quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Mulheres tem medo de se deslocar a pé




Insegurança faz com que 97% das mulheres temam se deslocar a pé

Para
Rádio Eldorado
SP Reclama - Estadão 

Bom dia. Pura verdade. A violência no Brasil perdeu as regras e limites que toda criminalidade normalmente se impõe. Assaltar mulheres de baixa renda que saem para o trabalho de um ponto de ônibus de periferia, sendo que os assaltantes são vizinhos, filhos de vizinhos conhecidos, como já ouvi mais de uma vez, ultrapassa e muito o que se pode chamar de absurdo. E ninguém faz absolutamente nada, nem as autoridades, nem a própria comunidade onde vivem assaltadas e assaltantes. O medo impera. Ninguém sabe, ninguém vê, ninguém ouviu.

Ontem, na porta de uma academia de bairro rico, perguntei a uma jovem onde morava para pegar um Uber. Seis quarteirões dali, respondeu ela, e não ia a pé por medo.
Respostas como esta são regra. Medo!

Equilíbrio e justiça social de um país só são viáveis quando a cidade oferece condições para isto. Um é reflexo e produto do outro.

"São Paulo não pode parar", velho lema dos paulistanos, da forma como vem acontecendo é bem mais que um tiro no pé. A idiotice do desenvolvimento urbano desenfreado que se vem praticando por aqui vem há muito causando distorções sociais que nos recusamos a ver. O mundo inteiro tem provas cabais que o modelo não é este, e não é de hoje. Mas quem se interessa? Acham lindo, um progresso. Sim, continuamos progredindo para uma cidade de cada vez mais guetos, ricos, médios e pobres, onde cada um cuida do seu. Medo!

O primeiro passo para qualquer futuro digno é vender a ideia que somos todos paulistanos, sem selfies. Paulistanos!, não indivíduos que usurpam para si a mesma cidade, ou melhor, o mesmo espaço urbano, o seu espaço urbano.

São Paulo deixou há muito de ser uma cidade. Nos recusamos ver, tudo em nome de nossa ilusória segurança individual. Deprimente, e burro.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Foi-se meu karma

Terminei de tomar o café da manhã, olhei para o leito e me perguntei "Ué? Não está respirando?" Fui até ele, coloquei a mão no seu peito. Sai do quarto, fiz sinal discreto com as mãos para o médico sinalizando que parou, ele respondeu também com as mãos sem fazer alarde, levantou se e me acompanhou, entrou no quarto, colocou o dedo no pescoço e com cara de espanto disse " Foi. Não esperava que fosse tão rápido". Foi-se meu karma, o mais pesado de minha vida.

Mesmo com todos problemas que tive com ele pela vida, e foram muitos, frequentes, alguns para lá de desagradáveis, as pernas deram uma amolecida. Sinto profundamente pelo que foi. 

A dimensão do que aconteceu pode estar numa resposta que ouvi várias vezes pela vida de amigos próximos dele: ¨Não sabia que Arturo tinha um filho¨. A última foi numa reunião entre amigos aviadores dele quando quem falou a mesma frase quase caiu da cadeira com a descoberta depois de mais de 60 anos de convívio.

Não faz muito o apartamento dele ficou sem internet durante alguns dias. Quando fui avisado, fui até lá, peguei os documentos necessários para religar tudo, tomei o elevador para a garagem, quando abri a porta dei com meu tio que me deu um esculhambo sem tamanho. ¨Você quer matar seu pai?¨. Coisas de família. Só fiquei chateado de não ter respondido que ele, meu pai, como pai, estava morto desde antes de 1966, quando se separou de minha mãe e saiu de casa. Os anos seguintes, sem ele por perto, foram os mais leves e tranquilos daquele momento de minha vida, sem nenhuma discussão dele com meus irmãos, filhos do primeiro casamento de minha mãe, viuva, nem com ela se trancando no quarto por causa de enxaqueca, que minha irmã dizia ser sempre curada com bife gelado.

A primeira surra a gente não esquece. A bem da verdade, eu não me lembro, mas tenho claro o primeiro espancamento, e o pavor que passei a ter dele depois disto. Confesso que de anjinho eu tinha nota zero, e que a razão para a feroz e desproporcional surra foi minha primeira suspensão, ainda no pré-primário. 
Da segunda escapei com a intervensão do braço forte de minha mãe, que conseguiu segurar o punho fechado dele ainda no ar. Pelo menos reagi e deixei claro que por mais aquela reação desproporcional ao meu acidente de carro, causei uma batida, ficaria dois anos anos sem vê-lo, e assim o fiz. Eu tinha 16 anos e até os 18 foi uma paz. Por causa da pressão de toda família, principalmente minha avó, mãe dele, acabei num restaurante, de merda direi, para uma sincera conversa pai - filho. Desde restaurante italiano, ou dito italiano, que felizmente fechou logo depois, e da conversa, que ele falou muito, lembro de uma das sacadas boas que tive na minha vida: ¨Me diz uma coisa, quem é o adulto aqui?¨. Não podeira estar mais certo. Ele enfiou o rabo entre as pernas. Anos depois descobri que os mais próximos da família dele o chamavam de "eterno adolescente". Nada mais real. 

Hoje tanto se fala de bulling, inclusive sobre bulling familiar. Sei bem o que é isto. Ou não terá sido isto? Certo é que ele competia comigo, coisa da cabeça dele, não minha. 
Uma vez, voltando do Guarujá, ele no seu potente SP2 e eu no Fuscão de sua mulher de então, no meio da Serra do Mar me encheu o saco da lerdeza dele, passei e sumi. Não imaginei que seu ego de brilhante motorista, ou piloto, ficasse tão afetado. De novo, não tomei uma surra porque a divina senhora o conteve. 
 
O filho que ele gostaria de ter tido sei bem quem seria porque ele nunca teve qualquer constrangimento não só de apontar quem eram, mas chamá-los de filhos para toda plateia presente. Ciumes meu, dirão? O que houve antes de 1966 e a separação de minha mãe foi bem pesado, supera, melhor, apaga qualquer outro sentimento. Ciúmes? Eu pensava: vai firme que o pai é teu.

Ao que aconteceu comigo juntou-se o que ocorreu com minha mãe e o que pela vida foi ocorrendo no relacionamento com suas outras companheiras. Sempre me questionei se não havia um exagero por parte de minha mãe, mas não, a prova conclusiva veio com o encontro de minha babá faz uns poucos anos. E, mais cômico,  com as próprias histórias que ele contava de sua vida nestes últimos anos. O que minha mãe contou bateu palavra por palavra.
Os jantares de quintas-feiras tinha este confessar inconsciente que tirou um monte de fatos pesados limbo da raiva para os campos da comédia. 

Ele era um monstro? Definitivamente não. Vou defini-lo como um tanto pragmático para sí próprio. Com a maioria das pessoas era um doce, uma pessoa adorável, querida. Também tive estes momentos, mas recheados de estupideses completamente dispensáveis. 

Sei quem sou e sei muito bem quem fui. Nestes poucos dias pós sua ida fiquei relembrando e, pós perda, buscando culpas, razões e etc... A bem da verdade, não soube me posicionar e reacionei muito menos que o necessário, e não raro da forma pouco apropriada para o momento. No final da vida dele, quando finalmente ele baixou a bola, eu até quis conversar, passar a limpo, mas já não era mais tempo, passou, acabou, portanto tenho que engolir o que foi e ponto final. Defino isto como o karma do karma, o não poder vomitar. 

Da mesma forma que simplesmente apagou de minha memória os tempos que ele ainda estava em casa, casado com minha mãe, espero que a maluquice pesada desta nossa vida se apague na minha cabeça. Os bons momentos que ele me proporcionou, que existiram, ainda estão vivos. Afinal, como esquecer um razante de avião na rua Augusta? Sim, verdade. PT BDU, ou Bidú, o apelido do maravilhoso Aero Comander 560U vermelho e branco.

Teve e tem piores, muito piores, muito piores mesmo, gente com uma capacidade destrutiva sem tamanho. Não foi o caso dele. A vítima dele, se é que se pode chamar assim, foi o filho, eu no caso, o único filho, pelo menos que se saiba até aqui. 
A psiquiatria ou psicologia criou um termo para definir a personalidade dele: frienemy, ou o amigo-inimigo. Encaixa perfeito. A mulherada que passou pelo seu mel pelo menos saiu da piração encantada com as qualidades dele. Como disse sabiamente uma delas ¨amor emburrece¨. Sacada genial, a mais pura verdade.


Frienemy ("Frenemy" is an informal term that describes a person who is both a friend and an enemy, or pretends to be a friend but is actually an enemy)

Vá em paz e por favor comporte-se com as mulheres que encontrar aí em cima ou lá em baixo. Lá em baixo acho que não vão se importar muito, mesmo assim, onde quer que esteja veja se deixa a adolescência para trás.

A bem da verdade entender uma brincadeira ou piada nunca foi o seu forte.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Prolongar a vida e o business da medicina

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

50 atrás participei de minhas primeiras reuniões "ecológicas". Naquela época a maioria não fazia ideia do que seria a palavra e sua importância vital para o planeta e todos nós. A discussão dentro da sociedade era praticamente zero, quando não, motivo de piada. Deu no que deu, neste desastre sem precedentes e sem solução. 
Hoje se sabe que o problema é  ambiental, muito mais amplo e sério.

Mais uma vez estou num hospital acompanhando um familiar idoso que vai ser "ressuscitado" para ter uma "vida normal".

Estou revivendo mais uma vez exatamente a mesma história de 50 anos atrás. Óbvio que esta política de manutenção da vida não dará certo. Os números e a curva de faixa etária provam. 
Não discutir racionalmente o que é morte, qual o ponto de se deixar a vida ir, é tão irresponsável, tão inconsequente, tão perigoso quanto foi a cegueira ambiental daqueles anos passados. Repito, os números, a verdade, está aí para quem quiser ver.

Aliás, aos jornalistas pergunto: como é a matemática financeira do sistema de saúde privado em relação aos mortos vivos? Assim os chamo com conhecimento de causa e respeito à verdade.

Por que é para que o sistema está funcionando desta forma? Perguntas que não querem calar no país de uma farmácia em cada esquina.

Por que não investigar e tornar público a questão?

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Jornalismo e credibilidade


Com profunda emoção leio este texto de Carlos Alberto Do Franco, no Espaço Aberto do Estadão, sobre os caminhos para se recuperar o jornalismo. Acerta na mosca quando diz que passamos e muito do ponto de se fazer jornalismo, investigar além das fofocas ou do que atenda às próprias crenças e verdades, o que infelizmente vem sendo muito frequente. Passou muito do ponto de ficar ouvindo sempre as mesmas fontes e seus mesmos princípios, pensamentos e verdades. Além de chato, por repetitivo, é desinformativo. Faz muito que o "E aí, o que mais?" sumiu da pauta.

(A imprensa) "...cada vez mais falamos apenas com uma certa elite. Cada vez mais falamos com nós mesmos", está no texto, pura verdade. A comprovação está na eleição de Trump, como mostram os resultados. Foi, dentre outros, um voto de desconfiança ou desinteresse no discurso fechado desta mesma elite que lê a grande imprensa, portanto o jornalismo mais apurado, profissional e que trabalha dentro de critérios sérios.

De minha parte, como alguém que estudou sobre transformação da cidade e seus cidadãos pelo uso da bicicleta, sei bem o que o artigo trata. 
A baboseira da cabeça dos jornalistas, associada a seus medos infantis, nunca foi capaz de ouvir e respeitar a ciência e as experiências internacionais. Para eles capacete e ciclovias fariam a revolução, e são a resposta incontestável para a segurança do ciclista. É mesmo? Que revolução? Esta que está aí? Nunca foram capazes de ler ou se informar corretamente o porque da bicicleta, o para que a bicicleta, o que se fez correto lá fora. Nunca se interessaram pelo que diz a história e a ciência. Olham o próprio umbigo e ponto final, texto feito e publicado.

Cito a questão da bicicleta, que é exemplo batata para mim, mas o mesmo acontece com vários setores de nossa vida que são divulgados pela imprensa. A questão da violência que o diga, é ótimo exemplo. Eliane Cantanhede, por quem tenho todo respeito, ficou espantada quando descobriu ao vivo na Globo News que a coleta de dados sobre crimes não é uniformizada entre os Estados e que este é um sério problema para a segurança pública. Como assim não sabia?

E daí? O que mais? É o que falta ao jornalismo. 
Aqui cito outro ponto sobre a baixa qualidade do jornalismo que se pratica no Brasil: jornalismo não se aprende na escola. O verdadeiro jornalista tem alguma coisa fora do comum que aqui brinco a sério: jornalista de verdade é um cão farejador de primeira. Só ele sabe onde estão as trufas. É de se tirar o chapéu.

sábado, 9 de novembro de 2024

Violência sem limites

Rádio Eldorado FM


Não só o número de casos de assaltos e roubos têm aumentado, mas a forma como ocorrem.

Sempre houve uma espécie de regras e limites mesmo entre a bandidagem. Sem dúvida não há mais.

O que realmente está acontecendo?

Onde e quando os acordos subterrâneos entre poder público e bandidagem deixaram de funcionar? Por que "o desta linha vocês não passam" simplesmente não está funcionando?

A verdade é que estamos ou nos permitimos estar a mercê de duas bandidagens, uma deprimente política e outra dos ditos bandidos ilegais.


O assassinato a tiros de um denunciante em pleno aeroporto internacional diz muito sobre onde estamos.



sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Fascistas, fantasias politicas, e a nova era

Num agradável jantar em Roma, no meio de gente da esquerda, alguns bem esquerda, subiu a discussão sobre se deve ou não usar o termo fascista para designar algumas figuras.

O artigo abaixo esclarece.


Dois artigos sobre a eleição de Trump e derrota Democratas.



Um tio, gente grande como editor, um dia disse para não ser exagerado na escrita, mas dizer que estes três artigos do Estadão são brutais não é nenhum exagero. 
Esta eleição nos USA define um antes e depois, e o título "Bem vindo ao mundo de Trump" é muito mais acertivo do que possa parecer.
De minha parte diria: esqueça tudo que você sabia. 

Infelizmente o Estadão não dá acesso a não assinantes. A leitura destes três artigos é formativa para uma nova consciência.

Para terminar, fotografei este quarto artigo publicado, sem autorização do Estadão. Que me perdoem, mas é de tanta importância que aqui vai.

Se for ler, antes vai uma tirada de sarro minha ao "libelu" desta vida.
Quando estavam fazendo as primeiras reuniões para a formação de um novo partido político, isto lá na segunda metade dos anos 70, pedi para acompanhar uma amiga da faculdade que estava participando. A resposta dela foi profética:
- Não levo porque você usa mocassim. 

A ironia que vem deste quarto artigo do Estadão é que ele mostra, ou prova, que a revolução social,  a verdadeira, a que veio do povo, de baixo para cima, e não comandada por ditos heróis, ou uma elite ou um grupo fechado em si mesmo, aconteceu no país dos "canalhas capitalistas", como dizem os até ontem revolucionários do e para o povo que seriam seguidos por suas boas ideias. E este recado revolucionário vindo do povo se consolidou através do discurso completamente disparatado, agressivo, criminoso. Ou seja, os que cacarejam suas histórias prediletas como verdades absolutas que guiariam o povo para liberdade deram com os burros n'água.

Não é a história que está sendo reescrita, o que é mais que pertinente quando necessário e honesto, mas o futuro do planeta. 
Peço desculpas às gerações futuras. Errei grotescamente.

Fico triste que uma caminhada digna esteja terminando ou tenha terminado com esta eleição americana, mas falo há tempo que meios e forma não eram adequados. Esticamos demais a corda.
Repito: olhe-se no espelho. 

Sou de esquerda, mas digo que há uma imensa diferença entre populismo de esquerda e projeto realista de responsabilidade social e ambiental que evite vôo de galinha. 

Dizia minha mãe, e repito aqui:
- Não interessa o que você pensa. Me interessa o que os outros pensam de você.

As esquerdas têm suas verdades inabaláveis. As inconsistências são e sempre foram patentes. O resultado está aí para quem quiser ver.

Daqui para frente será uma trabalheira reverter está loucura. Espero que este mundo novo sirva de lição para não repetirmos os mesmos grosseiros erros.





Sentir-se seguro, ser seguro. Tem diferença

Sentir-se seguro e estar seguro: é bom não misturar as coisas.

Ciclismo é essencialmente técnica. Quanto mais você se atem a técnica - correta - mais seguro você está.
A bem da verdade, "Não é a bicicleta que é insegura, mas qualquer veículo mal conduzido é inseguro"; usando as palavras de meu caro amigo Luiz Dranger. Ele costumava tirar um sarro completando "faz besteira num tanque de guerra para ver a merda que dá".

Capacete, luzinhas piscando, ciclovias, e tudo mais que possa ajudar na segurança do ciclista. Ajuda? Óbvio que o sujeito sente-se mais seguro, mas será? As pesquisas são absolutamente claras: uso de capacete aumenta em 17% a possibilidade de acidente. Não faz sentido? Faz. Simples, capacete faz o ciclista sentir se mais seguro, e sentindo-se mais seguro faz dele mais propenso a acidentes.

Não é o sentir-se mais seguro, mas o ser mais seguro que vale. Há uma diferença enorme entre as duas situações. Mais um pouco chego aos 50 anos pedalando praticamente direto, diariamente e com boa quilometragem. Estou farto de conhecer ciclista que bate o pé que faz tudo certo, mas vira e mexe sofre acidente. Óbvio que os outros sempre são os culpados. 

Pensando neste texto lembrei de quando tornaram obrigatório o uso de cinto de segurança e muita gente dizia que não usava porque se caísse num lago com o cinto preso morreria afogado. Quando perguntado sobre quantos carros haviam caído num lago ou córrego, a resposta era imediata: "sem cinto me sinto mais seguro". 

Num pais onde a individualidade é essencial, quanto mais se chama a atenção melhor e se poderá fazer praticamente tudo sem punição, fazer o que se deve fazer é mais que chato, é um risco social. 
Brasil tem índices altos de acidentes de trânsito porque o "eu sei o que estou fazendo" vale mais que tudo. 
Segurança definitivamente não tem nada a ver com eu, mas tudo a ver com nós, com o jogo coletivo, com regras que foram aprendidas por muitos. Deu certo para um ou dois é eventual, deu certo, foi bom para muitos tem tudo para ser o caminho certo.

Seja seguro.