terça-feira, 15 de julho de 2025

Nos falta educação emocional

Sigo dois grupos que estão em lados opostos, literalmente. Um de esquerda ideológica e o outro de direita patológica

O fogo da intransigência sempre esteve aceso, mas depois da reação de Trump com seu 50% o fogo explodiu em acusações pirotécnicas dos dois lados. Nada de novo, só um pouco mais barulhento, luminoso e quente que o habitual.

Confesso que tenho bons amigos dos dois lados, entendo algumas posições, mas fico cansado. Mais, longe deles gasto parte de meu tempo tentando descobrir como reverter esta queimação infernal tão destrutiva para os dois lados e mais ainda para nós, simples cidadãos que só queremos que a coisa funcione bem e tenhamos vidas normais, sem ter que obrigatoriamente que tocar fogo e se queimar.

Educação emocional, nossa educação emocional, aqui no Brasil, é muito ruim, ou inexistente. Se no passado havia uma educação social informal, os usos e costumes que colocavam limites na reação puramente emocional, ela veio se deteriorando ao longo dos anos de uma forma brutal, e o brutal aqui não é figura de linguagem.

Por razões ou interesses estamos jogados um ping pong entre um capitalismo selvagem e um socialismo selvagem, bestial melhor dizendo, os dois. O interesse maior, inclusive dos dois lados? Não interessa. O X da questão é destruir o outro. Fodam se todos e todo mundo. "Nós e eles", "eu!" (selfie!). Quem não quer pancadaria sofre as consequências, leia-se Brasil.

Educação emocional para saber conversar com um mínimo de racionalidade. Deixar o outro falar, ouvir, entender sem ser devorado pela emoção bruta e sem agarrar o outro pela goela.

Não sei o que você sente quando vê nossos congressistas atuando no plenário, mas eu fico maus. Morro de inveja quando vejo congressos ou parlamentos de outros países debatendo, e incluo Itália aí, famosa por seu comportamento expansivo, vamos dizer assim.

Desta vez fiquei tempo suficiente em Roma para poder ser convidado a alguns encontros familiares e de amigos. Voltei para casa feliz, calmo. Mesmo que os italianos tivessem, e tinham, posições bem diferentes, cada um expunha sua razão sem ser interrompido, sem interferências. E só depois de terminada sua exposição alguém começava a falar. 
Estou errado? Não creio. Exagerado? Não. Ou você acha que a baderna que vivemos, que já se transformou em caos, está aí por que? Não falo só de política, mas de violência pura, bruta, estúpida e irracional. De onde imagina que vem? De posições racionais?

Educação emocional leva a uma melhoria da racionalidade, e racionalidade nos levará a qualidade. Olhem os que nos servem de exemplo e verão que este foi o caminho que seguiram.

A entrevistada a Rádio Eldorado, falando sobre educação de crianças diferentes acabou de citar "conhecimento de ciência social". É sobre isto que me refiro quando falo sobre educação emocional. 
Hão de concordar que este Brasil que vivemos é infantil, tipo aqueles que jogam areia na cara do outro para não emprestar seu brinquedo. "É meu!"

Óbvio que para uma minoria não é interessante que a maioria pense racionalmente. E a maioria aceita. Quem cala, aceita, reza a verdade.

O precisamos é vender a ideia que só com um mínimo de controle emocional sairemos desta baderna que estamos metidos.

Os dois lados fanáticos, o do capitalismo selvagem e do socialismo selvagem, não vão mudar, sempre existirão, mas com algum comportamento racional a maioria conseguirá isolar estas doenças, então teremos o futuro que sempre desejamos.

Brasileiro fajuto: só agora descobriram?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 


Descobriram que o cara é brasileiro fajuto? Como diz o povão: "demorou!", isto para deixar o sarro barato. Um passo atrás, tem gente que sabia que Trump não era muito bom da cabeça, mas está se surpreendendo com o que está acontecendo agora. Como assim? Não dava para perceber que aquilo daria nisto? Não era previsível? Estás de brincadeira?!? Um passo a frente, depois de tentativa de golpe contra o Exército, décadas de nulidade no Congresso, 700 mil  mortos, falas sem sentido e outras loucuras absolutamente inaceitáveis, não dava para ter uma noção que o sujeito não está nem aí para não só o Brasil, mas única e exclusivamente interessado no que seja de seus interesses mui particulares? Pior, o sujeito em questão definitivamente não é o único, muito pelo contrário. Não importa a linha política e ideológica, temos aos montes. A bem da verdade, assusta mesmo a cegueira geral. Está sim me preocupa, e muito. 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Solidão: ...

Rádio Eldorado FM 

Brasil é um país com baixa educação emocional. Solidão acaba sendo uma consequência. Solidão individual e coletiva. Não é porque você está encaixado num grupo social que está ou ou acaba só, sente solidão, algumas vezes profunda. Ou você se encaixa na manada, pensa, age e fala a mesma coisa que este geral, ou você é deixado de lado, ou pior, desprezado ou até encurralado. Não importa nada se o solitário tem muito a oferecer. Via de regra não interessa a maioria enxergar a solidão do próximo. Inegável que Brasil virou salvasse quem puder, muito individualista.

Ainda pela baixa educação emocional, é difícil ter uma conversa racional mais profunda, onde os motivos não só da solidão venham à tona sem estremos. Aliás, fora do trivial é difícil estabelecer contato, mesmo com os muito próximos.

Solidão acaba sendo a medida da estabilidade social de um país, mas, quanto mais instável emocionante, menos se consegue rastrear a solidão.

Minha fuga é pedalar. Ou trabalho, o que não estou conseguindo fazer por conta de problemas familiares, problemas estes que estou tendo que aprender a lidar completamente só, portanto na solidão.

Não é porque você tem um ótimo relacionamento que você não está completamente só, totalmente afundado na solidão.
Amar é uma coisa. Amar não implica diretamente na não solidão. As duas emoções podem caminhar juntas, e não raro caminham. 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

50% contra o Brasil ou para salvar papai?

Fórum do Leitor
Rádio Eldorado FM
O Estado de São Paulo

Fogo inimigo? Quem deve se preocupar com artilharia inimiga quando o fogo amigo é muitíssimo mais devastador. Os 50% que Trump anunciou é resultado de diferenças comerciais? Pela forma como foi anunciada tudo leva a crer que é resultado de desinformação plantada por um dos nossos com outros fins. Tem um forte cheiro que serve só para salvar papai. Um país se constrói em meio a diferenças, algumas fortes, pesadas, dificeis de contornar, mas não importa quão diferentes, deve-se encontrar e de alguma forma com integridade encontra-se uma saida. Pode ocorrer jogo pesado, até sujo, mas nunca traição. Traição é absolutamente inaceitável. Se é inaceitável entre pessoas ou grupos, o que dizer trair todo um país em nome dos interesse da própria família. O que vemos agora não terá sido o caso, ou, melhor, a repetição do já acontecido? O lado bom é que a fantasia delirante deve cair até para os mais crentes. Uma traição deste naipe afeta a todos, sem qualquer exceção.

domingo, 6 de julho de 2025

A era do só o muitíssimo é legal

A era do só o muitíssimo (o completo exagero) é legal, entramos nela? Tudo indica que sim. Nunca o muito foi tão muito, necessariamente muitíssimo em tantas áreas de nossas vidas. Comunicação em massa, mais que isto, a manipulação em massa está em nossas mãos, a carregamos no bolso e estamos atentos a ela o dia todo. Mais, aceitamos como natural e bom, melhor, ótimo.
A diferença para o passado é óbvia: a era digital está aí até para os que não querem vê-la, e ponto final.  

Pós escrito: o conceito de infância surge no início do século XIX com a revolução industrial. Antes disto não se fazia distinção entre adultos e crianças. E o conceito de adolescência se firma pós Segunda Guerra Mundial, antes também eram crianças e adultos. Ou seja, usando um termo bem popular: não tinha mi-mi-mi.

Paz e amor, nossa fronteira final? Faz tempo que se acredita que sim, é o nosso fim, e aí faz tempo, muito tempo, procura desesperada desde o surgimento das religiões monoteístas, ou bem antes. Cristianismo a refinou: pratique muito amor e tenha paz no céu, com direito a recepção por São Pedro. E por aí vão esta e as outras. 
 
O Festival de Woodstock foi o ápice do paz e amor, do Flower Power, do faça amor, não faça guerra... Quatro dias de música, sexo e drogas, e paz e amor. Saiu do controle com 500 mil pessoas invadindo a fazenda e lá ficando por quatro dias, debaixo de sol, chuva, lama, precariedade de alimentação, bebidas, higiene, transformando tudo em volta num caos, mas de alguma forma controlado pelos próprios meio milhão de jovens. Quase inacreditável, mas foram só duas mortes, uma por overdose e outro atropelado por trator que ali trabalhava para dar um mínimo de condição de vida para aquela massa de paz e amor.

Os cinco discos gravados e lançados no mercado, mais fotos, filmes e o filme Woodstock mostram o que foi, pelo menos o lado que era interessante mostrar para um público que se sabia restrito, selecionado, e com potencial político e comercial. Paz e amor serve além de suas belas palavras. Woodstock foi para uma geração "muitíssimo legal". 

Aqui, no Brasil, antes disto, a partir da metade dos anos 60, começaram os festivais nacionais de música transmitidos direto pela TV (em branco e preto). Quantos músicos maravilhosos saíram dali. Paz e amor? Não só, ou um outro tipo. É proibido proibir, ou era, ou queriam que fosse, como cantava a música. Vivíamos o começo de uma ditadura militar que ficou braba e o discurso paz e amor pegava menos neste país tropical, ou fazia menos sentido que num Estados Unidos desbundado na riqueza, a todo vapor, mas metidos em uma guerra violenta, Vietnan, sem sentido diziam, a segunda deles pós WWll. Paz e amor era protesto, ou pretexto, como queiram. 

A partir da revolução industrial o "muito é legal" não só para os negócios e capital disparou. Imagina só o que sentia a primeira geração que passou a ter utesilhos domésticos a disposição em casa. Quanto mais, melhor, era novidade e ganhou outra escala: acessível. Rádio e depois TV deram um belo empurrão ao mais é melhor.
Também a partir da revolução industrial surge uma nova era, a era do só o comunismo é muitíssimo legal, que pelo sim ou pelo não tem a ver com o paz e amor do Festival de Woodstock caótico e absolutamente igualitário, pelo menos por quatro dias.

Paz e amor? Paz e amor! 
(Esta porra de corretor automático, que agradeço a Deus por existir e evitar que eu escreva erro atrás de erro de português, corrigiu o paz e amor por Paz é amor, o que dá o que pensar. Mensagem subliminar de Deus ou sacanagem digital do programador que é messiânico? NDA.)

Exageros? Sempre existiram, nenhuma novidade, alguns comportamentais, outros sociais, faz parte de nossa história. A 'era do só o muitíssimo é legal' sempre existiu, mas em nichos, de formas diversas e escalas restritas em setores de cada sociedade, mas não na escala e nível de disseminação que temos hoje. 

Foram muitas eras do "só o muitíssimo é legal". Por exemplo, um dos fatores para a vitória dos aliados na WWll foi a suavidade dançante das big bands americanas. 

Sempre se quis encaixar e viver, regra básica de sobrevivência social. Hoje "muitíssimo" é uma força impositiva gerada pela realidade digital que atinge inevitavelmente a todos, queira ou não queira.

Fato é que paz e amor, da forma como pensamos hoje, eu diria, foi o início da "era do só o muitíssimo é legal" uma novidade recente entre e dentro da humanidade. 

Como curiosidade, dois Beatles, Paul e George, viajaram para San Francisco para ver e vivenciar o paz e amor do Flower Power. Dois dias depois retornaram a Londres. Acharam um porre idiota.
 
De qualquer forma o paz e amor muito turbinado e fortemente distorcido pela pela cada vez mais agressiva propaganda comercial, nos trouxe a esta maravilhosa "era do só o muitíssimo é legal", ou, no dito popular, "quanto mais melhor", ou ainda "quanto mais vende, mais lucra". Neste contexto, com a concorrência que se tem hoje, vale qualquer coisa para sobreviver, inclusive o "só o (meu) muitíssimo é legal". E o pessoal embarca e compra, esta é a questão. 

A memória do meu celular acabou. Limpeza feita. Agora funciona muito melhor. A mesmíssima receita de uma pesquisa científica sobre recuperação da nossa memória, a que temos dentro da caixola, que acabou de ser publicada. Menos informação é mais saudável para o funcionamento geral do corpo, mente e alma. Absolutamente ninguém duvida, pelo menos os que não são das gerações X Y Z e os etc + algo. 
Diz a pesquisa, momentos de observação aleatórios e inconsequentes trazem benefícios para memória e outras funções do cérebro, por conseguinte para a vida. Só funciona com as sensações abertas, focadas no apreciar o momento. Simplesmente dar-se ao direito de perceber e sentir.
Em outras palavras: era e continua sendo muito legal integrar-se à vida. Não é sadio e produtivo entrar de cabeça no só 'o muitíssimo (qualquer coisa, de preferência idiota) é legal' que se vive hoje. (Nossa pausa. Sorria! Selfie!)

Meu agradecimento aos pensadores, historiadores e sociólogos que em diversos artigos tem analisado e colocado em contexto o que vivemos hoje. Estamos um pouco muito mais acelerados do que é sadio. Pelo que me lembro a ideia deste texto, delírio talvez, veio de artigo do Karnal sobre exageros.
 
Termino citando Goebels, que usou e abusou do "só o muitíssimo é legal" para fundamentar a tentativa de impor uma era que teve consequências definitivamente nadíssima legal para centenas de milhões. Aliás, Stalin, Mao e outros do genero, também impuseram o muitíssimo legal a moda deles que também fazem parte de um passado pouco memorável. A ideia de todos eles, ditadores, salvadores da humanidade, populistas, religiosos, tudo junto e separado, pode até ter sido boa, mas.... aí entrou o muitíssimo, a doutrinação do "só o meu muitíssimo é legal". Danou-se!

Será o IA a nova "era do só o muitíssimo é legal"?. Medão! Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante

segunda-feira, 30 de junho de 2025

O drama de quem perde filho usado como publicidade

Rádio Eldorado FM
Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Sei o que a família da menina que caiu no vulcão está passando. Meus sinceros sentimentos. Vi amigos meus perderem filhos e sei o quão devastador é e continuará sendo. Novamente, meus sinceros sentimentos.

Mas sou contra o poder público pagar o translado. Se estava viajando e fora do país é porque tem condições para arcar com as consequências; supõe-se. Ouvi uma opinião, com a qual concordo totalmente: não se deveria permitir sair do país sem seguro saúde que inclua translado.

Antes de pagar o translado de um drama que tocou todo país, portanto é boa propaganda, os governos deveriam ser obrigados a pagar e facilitar velório e enterro de todos os mortos por bala perdida, sem falar em custos reparação vitalícios. Isto jamais acontecerá porque expõe o absurdo fracasso da segurança pública que vem sendo praticada. Já o drama maluco dos que perderam seus filhos nesta guerra insana ninguém fala.

E repito mais uma vez, meus sinceros sentimentos a família da menina. Não é normal e não deveria acontecer a brutalidade de pais enterrarem seus filhos. 


No velório do filho de uma amiga não aguentei a barra e tive que ir embora. A cada notícia da morte do filho de alguém tomo uma porrada emocional, disto não escapo. A vida fez com que me acostamasse com mortes, no plural, as mais diversas, algumas nada agradáveis, das que deveriam me chacoalhar, mas não o fazem, simplesmente entendo, aceito. Mesmo a prática não conseguiu mascarar o brutalidade da morte de um filho de quem quer que seja. Todos que perderam filho nunca mais voltaram a ser os mesmos, isto sei porque acompanho. A cicatriz deixada não fecha, doi sem parar como as queimaduras do inferno, e esta dor fica estampada, não importa quanto tempo passe.  

sexta-feira, 27 de junho de 2025

45 ou 450 m²?

Não tenho como agradecer ao Ricardo pelo delicioso jantar, cozinhado e servido por ele, e poder estar com gente que sempre gosto demais, mas não os via fazia mais de 50 anos. Que absurdo! A vida nos faz tomar caminhos diferentes e perder de vista quem nunca se deveria perder de vista.
Acabou sendo muito divertido, pelas histórias e conversas, muitas recordações do passado, e até pelas briguinhas entre primos, no caso, entre Ricardo e Silvia. Coisa de quem se gosta muito e faz questão de atazanar o outro. Família!

O jantar foi oferecido num dos clubes / condomínios mais exclusivos e chiques do Brasil, algo fora da curva no meio desta insanidade de novo-riquismo desenfreado que vivemos, melhor, que o Brasil se transformou. Quando deixamos de nos ver, lá pelo fim dos anos 60, ser rico era uma outra história. Raríssimos os que ostentavam da forma como se ostenta agora. Tinha lá seus exageros, mas nada comparado com os disparates que temos hoje. 
O clube / condomínio em questa é uma ilha de verde com um clube completo, incluindo barcos e outros esportes de aqui no Brasil são de elite. A sede e várias construções são dos anos 50, creio. Tem alguns com dinheiro que moram ali em casas de uns 200 m² em média, não mais, nem é permitido, boa parte delas no meio da mata atlântica primária beirando a água. E tem os chalés, espécie de casa comunitárias, meia parede, construção padronizada, térreas, que remetem ao que se vê um filmes americanos ou europeus de época, anos 40 ou 50. É lindo. Tudo tem regras para manter as velhas e boas qualidades do lugar, e são respeitadas. É proibido construir nos terrenos padrão, acho que 1.000 m², as alucinadas, fantásticas (?!?) mansão-shopping-center-murado-quanto-maior-melhor-mais-chique-para-esfregar-na-cara-do-outro como se vê cada vez mais com frequência na rica (???) São Paulo. A única coisa que incomoda é quantidade de automóveis, mas deste mal ninguém consegue escapar, pelo menos por enquanto.

Interessante receber o adorável convite para ir naquele clube justamente agora. Por conta de obrigações com a família tive que negar um convite para estar numa cidadezinha de 6700 habitantes no meio do sertão bahiano. O meu anfitrião lá mandou fotos e filmes do lugar, lindo, tão chique quanto onde jantei. Igual na riqueza, mas no sentido oposto, se é que é possível entender isto no meio da baderna cultural que vivemos. 

Lá, no sertão, eu ficaria numa casinha mais ou menos no tamanho da casa onde foi o jantar, talvez um pouco menor. Está no meio do nada, como dizemos aqui neste caos de cidade, ou seja, no meio de uma caatinga verde, esplendorosa, de encher olhos e alma. Uma paz! Me deu raiva de não ter ido. Nas casas do clube me senti muito tranquilo também, a diferença é que na área do social e esportiva do clube tem monte de carro estacionado e circulando, como já disse. Lá no sertão é muito verde, algumas árvores e umas poucas vacas, cabras, cavalos, galinhas... E cobras, que não saem nas fotos, mas foi dito que tem aos montes, talvez não tanto quanto o número de carros do clube. 
Na cidadezinha, no próximo fim de semana, tem as festas juninas, famosas na região. Pelo que entendi e li, não tem nada a ver com multidões, música ensurdecedora, povo olhando para o palco esfuziantemente iluminado com braços erguidos balançando. Festa de cidade pequena, tudo a ver com se divertir até morrer. 

O contraste entre isto e aquilo é de se pensar. Nos dois cantos o objetivo final de seus habitantes é muito parelho, tem mais afinidades do que possa parecer: tranquilidade, paz, ver e viver a vida. Complicado é conseguir fazer encarar e aceitar os paralelos.

E no meio do jantar contei que vivo numa casa de 45 m² de telhado, um choque para um dos convivas. "Como assim, 45 m²? Não entendi. Como pode alguém viver em 45 m²? Minha casa tem 450 m². Não conseguiria viver com menos. Preciso de espaço para viver, pensar, criar, trabalhar." Ok, também preciso de um pouco mais espaço para trabalhar, mas criar coragem e reorganizar, tudo se encaixa. Coisa de cidadão que acha normal a explosão de arranhas-céu, ou será arranhas-céus, com coberturas de muitos metros quadrados, muitos mesmo, tipo de 500 para cima, onde viverão um casal, talvez com filhos. O único feliz, talvez, será o cachorro, desde que não se pergunte "Quer passear?".
 
O ponto comum com a comparação das realidades do que oferece a cidadezinha e o chique clube está em encarar a realidade pelo que ela é, e não pelos preceitos estabelecidos. 

Espaço, a definição da palavra é fácil buscar no dicionário, mas a compreensão ou o sentido subjetivo não. Acabei de ver, no dicionário são 14 as definições, para minha surpresa, duas delas tangenciando o que quero dizer aqui. 
6.
capacidade, acomodação.
"há e. para todos no auditório"
7.
cabimento, oportunidade.
"não havia e. para aquele tipo de comportamento"

Lá, no sertão, no frio congelante de 21° C, segundo a avó de quem me convidou, vi na foto enviada com a família sentada fora da casa com fogueira acesa. Morri de inveja. Um dos meus sonhos é voltar a ver um céu de bilhões de estrelas límpido, e lá, longe da fogueira e da parca luz da casinha, teria a oportunidade, ou terei, porque um dia vou. 
Aqui, na linda e acolhedoura casa do clube, sentamos nós no terraço e conversamos até Ricardo avisar "vamos sentar, o jantar está servido". Até procurei um lugar escuro e olhei para o céu, mas estando em São Paulo se vê muito pouco, quase nada. As luzes da cidade...

Conhecia o clube. Fui umas tantas vezes quando era criança, aí falo de algo como 60 anos atrás, ou mais. Mudou pouco, felizmente. Óbvio que está muito mais cheio.  

O que me espera no sertão é uma viagem ao passado que gostaria de ter vivido muito mais intensamente. Mais ou menos na mesma época em que ia para o clube, também fui para fazendas de vida muito parecida com a simplicidade do sertão. Estrada de terra, casa de pouca mobília e utensílios, cozinha mais simples ainda, na minha época fogão a lenha, uma delícia. Que saudades! Aliás, chuveiro aquecido a lenha, serpentina dentro do fogão. "Toma banho rápido ou acaba a água quente para sua irmã".

O pessoal que revi passava as férias de verão na casa de praia em frente onde eu ficava hospedado. Era tudo open house, portas escancaradas para a multidão de crianças que podiam cruzar a rua sem olhar para ver se vinha carro. Na casa de Ricardo sempre passavam as férias algo como 19 crianças. Na que eu ficava recebia pelo menos mais 5, quando não 6, 7, 8... E tinha ainda a casa de minha tia, com outras mais. Era um exército de crianças.

Numa das fazendas onde fui quando criança nos perdemos, eu e mais dois, subindo um morro e começou anoitecer. O pai do meu amigo mandou um funcionário nos encontrar e trazer de volta. Era um homem negro, muito forte, calmo, que nos guiou para casa e a segurança. Alí descobri que havia vida fora do planeta que eu vivia. 
Na manhã seguinte do terraço eu o vi carpinando e não entendi como alguém que havia nos salvado poderia estar carpinando pesado debaixo daquele sol tórrido. Fui até lá agradecer. Talvez ali tenha começado a entender que a diferença entre o rico clube e a casinha do sertão, entre os 45 e 450 metros quadrados, possa ser olhada de outra forma.

...e no meio da calçada tinha a frente de um carro

Pedalando na calçada completamente desligado chapei a frente de um carro que acessava o estacionamento. Estava olhando janelas acesas de uma casa que foi vendida e pensando se agora vai ser posta abaixo. Bum!, uma barulheira, e chão. 

Sei que pedalar em calçada é, no geral, muito mais perigoso que pedalar junto com o trânsito. Não falo sobre calçadas largas, mas aquelas de bairros, estreitas, e não raro cheia de buracos e obstáculos. 
 
Este não foi o primeiro acidente que tenho pedalando numa calçada. O primeiro e mais marcante, foi quando era criança, lá pelos meus 5 anos de idade, se tanto. Chapei a porta de um carro que estava saindo da garagem de sua casa. Em algum canto tenho a foto da bicicleta com garfo torto, sinal que a batida não foi muito suave. Me lembro que o motorista saiu do carro e veio ver como eu estava, e eu, apavorado menos com a batida e muito mais com a possibilidade que lá em casa meus pais descobrissem que eu fugia para pedalar muito além do que me era permitido. Hoje, fico impressionado que ninguém tenha perguntado porque o garfo estava visivelmente torto para trás. Provavelmente nunca olharam a bicicletinha.

Outro acidente pedalando numa calçada aconteceu tanto por conta de uma deformação da calçada em razão de uma raiz de árvore, quanto por um amortecedor que eu sabia defeituoso e que me jogou para cima e contra um poste. Resultado, uma costela quebrada. 

O terceiro acidente, infelizmente, mas infelizmente mesmo, para minha completa tristeza, mácula imperdoável em meu currículo de mais de 40 anos pedalando, um dia derrubei uma senhora que saia de casa. Calçada muito estreita, não vi, e sobre a calçada jamais poderia ter visto, o portão abrindo e ela ponto meio corpo para fora. Resultado, ela caiu de costas, felizmente sem se machucar, e eu parei no chão. De novo, na calçada e viajando completo na maionese. Na rua, que é estreita e vazia, teria tido ângulo e tempo de reação para não atropelar a senhora. 

Repito a recomendação que sempre faço: não pedale na calçada, é perigoso. O triste é que não adianta falar, o pessoal não só não acredita, mas fica bravo quando falo. Calçada não raro é muito mais perigoso que pedalar na rua.

A segunda razão para este e os outros acidentes foi estar muito relaxado, completamente desligado. Aliás, pensando bem, todos os acidentes que tive, dirigindo automóvel ou pedalando, foram causados por distração.

Estou naqueles momentos da vida que são um tanto agitados, por assim dizer. Tenho pedalado, tanto para transporte quanto para relaxar, desligando a cabeça. Em alguns momentos passo da conta e desligo por completo. Noutros tem tanta coisa rodando na cabeça que também desligo por completo do trânsito. As duas situações são perigosas. Eu já estava prevendo que uma hora a coisa ia dar ruim, e deu, felizmente muito devagar e na calçada. Ficou o alerta: acorda Arturo!


segunda-feira, 23 de junho de 2025

Crime, terrorismo, corrupção


Como muitos brasileiros, guardo o direito de não confiar na lisura do topo de nossa pirâmide do poder público, leia-se inúmeros políticos, alguns governadores e secretários, e principalmente e não só os que agora ocupam o Planalto. A razão para a falta de confiança vem de atitudes, algumas comprovadas, que demonstram um forte interesse por enriquecimento sem a menor preocupação com as consequências para o país. Duvido que estejam preocupados que de onde veio seu bom dinheirinho, se do crime ou de uma possível organização terrorista. Aí está um buraco assustador que vem afundando o Brasil faz tempo. Afinal, corrupção nunca foi usada para financiar terrorismo? Pelo que a história diz, sim, foi.

Fim do Cidade Limpa? Times Square paulistana?

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

Faz tempo que vereadores paulistanos vem usando NY como referência para nossa cidade. No começo desta explosão imobiliária, que causa mais que estranheza, um vereador disse que estava feliz, que São Paulo se transformaria numa Manhattan. Agora querem transformar a cidade numa Times Square em nome do aumento do turismo. Quem afirma isto mostra uma vergonhosa falta de conhecimento. O turismo de NY definitivamente não está ancorado na Times Square. Aliás, ali se faz um turismo de baixo valor agregado, tipo de turismo que as cidades pelo mundo querem se livrar o quanto antes possível. Quem apoia a ideia desconhece o que é o turismo em São Paulo, onde e qual são seu valores agregados e onde estão suas fraquezas. Não resta dúvida que ao apresentar a ideia o vereador deixa claro que faz turismo farofeiro e não tem a mais remota ideia do que a atual NY, a maior e mais interessante revolução urbana dos últimos 70 anos, tem a oferecer e ensinar. As cidades com turismo mais rentável no planeta são limpas, despoluidas e principalmente seguras, nada a ver com cartazes comerciais luminosos.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

O que eu pensei sobre minha vida estava errado

O que eu pensei sobre minha vida estava errado. O que estava errado? Muita coisa. O peso dos meus erros diminuíram, (diminuíram?), quando descobri, através de uma música do Sting no disco Brand New Day, que o Corão fala sobre o valor e aprendizado que se pode tirar das dores, dos sofrimentos. Com certeza os contratempos ensinam. A questão é o tamanho da bagaça, para usar uma expressão bem pop.

Mas precisava ser assim?

Estou desmontando o apartamento de meu pai, que morreu. O relacionamento com ele foi ruim. Não sei se ruim é a palavra certa, mas definitivamente não foi uma relação fácil. Ruim, eu diria. Tenho consciência dos defeitos dos dois, meus e dele. Quando jovem joguei tudo nas costas dele em desabafos e atitudes que me arrependo, muito. Talvez até tivesse razão, e muitas vezes tive, mas a perdi não calando ou metendo a boca no trombone, não sabendo comunicar devidamente, nem com quem de direito.

Comunicar se! Este é o segredo da vida. Errei, mas tenho um bom desconto de ter vivido numa sociedade onde a comunicação é bem precária, digo a boa comunicação, não o frequente vômito inconsequente de palavras.

Num jantar para acabar com dois anos de distanciamento total, no meio de explicações que não eram pertinentes, perguntei a ele quem era o adulto ali, quem era o que deveria ter experiência de vida para não se chegar até uma situação como aquela. Ele ficou mudo. Minha tia dizia que ele era o eterno adolescente. 

Que seja, sei das minhas razões, mas absolutamente nada justifica os erros que fiz. Tereza sempre vem com "Quantos anos você tinha? Você não tinha maturidade...". Eu não aceito, não me dou ao direito de olhar para meu passado e aceitar com tanta naturalidade erros grosseiros. Não posso, não consigo. 

Agora espero que minha experiência sirva para algo, alguém ou alguma coisa. A vida é, ou pelo menos deveria e a ser, um passar de bastões, feito da maneira correta. Em outras palavras, comunicação de forma e no momento apropriados. Ou...

Agora, desmontando o apartamento, tenho certeza que desperdicei minha vida numa pressão que não valia a pena. Mesmo com outras pessoas, aquelas com quem tive bons momentos, eu poderia ter me saído melhor, muito melhor. Faltou maturidade, faltou educação e treinamento para fazer a coisa correta, ou pelo menos minimizar deslizes. Faltou orientação. "A gente vai amadurecendo", dito popular, para mim é comodismo calhorda, de quem acredita que vai aprendendo só com os erros, muitos inaceitáveis. Comodismo principalmente de quem pode e deve orientar, mas tira o seu da reta e senta no sofá. O inaceitável é inaceitável.

Acumular razões, emoções e coisas é fácil, biscoito, como dizíamos. Desmontar a bagunça é outra história, nada fácil. Vivenciei um amigo desmontando suas verdades nos últimos meses de vida. Partindo dele, cabeça dura, para mim foi uma surpresa, pena que muito tarde. Pela vida ele distribuiu riquezas, conhecimentos, ensinamentos, como poucos o fizeram, mas de uma forma dura, grosseria com muita frequência, difícil para quem estava próximo. Poderia ter sido muito mais proveitoso.

Fiz besteira adoidado pela vida. Se arrependimento matasse... Algumas besteiras ainda posso pelo menos me desculpar com quem as sofreu, outras não, até porque é muito difícil achar uma justificativa que se encaixe na palavra "minimizar". Erros de relacionamento e principalmente erros que dizem respeito ao pragmatismo necessário da e para a vida.

Um amigo com quem trabalhei me disse que se eu tivesse vivido fora do Brasil teria tido uma vida muito mais fácil, em todos sentidos. Primeiro, "se"? Então esquece. Nasci e vivi aqui. Tenho certeza que muitos dos meus erros são normalidade desta terra, mas não se justificam, pelo menos não para mim mesmo. Nada justifica.

Um dia olhei no espelho do banheiro e me vi de verdade. Uma coisa é o reflexo nosso de cada dia, outro é cair a ficha de quem está sendo refletido. Foi um tranco, daquela vez um daqueles trancos que faz o motor pegar e o carro desembestar para felicidade da vida do motorista e passageiros. Talvez agora eu deva parar de olhar no retrovisor. Sim, estou fazendo isto. Ou tentando. 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Sabores da infância e do passado

Quais são os sabores de sua infância? Titulo de uma matéria de uma revista Gourmet americana de mil novecentos e bolinha. Boa pergunta.

Arroz, sempre arroz.

Fim de semana eu estava liberado para uma única garrafa de Coca Cola e vez ou outra um suco de pêssego ou pera em lata da Yuqui, creio que esta era a marca. Do gosto das Cocas não me lembro, mas da magia de poder tomar uma lata de suco de pessego ou pera ainda recordo com delícia toda vez que tomo os sucos. Consigo lembrar com detalhes a entrada no supermercado Sirva-se, passar pela pratileira, pedir para pegar, e na rua abrir a lata e bebe-la entrando no paraíso.   

Os bifes feitos por meu pai eram maravilhosos. Frigideira de aço no fogo alto, quando vermelha, derreter manteiga sem deixar pegar fogo, imediatamente colocar o bife com borda de gordura, cozinha cheia de fumaça, um cheiro inigualável, bife começa a sangrar, só então o sal, aí vira o bife, deixa sangrar e serve. Faca afiada, corta-se a gordura, que é o que dá gosto à carne, e... delícia.  

Algumas vezes almocei na casa do então meu amigo Eduardo. Ele tinha uma empregada, Balbina, senhora já de certa idade, negra, que ouvia novela de rádio enquanto cozinhava e fazia um ovo mexido completamente diferente, maravilhoso, dos deuses, ou orixas, ou todos juntos. Eu era muito pequeno para saber qual a magia. Um dia me distraí e deixei os ovos na frigideira com manteiga mais tempo que o normal para um clássico ovo mexido. A clara ficou branca a meio ponto de sair dois ovos fritos, mas eu mexi e... ovos mexidos da Balbina. Não deixe secar. Divino!

Guarujá, peixe com purê, a senhora negra sorridente que gostava de mim e muito mais ainda de meus primos, de quem era cozinheira e santa, e coloca santa nisto, protetora. Nas férias ela ia junto com a família, coisas daquela época. O file de peixe com pure de batatas que era servido era coisa de outro planeta, tanto que, ainda muito pequeno, lá pelos meus 4 anos de idade, um dia fui até a cozinha, minima por sinal, agradecê-la.

Estas são histórias de minha infância. Lembrei, tem mais uma, curiosa. Lá pelos meus 4 anos de idade fui a festa de aniversário de um dos que estudavam comigo no pré primário e uma mão esticou uma garrafa de 7Up para mim. Quando olhei para cima dei com Marisa Matarazzo, sim a própria, a famosa cantora pré bossa nova, que em voz conhecia bem e adorava. Fiquei olhando para ela sem sabem o que responder. Sobre o refrigerante? Sei lá. Marisa Matarazzo!

E troquei de escola, ou fui convidado a mudar, sei lá. Mais justo a segunda opção. E na nova conheci a professora de francês que aplicava seguidas palmatórias, inesquecíveis. Esquece. E Zé Assumpção, amizade que durou mais de 65 anos. Eu não me lembro, mas a mãe dele, senhora fina e gentil, inteligência rara, das minhas paixões, contava rindo que no aniversário do Zé eu comecei uma guerra de brigadeiros na hora do apagar as velas que os adultos não conseguiram controlar. Saíram da sala de jantar, trancaram as portas e deixaram os anjinhos acalmarem. A reforma custou caro. Sobre brigadeiros... não, não são meus prediletos. Sobre a acusação que me fazem, não me lembro, mas nego veementemente. Eu? Fazer uma arte destas? Nunca!

Cachorro quente é bom. Em Mar del Plata, na praia de areia grossa e pedras, mar gelado, primos eufóricos com aquele sol que mal esquentava? Cachorro quente, melhor, panchos, muitos panchos, sentado dentro da barraca, no quentinho do meu casaco, nada mais delicioso. Diga-se de passagem, a salsicha Argentina é outra coisa.

Terceira escola. E minha mãe encasquetou que eu gostava muito de sanduíche de pimentão vermelho. Era bom, mas precisava ser todos dias? Nas raras vezes que tive dinheiro ia me deliciar com o misto da cantina. Muitos anos mais tarde voltei a comer o sanduíche de pimentão vermelho de minha mãe e era muito bom mesmo, mas precisava ser todos dias?

Sorvete Guarujá. Meu pai me deu 200 sei lá o que, creio que Cruzeiros, para passar toda as férias. Gastei 180 na recém inaugurada sorveteira Caramba. Preciso dizer algo mais? 
Poucos anos depois, o mesmo na Fredo de Buenos Aires.  La Flaminia... cucurucho de dulce de leche com cobertura de chocolate? Sonho! Faz uns anos, pouco mais de uma década, abriram uma Bacio di Late próxima. Repeti a loucura da infância: dois grandes de três sabores por dia, um mês impecável. 

Tostado jamon e queso con una tasa de chocolate caliente em Buenos Aires servidos por meu avô, Arturo, final da tarde no terraço do clube. Até hoje consigo sentir os gostos na boca, principalmente do tostado. Ali descobri não só gostos deliciosos, mas o que é uma boa vida. Detalhe, nesta mesma viagem, aos 11 anos de idade,  este meu avô, Arturo, me ensinou o que é um bom café. Avenida Santa Fé, Café de Colômbia expresso, 1966, o primeiro de um vício de vida. Aliás, nesta mesma férias ele, o velho Arturo Raul, parou o carro no meio da estrada, desceu, abriu minha porta, e disse "Daqui para frente você dirige". E lá fui eu. Isto em La Plata. 


Arroz. Entrei em casa depois do colégio e dei com uma panela de arroz recem feito, fogo que acabara de ser apagado, fumegando um cheirinho maravilhoso. Perguntei a minha mãe, mais em tom de brincadeira, se podia comer todo arroz, e ela caiu na besteira de dizer que sim. Panela de arroz para cinco. E eu raspei a panela e fui para meu quarto. Pouco depois aparece minha mãe na porta não sabendo se ficava preocupada pelo absurdo de arroz que eu havia engolido, se dava bronca por que teria que fazer mais e o almoço de meus irmãos que tinham que trabalhar atrasaria, ou o que. Não importa, ela ria e deu a volta em direção a cozinha dizendo a mesma frase que ouvi toda a vida: Arturo, comporte-se!

Arroz!

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Calçadas, caminhar, mobilidade

Segurança jurídica, o termo do momento. Ou a falta de segurança jurídica. É o que define não só os passos para o futuro, mas também quem é a sociedade que oferece ou não segurança. Brasil é o país da lei que cola e lei que não cola, começamos por aí. Brasil é o país com uma das maiores diferenças sociais. Brasil é o país onde caminhar a pé é coisa de pobre. Nossas calçadas que o digam. 
Cidades são o espelho da sociedade que ali vive. É no caminhar das calçadas que se constrói o que refletirá no social. Ali, no caminhar, do qual ninguém escapa, até mesmo motoristas, está estampada a equidade ou iniquidade. 
No Brasil a calçada é de responsabilidade do lote lindeiro, cabendo ao poder público fiscalizar. Há leis e normas, mas como com tudo, tem o que cola e o que não cola e, mais, pouca ou nenhuma fiscalização, isto quando há ou quando respeitam a segurança jurídica, ou ainda outras variáveis típicas do jeitinho brasileiro.
Cidades são construídas com vias, ruas e avenidas, as quais quem caminha obrigatoriamente cruza. Aí a equidade esvanece. A rua é dos automóveis, ninguém nega. O número de pedestres mortos e arrebentados não mente. O poder público tem pleno direito a sinalizar e fiscalizar o trânsito. Fiscalizar? Como? Tem lei (e norma) que cola e tem lei (e norma) que não cola. Fiscalizar o que e como?

Que cidade queremos? Igualdade? Equidade? Que vida você quer? Basta de violência! O primeiro passo é ser respeitado, dirão. Passo, dois passos, caminhar. Parece que brinco com a linguagem, mas não estou, definitivamente não estou. A cidade, a sociedade, a órdem, o progresso, só existem porque nos movimentamos, caminhamos. O direito ao caminhar com segurança é a base de uma sociedade equânime, justa, de bom futuro. Caminhar é mais que necessário, é essencial, determinante. Um país onde ainda se diz que caminhar é coisa de pobre está fadado a o que? Um país onde as leis e normas de segurança no trânsito para pedestres colam ou não colam está fadado a o que? Pense bem, o sujeito sai de casa, vai para a rua, e o primeiro recado que a cidade dá, melhor, que a sua sociedade lhe dá, é "Vai! trouxa! Vê se não atrapalha o trânsito". Muito dos problemas sociais que temos hoje, incluindo baixa produtividade, vem daí. Estou exagerando? Se você pensa assim, tenho certeza que se acostumou com o ruim. 

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Ser moderado, radicais, politicamente correto

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 
Rádio Eldorado FM 





É o que penso. Bravo Norberto Bobbio. Bravo Diogo Shelp.

Eu estou certo e os outros estão errados?

Ideias livres foi o que nos fez alcançar nas liberdades que alcançamos.

Politicamente correto, além de não implicar diretamente em agir corretamente ou ser correto, cai na besteira, para dizer o mínimo, de que o cuidado com as palavras leva direta e inevitavelmente a um comportamento social descente, apropriado, justo, produtivo.

Politicamente correto para quem e para que?

De pessoas que são politicamente corretas perante o público e nada as escondidas estou de saco cheio. Passei minha vida convivendo com eles, e aprendi, e continuo aprendendo. Aliás, aprendemos.
Qual é a inteligência embutida na besteira, até na grossa, estúpida? Não se aprende com erros ou o que possa parecer um erro? É repugnante ouvir o que não nos parece adequado? Se deve censurar ou limitar em nome de uma nova Santa Inquisição?

Salve, salve, Santo Chico Anízio 

sábado, 7 de junho de 2025

Duplamente ameaçado?

Recebi mais uma mensagem sobre os desmandos que ocorrem com frequência no Brasil e cai na besteira de responder. Não, não era vírus, nem fakenews, era fato, verdade, mas enviado com o gosto do ódio que faz da notícia uma arma para enlouquecer os que são contra. Não sou contra o que escreve, penso diferente, acredito em outra forma de resolver o problema, no caso, responsabilidade social. Solto o celular. Respiro. 

Calor pesado e vou tomar um sorvete. Aparece um menino, pré-adolescente, me pede para comprar um sorvete, e digo não. Para que? Como um ser de classe média com cara de alta elite não tenho o direito de recusar, não importa o que sou como cidadão ou se doo um bom percentual do meu dinheiro para instituições de caridade que têm um papel fundamental para a qualidade de vida dos pobres. Não comprei o sorvete para o pedinte, ponto final, sou execrável para o menino e os que estão em volta também tomando sorvete. Duvido que os iguais que me olham com reprovação façam alguma coisa de fato para mudar, ou pelo menos tentar mudar a situação daquele menino, de sua família e conhecidos. Atender ao pedido dele? Ninguém abre a boca ou tira a bunda de seus lugares. O problema é meu, decretam.
O menino tem prática, num rápido olhar sabe bem quem abordar e quem é tempo perdido. Foi bem treinado pela mãe para esmolar, pedir ou vender paninhos. Passa a irmã dele e o seu bebê no colo. Peito grandes que ainda amamentam e bebê bem exposto para todos verem, é concorrência desleal para o seu irmão que está ali pedindo sorvete. Mas o garoto sabe o que faz, é agressivo ao pedir e mais ainda depois de ouvir não, mesmo um não delicado. Solta frases prontas para encostar na parede quem se nega, as mesmas que ouvimos de tantos outros pedintes. Tudo igual. 
O que faço? Penso. Pago R$25,00 pelo sorvete para me livrar da situação ou continuo com a doação automática de R$200,00 / mês para uma entidade séria que com este dinheiro vai dar de comer a uns tantos miseráveis por dias? 

Nego o sorvete de novo, e o ambiente fica pesado. Por que os outros, os que me encaram em desaprovação, não satisfazem o menino? Hoje não quero dar, tive um dia ruim, preciso de paz. Os em volta me olham com desaprovação, mas quando o menino olha para eles buscando outra vítima, todos rapidamente desviam ou olham para o chão. O menino entendeu o jogo e força a barra. Eu tenho vontade de explodir, alguns torcem para que eu exploda, mas respiro fundo e profundamente constrangido até perdi a vontade de continuar no meu sorvete. 
Passa a mãe seguida dos irmãos menores que ela usa para sobreviver, talvez mais correto seria dizer como pequenos escravos. Já longe berra "vem!" para o garoto que se diverte em me acuar. Ele dá um último olhar ameaçador e se vai.

Fico sentado ali mesmo por um tempo, copinho do sorvete na mão vazio. Exausto. 

O direito de ter direito, a segurança publica e o populismo

Fórum dos Leitores
O Estado de São Paulo 

Segurança pública e direitos humanos segundo a vida de três faxineiras. A primeira precisa ser acompanhada pelo marido até o ponto de ônibus que espera até seu embarque. O risco de assalto até violento faz parte da vida no bairro. De uns tempos para cá também no ônibus. Os assaltantes são vizinhos jovens, conhecidos. A segunda só sai para o trabalho um pouco mais tarde para chegar "inteira". A patroa aprova. A terceira, que mora perto da segunda, tem a sorte de pegar o ônibus na porta, mas alguns dias da semana não consegue dormir por conta do pancadão que rola a algumas quadras de sua casa. A história delas é a mesma de milhões. Roubos, assaltos e outras violências, inclusive a macabra lei do silêncio, fazem parte da vida de toda população, independente do nível social.  Segurança pública e direitos humanos? Quantos anos o PT está ou ficou no poder? Lula vai bradar agora sobre segurança pública, só por que sua popularidade despenca? E o PT fica no dilema com os direitos humanos? O recado foi e continua sendo "dane-se os direitos humanos da imensa maioria vítimada violência, o nosso negócio é reeleição". Aliás, sempre foi.
Não, a solução também não está no que propõe esta direita, tão ou mais populista que esta esquerda. Tão religiosos, tão corretos, tão bonzinhos, mas duvido que Cristo ficaria feliz com o que rezam.
Fato é que ninguém, dos dois lados, tem interesse em correr atrás do dinheiro, o do crime, o ilegal, o lavado,  a única forma que se provou acertada e eficiente para frear a violência e melhorar os direitos humanos. Pedir isto a eles é demais, o orçamento secreto que o diga. Populismo lá, populismo cá, e todos sabemos como vai ficar o tico tico no fuba. 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Nada mais estupido que punir piadas?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Entre os que conviveram com judeus costuma se dizer que judeu burro nasceu morto. E quem teve um contato mais aprofundado sabe que uma das bases desta "inteligência" é o imperdoável e maravilhoso senso de humor deles, algumas vezes até cruel com os próprios. Já fiquei sem saber se devia rir ou o que com piadas absurdas contadas por um rabino. É assim que eles, judeus, colocam tudo na mesa para conversar, discutir e pensar. E se fortalecer. E sobreviver...

"Punir piadas é sinal de fraqueza institucional"? Sinal de burrice, tacanhes, mediocridade. Pior, aponta para um Brasil que é tão estupido que deixou de ser risível faz muito.

Benção Chico Anízio

Benção a todos santos comediantes que tentaram fazer deste país um país




Vá de retro o politicamente correto

segunda-feira, 2 de junho de 2025

As rampas para cadeirantes

Rádio Eldorado FM 



A imagem fala por si. Pergunta: boa parte, se não a maioria destas rampas servem realmente para que? A maioria apresenta o mesmo problema: o cadeirante não consegue transpo-la. Ok, melhor com elas do que sem, como dizem, mas mais uma vez se implanta uma melhoria urbana para cumprir a lei, e não para servir ao uso.

Cadeirante ou pessoas com necessidades especiais de mobilidade, para quem estas rampas foram criadas, representam quanto da população paulistana? Mesmo que seja uma minoria, que não o é, eles merecem respeito.

Funcionar mesmo, funcionam para ciclistas subirem rápido na calçada. Definitivamente o projeto não parece ter sido pensado para cadeirantes.

A filmagem foi realizada na esquina das avenidas Higienópolis com Angélica, portanto bairro classe A. O mesmíssimo problema se apresenta na porta do Shopping Higienópolis. A bem da verdade, repito, é comum encontrar pela cidade rampas que pouco servem para seu fim.

Como sempre digo, não é a quantidade, é a qualidade que interessa, porque só a qualidade resolve.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Mais que um simples desrespeito a Marina Silva, Ministra

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Por que chegamos a este ponto? A resposta passa por pela nossa dificuldade conversar, discutir, ouvir, e saber o momento certo de falar, regra básica na troca de ideias. O desrespeito como Marina Silva foi tratada no Congresso é só mais uma ocorrência trivial no planeta de nossas autoridades, nada demais. Não trocamos ideias, atropelamos o outro com verdades particulares. Temas de extrema importância para o país são discutidos de forma pouco ou nada produtivas, isto quando são discutidas. A prova irrefutável? Brasil, o país do futuro (que nunca vem). Se constrói o futuro agregando, não acuando.
Marina tem o respeito e reconhecimento internacional, o que já bastaria para fazer aqueles senhores (?) ouvi-la com atenção, mesmo que ela estivesse ou esteja errada. Da forma como se levou o encontro fica a pergunta: aqueles senhores sabem sobre o que estão falando? Sim, sabem, porque falam com pleno conhecimento de questões particulares, imediatistas, quem sabe em proveito próprio. "Serei reeleito?"  

O Ministério do Meio Ambiente atrasa o progresso do Brasil, disse um deles. Faltou aos distintos políticos perguntar à Sra. Ministra do Meio Ambiente se a demora na definição da liberação das licenças não se deve à falta de pessoal, estrutura e verbas, e a uma discussão séria sobre o que é economia ambientalmente correta e qual a qualidade de futuro - econômico, se quiserem - que ela trás. Pecuaristas estão descobrindo que os mesmos ambientalistas que atrasam o futuro do Brasil estavam certos, e vem adotando medidas produtivas por eles há muito recomendadas.
Se os mesmos parlamentares que fizeram a senhora Marina, a Ministra, se levantar e sair, estão tão interessados no futuro do bem estar da população afetada pelas demoras, deveriam se perguntar por que eles mesmos, Congresso e Senado, não colocou em urgência urgentíssima dispositivo para o fortalecimento das várias investigações pendentes no meio ambiente, principalmente a lavagem de dinheiro e saída de bens de forma criminal do país. Dentre outras. Brumadinho que o diga.

Está claro que estes Congresso e Senado não têm sérias dificuldades para falar sobre meio ambiente. Pelo que já demonstraram, não lhes interessa destravar o futuro de todos, sem exceção, mas deixar a boiada deles passar. 

O Brasil é mestre em perder janelas de oportunidade. Há momento apropriado para tudo, inclusive para baixarias que sempre devem ser evitadas, mas infelizmente acontecem. Tratar alguém muito respeitado mundo afora de forma que este venha a se levantar e sair de uma reunião oficial que está divulgada por todas as mídias, aos quatro ventos, é dar mais uma prova que as autoridades brasileiras são imaturas, imprevisíveis, pouco polidas, o que, isto sim, sem nenhuma dúvida, atrapalha uma barbaridade o Brasil. Não só faltou sensibilidade, faltou inteligência, o que infelizmente também é fato corriqueiro. Não coloco aqui se foi ele ou ela, o que só piora a baixaria, mas o estrago sem tamanho para a imagem, comercial inclusive, de um país que já está vergonhosamente enrascado com a COP 30. 

Em entrevista para o Estadão, Kenneth Medlock, coloca que, por exemplo, a exploração de petróleo na faixa equatorial poderia financiar o frear da extração de madeira e do garimpo ilegais. "Poderia", mas no Brasil real terá alguma chance de ir? Quem se interessa de fato pelo meio ambiente? Interessante, a cada dia quem vem se interessando nos resultados ambientais é o agro busines. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

PPP para o Parque Dom Pedro

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

Faço meus mais sinceros votos que saia a PPP do Parque Dom Pedro II. Dizer que está degradado é de uma gentileza sínica. A deprimente transformação que aquela área sofreu por décadas deixa claríssimo a total falta de respeito e completa ignorância com que São Paulo vem sendo impiedosamente tratada.

Cito em particular Paulo Salim Maluf, seus assessores e apoiadores, inclusive os dentro da população, que bateram e seguem batendo palmas para o absurdo tamponamento do Rio Tamanduateí e a implantação do Expresso Tiradentes da forma que se fez, o que ajudou e muito a degradar não só a aérea do parque. 

O uso de espaços públicos, áreas verdes, e praças para resolver problemas diversos atenta contra a qualidade urbana, o que parece que só agora começa a ser percebido pela população, isto com bem mais de um século de atraso em relação as grandes cidades do mundo. Urge retomar o bem publico que é de todos ou nunca, repito, nunca alcançaremos a qualidade de vida mínima desejada, incluindo aí para os mais necessitados.


Resta saber a quem interessa a degradação existente.



domingo, 25 de maio de 2025

Dor pela perda de uma adolescente

Que merda! Sem saber quem são os pais, meu mais profundo pesar. Perder uma filha nesta idade é uma porrada, a bem da verdade um conto de terror

Que merda de dor! Não conheci a menina, ou talvez a tenha visto alguma vez. Ainda não sei quem é. A notícia chegou como uma pedrada no olho. Quando adolescente perdi alguns amigos. Na época não foi tão pesado. Hoje, como avô, a simples hipótese virou um conto de terror. Depois que dois amigos, M e J, perderam os seus filhos, a escala de sentimentos desapareceram sobre as mais altas nuvens, lá nos céus.

A família de minha filha morou dois anos em Roma, morando a uns 700 metros da Estação Termine de trens, redondezas normalmente mais problemáticas em qualquer cidade. Total segurança, zero perigo. Paz, tranquilidade.

Não sei como aceitamos o que aceitamos por aqui. Amanhã ou depois saberei a causa morte da menina. Qualquer que tenha sido, não é normal que pais enterrem seus filhos. Agora, nesta minha dor, não tenho como pedir desculpas pela tragédia diária de tantas mães, pais e familiares das periferias.

A família, meu profundo e sincero pesar

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Mudar nomes de logradouros é um desrespeito à história

SP Reclama
Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

A História é a história do vencedor ou é a história? Sim, a história contada sempre tem um viés do vencedor, mas a verdade verdadeira só vem quando não se apaga a força nomes e fatos dos derrotados.

Av. Robert Kennedy virar av. Atlântica? Costa e Silva virar João Goulart? Resolve? Definitivamente não, tanto pelos usos e costumes da população quanto e principalmente porque se sai de uma história mal contada para outra história mal contada, ao gosto de quem pode. Aliás, a verdadeira história não interessa a ninguém. Se for contada como deve ser e foi, é muito provável que não sirva a causa e os interesses de ocasião.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Comentário sobre Opinião de Lusa Silvestre a respeito do Pacaembu

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 



Não sei qual a relação do Lusa com o Estadio e Conjunto Esportivo Pacaembu, mas sei qual foi a minha e de minha família. Meu avô , Fernando de Azevedo, comprou a casa modelo da City Pacaembu, rua Bragança 53, no lançamentos do loteamento. Sim, de fato, havia uma bica de água onde minha mãe ainda criança ia pegar água. Desde que comecei a nadar no Pacaembu, em 1974, a cabeça de leão encrustada numa pedra que um dia fez parte da bica estava seca e jogada num canto. O corrego que passa por baixo foi problema que tentou se resolver não é de hoje. Espero que finalmente sido resolvido. Só não frequentei o Pacaembu em 1986, quando morei fora. Ele faz parte de minha vida. E ano após ano vi aquilo tudo se desfazer, cair aos pedaços, literalmente. Fiz parte de restrito grupo de frequentadores que colocou dinheiro e mãos a obra para manter a área esportiva aberta. Tive a sorte de jogar futebol no estádio e a infelicidade de vê-lo cada dia mais cheio de problemas. Campo, arquibancadas, banheiros, tudo do estádio estava muito deteriorado. Tobogam? Primeiro, foi construído com a distribuição da concha acústica, o que foi um crime contra o projeto original, e porque não dizer, contra a população. Para os torcedores? Assisti jogos de lá e não era exatamente legal. Gostava dali quem acha ruim normal, aceitável. Quem fala a favor do tobogam desconhece sua história, as críticas pesadas que recebeu ao ser construído e, pior, o aborto da engenharia que ficava atrás, sob a arquibancada. O hotel que está em seu lugar é uma solução inteligente, acompanha o que de melhor e mais inteligente que se faz mundo afora. O Pacaembu que foi deixado para trás, pelo que ouvi em tempos passados de Secretários Lazer e Esporte do Município e de diretores do Pacaembu, aliás publicado na imprensa, aquele importante, custava R$500 mil por mês só para não deteriorar mais ainda, isto para um número de usuários muito aquém do potencial. Fora outros problemas que prefiro esquecer. Ah! roubos e assaltos, definitivamente não são novidade, lá e em toda cidade. Toda esta falácia vem de quem não frequentou muito, todo ano, todas estações, por mais de 40 anos, acompanhando quase dia a dia o drama que este patrimônio histórico, cultural e principalmente público, querido Pacaembu, passou. Realmente espero que este novo projeto de certo, porque o que vi é vivi foi deprimente, reflexo de um Brasil tacanho, que não consegue entender o futuro. Aliás , Lusa, nosso futebol que o diga.

Poly

"Minha mãe morreu." A mensagem foi curta e sabendo de quem veio, profundamente dolorida.
Eu perdi as pernas. Senti uma exaustão, um vazio, duro.
Foram poucas as vezes que sentei com Poly e conversamos com tempo e calma, mas a recordação é farta, rica, muito agradável, fluente. Me sinto culpado por não ter repetido sempre.
Vá em paz, Poly.

Não consigo mais contar quantos amigos e familiares que morreram. Posso brincar que vivenciei morte por baciada. Alguns foram uma perda, no sentido mais bruto. Em poucas situações me desestabilizei, resultado do volume de perdas, enfim, da prática.
Demorei para dormir pensando porque com alguns, em específico, desmoronei. Foi o caso. Preciso chafurdar nos meus pesares para tentar encontrar uma resposta. E chafurdar é a palavra correta.

Beijo Poly. Obrigado.