pela frente e por trás e que só pararão quando for inevitável. Mas param. Parece uma loucura, mas acreditem, cruzar a rua nesta bagunça é seguro. As velhinhas simplesmente invadem a pista e seguem em frente. Mata a velha não rola por aqui. As "mamma" são tudo querida. Sem elas não tem macarronada!

Tem semáforo para pedestre em Roma? Tem, óbvio tão demorado quanto em Sao Paulo. Mas aqui o povo 'guenta até dar verde. E onde há, a brincadeira é exatamente a mesma de onde só tem faixa de pedestre. Não entedeu? Volte ao parágrafo anterior. Resumindo (e sendo educado), se a conversão for permitida os veículos só param se o pedestre estiver na mira.

Limite de velocidade? Creio que tenha, mas é um mero lembrete, ou coisa que o valha, como contei num outro post. As motos e scooters aceleram sem dó, nem ré, mi, fá. Sol, lá, si, do então... nem dizer. Seria muito mais agradável se não acelerarem tanto e tão rápido  e  mantivessem uma velocidade constante, baixa, de preferência. Menos a ver com, segurança, muito mais com incomodo sonoro.

Domingo passado saí  pedalando pela cidade, longe da área turística, que em qualquer parte do planeta sempre é complicada. Roma praticamente não tem ciclovias ou ciclofaixas. Perigoso? Não, aí sem piada. O mesmo que pedalar é Paris ou NY. 
 
O trânsito da Itália é uma loucura? Pode ser, depende de quem o vê.  O ideal seria que fosse menos fluído. Mas é inseguro? Pelo menos aqui em Roma não é, mesmo que pareça o contrário. 
Roma me fez entender mais uma vez que há uma enorme diferença entre parecer inseguro e ser inseguro. O ideal é que pareça é seja seguro. 

Num trânsito como o brasileiro, que no geral parece e é inseguro, o entender o que é insegurança fica complicado. O que leva a um segundo ponto, o da narrativa distorcida sobre o que segurança e mais distorcida ainda sobre como se construir um trânsito menos agressivo. Seguir acreditando que impor segurança goela abaixo de uma sociedade viciada trará resultados imediatos é de uma cegueira sem-fim. 

A saber, quanto maior o número do ranking, melhor é a segurança. Brasil é o 97°. Suécia o 174°. Holanda, uma de nossas referências prediletas, 172°