- Como foi Roma? ou - Como está Roma? Clássicas perguntas para quem voltou de viagem, não importa de onde tenha vindo.
Com toda bagunça, e não é pouca, eu moraria lá. Deixar Roma não foi fácil. Adorei! mas....
Roma? A estação de trens Termini é a chegada natural a Roma. Muito movimentada, não perfeita, mas limpa, funcional, espaçosa. Claro que com o maravilhoso café, expresso e curto, primeiro ato em solo romano, e mais outras delícias dando as boas vindas. O zoológico circulando pela Termini é completo, a maioria europeus vindos de todas as partes. Orientais, africanos, islâmicos, bem menos que as pessoas pensam, nada que grite aos olhos como as tropas de chineses que se vê em Paris, por exemplo.
Saiu da Termini, a primeira impressão de Roma. Saiu pela frente tudo em obras, tapumes por todos lados. Saiu pela lateral para o lado da Basílica Santa Maria Magiore é um horror, conjunto de edifícios muito mal cuidados, fachada caindo aos pedaços, literalmente, mesmo onde está o McDonald's. Cruzando a avenida, dependendo de onde se vá, anda-se por baixo de "palazzi", edifícios imponentes que faz muito tiveram sua importância comercial, hoje lojas abandonadas, sujeira e alguns mendigos. Saiu pelo lado contrário da estação, onde se encontram vários hoteis pega turistas tradicionais da cidade que são vistos de longe, a situação é bem melhor. A primeira impressão, correta por sinal, é de uma Roma sofrida. Quem se hospeda no entorno da Termini e só vai aos pontos turísticos não faz ideia do que seja Roma.
Uns poucos quarteirões de distância da Termini começa aparecer a Roma eterna, lotada de turistas em alguns pontos, os turísticos é claro. Lotada é o termo correto. Os romanos estão cansados da bagunça, responsabilizam a turistada pelas ruas sujas, que segundo soube era bem mais sujas não faz muito. A prefeitura descobriu que já inventaram lixeiras e muitas foram instaladas pela cidade. O interessante é que elas tem o desenho de lixeiras que deveriam existir num passado distante e não destoam da paisagem das ruas. Como tem muita pixação, não se pode culpar só os turistas. A cidade está mal cuidada e pouco respeitada pelos seus.
As ruas, ah!, as ruas de Roma, com suas calçadas esburacadas, estreitas, dependendo do local lotadas, gente desviando para caminhar junto com os automóveis e motos também num pavimento frequentemente irregular e ou esburacado. Motoristas e motociclistas estão acostumados e respeitam. Os edifícios, i palazzi, lindos, todos meio parecidos, mesmo número de andares e com pintura de fachada que há muito deveria ter sido restaurada. Que horror? Não, definitivamente não! Fiquei imaginando se a não obrigação de manutenção pelos proprietários tem a ver com a imagem que se quer passar de uma Roma Eterna para os turistas. Faz parte do pacote ou não?
Não é por causa do maravilhoso café, expresso e curto, e das inúmeras gelaterias, sempre movimentadas, que vale a pena a caminhada. É comum cruzar com ristoranti, osterie e cantini com mesas na rua e turistas felizes, mas não só eles. Roma é uma deliciosa bagunça italiana, vale a pena. Muito da vida urbana está nas ruas. Eu moraria lá fácil fácil. Delícia.
Para nós brasileiros um detalhe: nada de violência, nem no entorno da Termini onde a questão social está mais patente. Soube que tem um ou outro problema, mas são pouquíssimos, a sensação de segurança é plena não importa que horas você esteja na rua, nem em que rua. Uma madrugada voltei para o apartamento cruzando uma zona nos fundos da Termini, é pouco italiana, muito menos européia, onde vivem imigrantes de todas as partes, local que lembra áreas inseguras por aqui. Nada, zero, tranquilíssimo, bastou dois quarteirões para entender que não estava no entorno da Estação da Luz do meu imaginário. Um bebado cruzando pernas nos fez ir para a rua, mas porque ele vinha como bola de pinball, da parede para os carros, dos carros para a parede, cai não cai, bafo que 10 metros se sentia.
Mendigos? Sim, infelizmente. Todos imigrantes? Não só. Italianos também, muitos, a maioria mais velho. Eles sentam em algum canto e seguram uma canequinha, não pedem, não incomodam, continuam com consciência de seus limites como cidadãos. Em um mês e meio ouvi só dois falando alto, o que não é grande coisa em se tratando de Itália e italianos que falam mais alto que os demais europeus.
No último dia cruzei com um cidadão que brigava ao celular em alguém voz alta e, óbvio, gesticulando com a mão como se regendo uma ópera bufa. Fato normal, todos passavam por ele e ninguém se importa. Divertido é ver os que estão no celular com as duas mãos soltas, falando, gesticulando, andando para lá e para cá, expressões as mais diversas de corpo e rosto. Italianos.
- Nossa! Roma está tão ruim assim?
Infelizmente está passando por uma crise, é patente. Pelo que dizem os romanos, já vem de bom tempo, os prefeitos antes deste foram ruins. Tem obra por tudo quanto é canto preparando a cidade para o Jubileu em 2025, evento religioso que ocorre a cada 25 anos. A bagunça é generalizada, maior que a de outras cidades italianas que estive, incluindo as do sul.
Fiquei próximo à Basilica Santa Maria Magiore, que é impressionante. É uma das quatro basílicas papais, imponente, maravilhosa. Da janela era possível vê-la. Acordar e a noite a vista valeu cada minuto. Os sinos dobrando por 4 minutos às 7:00 h da manhã... A vida no seu entorno é um pouco turística e muito local. Andou um pouco os turistas diminuem e a vida romana surge, a mais diversa, muitas vezes surpreendente. Adorável.
Todas as manhãs ia tomar um café, expresso e curtíssimo, delicioso, italianíssimo, no Black & White, sempre cheio de locais que não param de falar. Aula de italiano diária por Euro $ 1,10. Café deles é maravilhoso, para quem gosta de café. Menos de um dedo na xicara, preto, que deixa um sabor por bom tempo. Eu chamo de "aula de italiano" porque o povo em volta fala de tudo, algumas vezes compreensível, outras definitivamente não. Instrutivo, divertido, simpático.
Fiquei ansioso para ir ao Alfredo, il vero, restaurante tradicionalíssimo, receita tradicionalíssima, talharim, manteiga e parmesão, acho que um pouco de creme. Divino a pasta e o local, uma construção modernista imponente. Ansioso também para ir ao Morgana, pequeno restaurante de bairro, ótima cozinha, que continua bem, mas tem um atendimento de merda. Não tivesse acompanhado teria levantado e saído. Virando a esquina tem o Ristorante Pizzeria da Michele, que passei na frente algumas vezes e não dei nada. A recomendação veio de Claudio Bordi, da Bordi Belle Arti, uma casa de material artístico de 150 anos de história, e que história. Voltando ao da Michele, que não tem site, +39064872672, e que às quintas-feiras serve um gnochi maravilhoso, digo único. Não erro ao dizer que é um local para você se sentir "benvenuto a Roma",, a dos romanos.
Pizza, pizza, pizza, as romanas, tem por tudo quanto é canto, quadrada, cortada com tesoura, inúmeros sabores, requentada na hora, de tudo quanto é qualidade, do normal para ótimas. Pizza a qualquer hora do dia, café da manhã, almoço, lanche, jantar. Experimente tudo, basta um pedacinho para saber o que são. Cuidado com as 'arrabiatas', apimentadas, que são uma bomba mesmo para quem gosta de pimenta. Sai de São Paulo querendo comer a pizza napolitana, as redondas, borda gorda, fundo fino e pouco recheio. Comi e quero mais. Aliás, comer, gula, Deus que me perdoe minha gula. Não entrei em todas as 920 igrejas de Roma, mas num monte, para agradecer. No geral são de uma riqueza...
É muito agradável sair caminhando por Roma. Patrimônio arqueológico aos montes, nos principais turistas aos montanhas. Quando ainda estava lá decidiram dar um basta na bagunça em torno da Fontana di Trevi. Vão cobrar, vão restringir a visitação, com o que concordo. É muita gente, muita bagunça, muito selfie!
E Roma tem o Monumento a Vitorio Emanuelle, mais conhecido pelos romanos como a máquina de escrever, um treco branco mármore imenso, cheio de detalhezinhos irritantes, um eclético horroroso, de muito mal gosto, que se vê de vários pontos da cidade. Meu Deus do Céu, que coisa feia, que treco destoante de tudo. Já falei demais, chega!
E tem as sirenes. Ah! como é bom o silêncio! E como são chatas as sirenes que cruzam Roma. Pior que em NY? Pior, são muito mais altas e estridentes.
Só isto sobre Roma? Podeira ficar contando histórias e indicando locais por dias. Desta vez, com tempo, fiquei um mês e meio trabalhando, adorei. Moraria nela fácil, fácil.
Seja e não seja turista. Fuja do adorável turismo pronto se quiser conhecer o local.