segunda-feira, 2 de junho de 2025

As rampas para cadeirantes

Rádio Eldorado FM 



A imagem fala por si. Pergunta: boa parte, se não a maioria destas rampas servem realmente para que? A maioria apresenta o mesmo problema: o cadeirante não consegue transpo-la. Ok, melhor com elas do que sem, como dizem, mas mais uma vez se implanta uma melhoria urbana para cumprir a lei, e não para servir ao uso.

Cadeirante ou pessoas com necessidades especiais de mobilidade, para quem estas rampas foram criadas, representam quanto da população paulistana? Mesmo que seja uma minoria, que não o é, eles merecem respeito.

Funcionar mesmo, funcionam para ciclistas subirem rápido na calçada. Definitivamente o projeto não parece ter sido pensado para cadeirantes.

A filmagem foi realizada na esquina das avenidas Higienópolis com Angélica, portanto bairro classe A. O mesmíssimo problema se apresenta na porta do Shopping Higienópolis. A bem da verdade, repito, é comum encontrar pela cidade rampas que pouco servem para seu fim.

Como sempre digo, não é a quantidade, é a qualidade que interessa, porque só a qualidade resolve.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Mais que um simples desrespeito a Marina Silva, Ministra

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Por que chegamos a este ponto? A resposta passa por pela nossa dificuldade conversar, discutir, ouvir, e saber o momento certo de falar, regra básica na troca de ideias. O desrespeito como Marina Silva foi tratada no Congresso é só mais uma ocorrência trivial no planeta de nossas autoridades, nada demais. Não trocamos ideias, atropelamos o outro com verdades particulares. Temas de extrema importância para o país são discutidos de forma pouco ou nada produtivas, isto quando são discutidas. A prova irrefutável? Brasil, o país do futuro (que nunca vem). Se constrói o futuro agregando, não acuando.
Marina tem o respeito e reconhecimento internacional, o que já bastaria para fazer aqueles senhores (?) ouvi-la com atenção, mesmo que ela estivesse ou esteja errada. Da forma como se levou o encontro fica a pergunta: aqueles senhores sabem sobre o que estão falando? Sim, sabem, porque falam com pleno conhecimento de questões particulares, imediatistas, quem sabe em proveito próprio. "Serei reeleito?"  

O Ministério do Meio Ambiente atrasa o progresso do Brasil, disse um deles. Faltou aos distintos políticos perguntar à Sra. Ministra do Meio Ambiente se a demora na definição da liberação das licenças não se deve à falta de pessoal, estrutura e verbas, e a uma discussão séria sobre o que é economia ambientalmente correta e qual a qualidade de futuro - econômico, se quiserem - que ela trás. Pecuaristas estão descobrindo que os mesmos ambientalistas que atrasam o futuro do Brasil estavam certos, e vem adotando medidas produtivas por eles há muito recomendadas.
Se os mesmos parlamentares que fizeram a senhora Marina, a Ministra, se levantar e sair, estão tão interessados no futuro do bem estar da população afetada pelas demoras, deveriam se perguntar por que eles mesmos, Congresso e Senado, não colocou em urgência urgentíssima dispositivo para o fortalecimento das várias investigações pendentes no meio ambiente, principalmente a lavagem de dinheiro e saída de bens de forma criminal do país. Dentre outras. Brumadinho que o diga.

Está claro que estes Congresso e Senado não têm sérias dificuldades para falar sobre meio ambiente. Pelo que já demonstraram, não lhes interessa destravar o futuro de todos, sem exceção, mas deixar a boiada deles passar. 

O Brasil é mestre em perder janelas de oportunidade. Há momento apropriado para tudo, inclusive para baixarias que sempre devem ser evitadas, mas infelizmente acontecem. Tratar alguém muito respeitado mundo afora de forma que este venha a se levantar e sair de uma reunião oficial que está divulgada por todas as mídias, aos quatro ventos, é dar mais uma prova que as autoridades brasileiras são imaturas, imprevisíveis, pouco polidas, o que, isto sim, sem nenhuma dúvida, atrapalha uma barbaridade o Brasil. Não só faltou sensibilidade, faltou inteligência, o que infelizmente também é fato corriqueiro. Não coloco aqui se foi ele ou ela, o que só piora a baixaria, mas o estrago sem tamanho para a imagem, comercial inclusive, de um país que já está vergonhosamente enrascado com a COP 30. 

Em entrevista para o Estadão, Kenneth Medlock, coloca que, por exemplo, a exploração de petróleo na faixa equatorial poderia financiar o frear da extração de madeira e do garimpo ilegais. "Poderia", mas no Brasil real terá alguma chance de ir? Quem se interessa de fato pelo meio ambiente? Interessante, a cada dia quem vem se interessando nos resultados ambientais é o agro busines. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

PPP para o Parque Dom Pedro

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

Faço meus mais sinceros votos que saia a PPP do Parque Dom Pedro II. Dizer que está degradado é de uma gentileza sínica. A deprimente transformação que aquela área sofreu por décadas deixa claríssimo a total falta de respeito e completa ignorância com que São Paulo vem sendo impiedosamente tratada.

Cito em particular Paulo Salim Maluf, seus assessores e apoiadores, inclusive os dentro da população, que bateram e seguem batendo palmas para o absurdo tamponamento do Rio Tamanduateí e a implantação do Expresso Tiradentes da forma que se fez, o que ajudou e muito a degradar não só a aérea do parque. 

O uso de espaços públicos, áreas verdes, e praças para resolver problemas diversos atenta contra a qualidade urbana, o que parece que só agora começa a ser percebido pela população, isto com bem mais de um século de atraso em relação as grandes cidades do mundo. Urge retomar o bem publico que é de todos ou nunca, repito, nunca alcançaremos a qualidade de vida mínima desejada, incluindo aí para os mais necessitados.


Resta saber a quem interessa a degradação existente.



domingo, 25 de maio de 2025

Dor pela perda de uma adolescente

Que merda! Sem saber quem são os pais, meu mais profundo pesar. Perder uma filha nesta idade é uma porrada, a bem da verdade um conto de terror

Que merda de dor! Não conheci a menina, ou talvez a tenha visto alguma vez. Ainda não sei quem é. A notícia chegou como uma pedrada no olho. Quando adolescente perdi alguns amigos. Na época não foi tão pesado. Hoje, como avô, a simples hipótese virou um conto de terror. Depois que dois amigos, M e J, perderam os seus filhos, a escala de sentimentos desapareceram sobre as mais altas nuvens, lá nos céus.

A família de minha filha morou dois anos em Roma, morando a uns 700 metros da Estação Termine de trens, redondezas normalmente mais problemáticas em qualquer cidade. Total segurança, zero perigo. Paz, tranquilidade.

Não sei como aceitamos o que aceitamos por aqui. Amanhã ou depois saberei a causa morte da menina. Qualquer que tenha sido, não é normal que pais enterrem seus filhos. Agora, nesta minha dor, não tenho como pedir desculpas pela tragédia diária de tantas mães, pais e familiares das periferias.

A família, meu profundo e sincero pesar

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Mudar nomes de logradouros é um desrespeito à história

SP Reclama
Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

A História é a história do vencedor ou é a história? Sim, a história contada sempre tem um viés do vencedor, mas a verdade verdadeira só vem quando não se apaga a força nomes e fatos dos derrotados.

Av. Robert Kennedy virar av. Atlântica? Costa e Silva virar João Goulart? Resolve? Definitivamente não, tanto pelos usos e costumes da população quanto e principalmente porque se sai de uma história mal contada para outra história mal contada, ao gosto de quem pode. Aliás, a verdadeira história não interessa a ninguém. Se for contada como deve ser e foi, é muito provável que não sirva a causa e os interesses de ocasião.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Comentário sobre Opinião de Lusa Silvestre a respeito do Pacaembu

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 



Não sei qual a relação do Lusa com o Estadio e Conjunto Esportivo Pacaembu, mas sei qual foi a minha e de minha família. Meu avô , Fernando de Azevedo, comprou a casa modelo da City Pacaembu, rua Bragança 53, no lançamentos do loteamento. Sim, de fato, havia uma bica de água onde minha mãe ainda criança ia pegar água. Desde que comecei a nadar no Pacaembu, em 1974, a cabeça de leão encrustada numa pedra que um dia fez parte da bica estava seca e jogada num canto. O corrego que passa por baixo foi problema que tentou se resolver não é de hoje. Espero que finalmente sido resolvido. Só não frequentei o Pacaembu em 1986, quando morei fora. Ele faz parte de minha vida. E ano após ano vi aquilo tudo se desfazer, cair aos pedaços, literalmente. Fiz parte de restrito grupo de frequentadores que colocou dinheiro e mãos a obra para manter a área esportiva aberta. Tive a sorte de jogar futebol no estádio e a infelicidade de vê-lo cada dia mais cheio de problemas. Campo, arquibancadas, banheiros, tudo do estádio estava muito deteriorado. Tobogam? Primeiro, foi construído com a distribuição da concha acústica, o que foi um crime contra o projeto original, e porque não dizer, contra a população. Para os torcedores? Assisti jogos de lá e não era exatamente legal. Gostava dali quem acha ruim normal, aceitável. Quem fala a favor do tobogam desconhece sua história, as críticas pesadas que recebeu ao ser construído e, pior, o aborto da engenharia que ficava atrás, sob a arquibancada. O hotel que está em seu lugar é uma solução inteligente, acompanha o que de melhor e mais inteligente que se faz mundo afora. O Pacaembu que foi deixado para trás, pelo que ouvi em tempos passados de Secretários Lazer e Esporte do Município e de diretores do Pacaembu, aliás publicado na imprensa, aquele importante, custava R$500 mil por mês só para não deteriorar mais ainda, isto para um número de usuários muito aquém do potencial. Fora outros problemas que prefiro esquecer. Ah! roubos e assaltos, definitivamente não são novidade, lá e em toda cidade. Toda esta falácia vem de quem não frequentou muito, todo ano, todas estações, por mais de 40 anos, acompanhando quase dia a dia o drama que este patrimônio histórico, cultural e principalmente público, querido Pacaembu, passou. Realmente espero que este novo projeto de certo, porque o que vi é vivi foi deprimente, reflexo de um Brasil tacanho, que não consegue entender o futuro. Aliás , Lusa, nosso futebol que o diga.

Poly

"Minha mãe morreu." A mensagem foi curta e sabendo de quem veio, profundamente dolorida.
Eu perdi as pernas. Senti uma exaustão, um vazio, duro.
Foram poucas as vezes que sentei com Poly e conversamos com tempo e calma, mas a recordação é farta, rica, muito agradável, fluente. Me sinto culpado por não ter repetido sempre.
Vá em paz, Poly.

Não consigo mais contar quantos amigos e familiares que morreram. Posso brincar que vivenciei morte por baciada. Alguns foram uma perda, no sentido mais bruto. Em poucas situações me desestabilizei, resultado do volume de perdas, enfim, da prática.
Demorei para dormir pensando porque com alguns, em específico, desmoronei. Foi o caso. Preciso chafurdar nos meus pesares para tentar encontrar uma resposta. E chafurdar é a palavra correta.

Beijo Poly. Obrigado.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Falha de memoria ou o quê?

Cara, isto aqui pode dar um texto bem divertido, isto se eu não esquecer o que tenho que escrever. 

Falha de memoria, demencia ou o quê? O que eu tenho? Melhor, o que sempre tive? Um artigo do Estadão fala exatamente sobre este drama que atinge montanhas de idosos, e alguns tantos outros também. Eu mais que incluído.

Momentos de esquecimento ou sinais de alerta?

Pode ser difícil avaliar quando os problemas de memória exigem atenção médica. No entanto, você provavelmente deve consultar um médico se apresentar qualquer um dos seguintes sintomas:
  1. Episódios frequentes de esquecimento, como não lembrar de uma conversa recente ou perder compromissos;
  2. Dificuldade frequente em reter novas informações, como um número de telefone ou endereço;
  3. Erros no pagamento de contas ou na administração de medicamentos;
  4. Dificuldade em encontrar o carro estacionado, problemas para se localizar em áreas familiares ou pequenos acidentes de carro.
As recomendações deste artigo não me atingem. Esqueço delas com facilidade. 

Itém 1: não lembrar de conversa recente... Não me lembro o que estou conversando no meio da conversa, o que dizer sobre conversas passadas, recentes? Para os que são novinhos - ainda - aviso: quando chegarem a terceira idade, a melhor idade ou a porra que seja, vão engastalhar o pensamento no meio da fala, vai dar um branco total, o outro vai entender, e os dois vão rir muito - isto se os dois forem da porra que seja, leia-se velhos.

Itém 2: dificuldade frequente de reter novas informações... Se algum dos meus professores estiver vivo pergunte a eles que maravilha de aluno eu fui. Faça cara de paçoca caso algum deles desandar a chorar, que não se saberá se de riso ou raiva, e não se saberá porque estão todos mortos. Minha mãe ficava desesperada com minha falta de atenção. "Meu filho compra uma dúzia de ovos..." e voltei com uma dúzia de laranjas, laranjas de verdade, rindo que era um absurdo ela ter pedido uma dúzia de óvos. Quem não fez uma destas?

Itens 3 e 4 não são para mim, a não ser quando me perco na maldita digitação do código de barras. Não ria, aposto que você também colocou o leitor de código de barras uma vez, duas, três, e vá para a...
Remédios? Não tomo, e quanto tenho que tomar sou meio religioso. Óbvio que aos domingos lembrei do remédio quando o padre me deu a hóstia. 
Em que garagem deixei o carro? Opa! Como vou lembrar se sequer olhei em que garagem entrei?
Quando era adolescente, e isto faz muito tempo, fui com minha mãe para o supermercado com nosso Fusca 1200 branco. Saímos do supermercado, entramos no fusca branco, chegamos em casa, e quando estávamos tirando as compras minha mãe perguntou rindo se o estofamento de nosso fusca não era branco. Voltamos ao estacionamento do supermercado com o fusca de estofamento preto, paramos ao lado do nosso, trancamos bonitinho o fusca roubado, entramos no nosso e em profundo silêncio voltamos para casa. Quem não fez desta?

Minha memória mostra o buraco negro, aquele para onde tudo é sugado e desaparece, com nomes das pessoas, ou seus rostos. Das bicicletas me lembro. Cachorros também, de vez em quando. Nomes? Como assim. Não! Mas como nunca consegui lembrar nomes criei uma técnica quase perfeita para contornar a situação. A única coisa que não pode acontecer é a pessoa perguntar se eu me lembro o nome dela, aí lascou!

Eu tive uma memória invejável para mapas e caminhos, mas deprimente para nomes de ruas, avenidas e localidades. 
Quando trabalhava com projetos urbanos o pessoal sabia que o trabalho só funcionaria com mapa extendido na mesa. "O que se faz no bairro X?", e eu ficava com cara de completo idiota. Mapa estendido na mesa e eu era capaz de descrever o que tinha em cada esquina do dito bairro, não raro com detalhes. Isto em boa parte de toda cidade.
Numa das reuniões, 1983, com três cardeias da CET SP, a sala tinha um mapa na parede, como era usual. Fui explicando o que pretendia e dando exemplos do que se teria que fazer em vários pontos da cidade para introduzir a bicicleta como modo de transporte. Um deles não acreditou no que minha memória era tão precisa. Para me testar, foi até o mapa e apontou uma esquina aleatória, e eu respondi descrevendo detalhe por detalhe do local, poste, valeta, local da banca de jornal, placas de sinalização... O segundo achou que eu tinha dado sorte, foi e apontou uma segunda esquina do outro lado do mundo, e de novo descrevi o que fazer em detalhes. O terceiro perguntou se eu tinha memória tudo e respondi "Experimenta" apontando para o mapa de São Paulo.  
Repeti o mesmo em várias reuniões, mas não serviu para nada. Um grande amigo um dia me ensinou "Cuidado ao mostrar conhecimento. Pode ser perigoso ou ofensivo para o outro". E foi.

Uma coisa é ser desmemoriado, outra é ter medo de sua própria memória e perder confiança nela, que é o que vem acontecendo comigo, e descobri que não só comigo, mas com um monte de gente. "Chama o Google" é um crime contra a segurança memorial. 
Um dia pediram informação de onde era uma rua, no caso a rua onde nasci. Mais, estávamos a um quarteirão dela. Literalmente entrei em pânico e não soube responder.

Estive em Córdoba, Argentina, uma única vez na casa de uma tia avó, isto em 1966. Num jantar, meu pai falou sobre esta casa, eu disse que me lembrava onde ficava. Ele respondeu irritado que não poderia lembrar, já que estivera lá uma única vez com 11 anos de idade. Abri o maps.google e localizei. Meu pai quis me matar.

O que eu fiz ontem? Você vai me forçar a procurar na minha porca memória? Confesso que tenho feito uma revisão do dia antes de dormir, e isto está ajudando a manter a memória fresca.

Quais são as memórias que se perdem e as que ficam. As que ficam são muitos de meus pesados deslizes da vida, aqueles que daria a vida para voltar atrás e desfazer fazendo da maneira correta, sensata. Estas memórias pesadas não saem da minha cabeça, um "aqui se faz, aqui se paga". 

Minha infância? Tenho algumas vagas memórias. Outro dia lembrei que quando estavam fazendo uma reforma em casa deixaram uma táboa com um prego solto no quintal. O anjinho foi lá, pisou, e voltou para dentro aos berros usando uma sandália de madeira. O prego perfurou todo meu pé e a tábua ficou grudada. No embalo desta memória também lembrei que um dia na casa do visinho consegui enfiar o único prego de uma parede na nuca e fiquei pendurado para o horror de minha irmã, santa irmã.
Quer mais historinhas do meu passado de anjinho? Eu conto, muitas me lembro, para a infelicidade de minha família. 

Memórias inesquecíveis? 
Entram no elevador do Guarujá eu, um casal amigo e um senhor com porte de lorde inglês. Meu amigo, também um anjinho, bem mais anjinho do que eu, soltou um peido muito audível e terrivelmente fedido, e automaticamente enfiou um saco de papel na cabeça, enquanto sua mulher ria e dava bronca, eu cai na gargalhada querendo desesperadamente que o elevador parasse para fugir. A cena foi mais hilária porque o lorde inglês da baixada santista continuou lorde inglês como se absolutamente nada estivesse acontecendo.
  
O mesmo amigo, um anjinho como já disse, ligou para minha casa e pediu para eu ir socorrê-lo porque estava meio chapado, só meio. Ele morava com os avós, era hora do almoço, eles nos chamaram para sentar à mesa. Avô numa cabeceira, avó, santa avó noutra, eu e ele frente a frente. Serviram para ele um belo prato de arroz e feijão, tudo ia bem até que, ainda sem dar uma garfada, o avô comentou algo gosado, meu amigo que uma garagalhada e literalmente desmaiou com a cara enterrada no meio do arroz e feijão. Lembro de todos os detalhes, principalmente porque eu entrei em pânico, que só passou com a reação calmíssima da avó mais que acostumada. 

Memória. Que tipo de memória? Recente, passada, memórias úteis, inúteis, com qual delas se tem problema. 
Sim, estou preocupado com minha memória. Confesso que não sei se estou ficando desmemoriado ou o stress está agindo para não torrar o resta de consciência. 

Carros oficiais pretos, símbolo de poder e irregularidades que venceu

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Carros pretos se tornaram um dos símbolos marcantes das mazelas da ditadura, com seu poder desmedido, autoritário, "sabe com quem está falando?", corrupção deslavada, muita mediocridade, etc... Enfim, falo de seus motoristas, os donos de uma burocracia infernal, que, sejamos justos e coerentes, são fruto muito anterior à ditadura, mas que sob seu manto se fortalecem. Quem viveu aquela época deve lembrar que terminada a ditadura com a volta da democracia, o carro na cor preta, com toda sua pesada simbologia, de veículo oficial passou imediatamente a objeto de desejo, símbolo de status entre os simples mortais. Significativo? A maioria dos carros de então, principalmente os populares, eram coloridos, algumas cores fortes, chamativas, próximas as da nossa natureza, de um Brasil de esperanças no futuro, mas o "sabe com quem está falando" dos carros pretos com toda sua nefasta simbologia democratizou-se. Coincidência? Nós, brasileiros, aceitamos, silenciamos e, porque não dizer, incorporamos com toda naturalidade mazelas inaceitáveis até piores que de tempos autoritários. Como explicar a barbárie generalizada que estamos vivendo, agora generalizada, muito além dos que circulavam em carros pretos como portentosos livres no meio do trânsito, no meio de todos nós. Não resta dúvida, este e outros símbolos tempos passados, pesados, com tantas más lembranças e prejuízos para o país, venceram. 

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Bicicletas elétricas e a escala humana

SP Reclama
Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

As bicicletas mal entraram em nossas vidas urbanas brasileiras de classe média e já vieram as ditas "bicicletas elétricas". "É a mesma coisa", vão dizer. Não é. "É mobilidade ativa, melhor que usar automóvel. É ambientalmente correta." Será? Mobilidade ativa não é exatamente, porque em boa parte delas não é necessário pedalar. Algumas são pequenas scooters. Ambientalmente corretas só se saberá em alguns anos. Suas baterias têm vida útil limitada. Para onde vão as baterias velhas? Recondicioná-las não é nada barato, fora o custo diário de recarga. Mas tem um ponto que pouco se fala: o impacto na escala humana. Bicicletas estão sendo estimuladas em todo mundo porque auxiliam na recuperação da escala humana dos transportes, portanto na qualidade de vida das cidades. A razão é simples de entender: a velocidade média de um automóvel em área urbana, origem / destino, gira em torno ou abaixo de 25 km/h. Um pedestre caminha numa média de 4km/h. A velocidade média de um ciclista comum é de 15 km/h, ou seja, mais ou menos entre o pedestre e o automóvel. Por ter uma diferença de velocidade para o automóvel menor que a que o pedestre tem, as bicicletas foram e são usadas para diminuir os perigos de quem caminha e dos com necessidade especiais nas mobilidades, o que inclui idosos, crianças pequenas, mães com bebes, cadeirantes e outros. Está mais que provado, bicicleta é eficiente, acalma as ruas, faz diferença - bem entendido, quando o sistema cicloviário é bem implantado - no recuperar a qualidade de vida de todos cidadãos, indiferente do modo de transporte usado. Esta é uma das muitas qualidades de escala humana que a bicicleta nos oferece, incluindo uma velocidade compatível com o olhar, sentir, ouvir, perceber a cidade, melhor conviver com o meio ambiente e outros cidadãos, melhora na saúde individual e pública, etc... 
Bicicletas elétricas têm sua velocidade máxima limitada a 25 km/h. É o que manda a lei, mas não é difícil burlar. Como qualquer veículo propulsionado a motor elétrico, bicicletas têm uma aceleração muito forte, alcançando a velocidade máxima rapidamente, uma grande diferença para o acelerar e manter a velocidade em escala humana de uma bicicleta convencional. Em outras palavras, bicicletas elétricas se deslocam quase ou como um automóvel.
Os sistemas cicloviários implantados foram dimensionados para ciclistas normais, os que pedalam no arroz e feijão. Ciclistas usuários de bicicletas elétricas usam as ciclovias e ciclofaixas em velocidade e principalmente com atitude que pode ser comparada a de motoristas e motociclistas, o que tem sido um desagradável problema para ciclistas comuns. Não sei qual é o índice de ocorrência entre os elétricos e pedestres, mas pela rapidez e silêncio na aproximação, e pelos conflitos com ciclistas normais, não acharia difícil que os atropelamentos tenham aumentado. 
A definição do que deve ser escala humana vem mudando, mas nunca deixará de ter como base a biologia humana e não a dita "eficiência" de algo. Eu arrisco a dizer que "bicicletas elétricas" já começaram a deixar de ser bicicletas para passar para a categoria dos 'auto-moveis'. De qualquer forma, a escala humana deste novo meio de mobilidade já se perdeu. Não percebe quem não quer. 

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Acidente na porta do vagão do metrô: como evitar

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

Quantos passageiros por acidente fatal? Qual a causa real do acidente fatal? Quais as circunstâncias/ fatos / elementos causa da ocorrência? Etc... Quantas perguntas mais devem ser respondidas antes de se chegar ao que realmente aconteceu? Muitas, muitas mesmo.

Aviação é o modo de transporte mais seguro porque investiga sem apontar responsáveis ou causas. Interessa a verdade para que se evite que se repita. Esta técnica de investigação foi criada pelo sistema ferroviário a partir do século XIX. Desde então, trens têm índices de acidente / passageiro baixíssimo.

Brasil tem um dos piores índices de ocorrência no trânsito do planeta, provavelmente o pior entre países ricos. Uma das razões é a falta de investigação adequada, melhor, minimamente adequada, e divulgação de achismos que acabam distorcendo a realidade para o grande público, que é o que e quem realmente interessa.

A cada mensagem errada mais de 80 recebem, entendem e acreditam. Mensagens corretas fazem o efeito desejado em menos de 5 pessoas.

Quem já trabalhou com segurança, qualquer que seja, sabe que "eu acho", o achismo, literalmente mata.

Sinto pela perda deste jovem e promissor pai de família, mas antes de falar e apontar culpados urge saber o que realmente aconteceu para só então definir em que sentido trabalhar para que não volte acontecer. O que a princípio parece lógico e solução nem sempre o é.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Papa Francisco. Melhor, Francisco, além da igreja e de seu futuro

Bergoglio, Papa Francisco. Agora Francisco. Foi diferente, teve coragem, falou e se posicionou muito pensando em e como Cristo, e menos como igreja. Disse algo como "tirar Cristo das igrejas e levar para as ruas, não manter Cristo trancado", em outras palavras, derrubar os dogmas da própria igreja. Como leigo nas questões religiosas eu diria "expulsar os vendilhões do templo". Não foi pouco.

O posicionamento de Francisco vai muito, mas muito além da religião ou de uma igreja, esta foi sua diferença, e que diferença!
Neste momento absurdo que vive o planeta, a perda deste Francisco é imensa. Vá em paz. Muito obrigado. E agradeço como gente, simplesmente gente.

A baderna que vivemos vem sendo estampada faz muito em todas as partes e pode bem ser definida na patética, inacreditável, foto de Trump vestido como papa, que fica mais absurda ainda, quando se sabe ter sido divulgada pela própria Casa Branca. Simples falta de respeito? Uma brincadeira de mal gosto? No caso não é mau, mas mal mesmo. Nada mais que um reflexo amplo de nossos dias. 
Penso que vivemos o fim de uma "neo belle epoque", um desvario total, com a diferença que o planeta está no limite e praticamente não temos mais espaço para recuperação, se é que temos qualquer.

A história mostra que o que conseguimos construir deve-se muito ao que aprendemos, e aprendemos ao usar rituais sociais apropriados para uma boa conversa, as ditas formalidades que são preciosíssimas e a cada dia são menos respeitadas. Religiões tem muito a ver com organização social, isto se não for só e simplesmente um código de conduta social, mas esta é outra história. E nada a ver com pensamento de direita, retrogrado, ou o que seja. O politicamente correto, que até onde sei é o fruto mais doce da atual esquerda ativa, não deixa de ser uma tentativa, para mim mal feita, dos rituais sociais, até com um forte viés que se pode dizer religioso, bem carola.

Muitos de nossos erros, de nossos desastres, ocorreram e seguem ocorrendo porque ritos e formalidades foram e continuam sendo usados para disfarçar ou esconder erros, malandragens, roubos e todo tipo de sacanagem, inclusive as inaceitáveis perceptíveis ou não. Não falo só da igreja, mas de tudo e toda a forma de agir da sociedade. Por que não incluir aí as praticas "politicamente corretas". Francisco, o Bergoglio, o Papa Francisco, não só gostava, como respeitava e usava a piada, o bom humor, em outras palavras, a comunicação inteligente, uma forma de chutar o pau da barraca de ritos e formalidades dogmáticos, ou politicamente corretos.

O pontificado de Papa Francisco apresentou uma saída, uma porta aberta para uma possível mudança social, porque mexeu para valer com códigos da igreja católica, derrubando muitos que estavam seguros. De novo, não falo sobre religião, mas sobre perspectiva social e, usando as palavras do próprio, "independente de credo ou religião". Lembre-se que o Vaticano tem um poder geo político que vai muito além do que é a igreja ou o Cristianismo.

Ninguém sabe o que vai dar a eleição do novo papa. Outro Papa Francisco é impossível, mas que não se dê um passo atrás no progresso que ele trouxe. Não é uma questão de religiosidade, nem de fé, nem de crença, mas consciência que no caos que vivemos não se pode perder mais uma peça neste tabuleiro alucinado do xadres.

Barbárie como regra social aceitada

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

O vigilante é atropelado, fica estendido gravemente ferido no chão, o motorista foge, aí, para completar a barbárie, vem um e o assalta, tira tudo que o vigilante moribundo tem? Prestam socorro horas depois, o que leva ao óbito. É inegável que este é o Brasil e não é de hoje. É o Brasil, inegável.

Em 1994 um caminhão de cerveja capotou na altura de Queluz. Em vez de socorrer o motorista, boa parte dos motoristas pararam para saquear a carga.

Histórias como esta se repetem com uma normalidade impressionante. Inaceitável em qualquer parte do planeta.

Enfiar o "berro" na cabeça e apertar o gatilho antes de anunciar o assalto é trivial. Mais um, adolescente agora se foi nesta "brincadeira".

Repito sempre: culpar as autoridades é negar a responsabilidade nossa de cada dia, e no final das contas a responsabilidade final é nossa, desta verdade não se pode fugir.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Miseráveis e moradores de rua, quem lucra?

Fórum do Leitor
SP Reclama
O Estado de São Paulo

Uma reportagem do SPTV sobre o triste absurdo de mais de 95 mil moradores de rua na cidade de São Paulo, e crescendo, colocou que uma das razões é o preço do aluguel de um quarto num cortiço: por volta de R$ 900,00/mês. Meu pai faleceu e vou ter que alugar o apartamento dele, que fica próximo ao Parque Ibirapuera e do metro Paraiso. Pelo que o mercado está pagando, não consigo mais que R$ 4.500,00, isto num apartamento de 100 m² com sala, dois quartos, cozinha, banheiro, lavanderia, grandes; mais lavabo, quarto e banheiro de empregada, vista livre, ótima ventilação e sol o dia todo. Fazendo as contas: 900 X 5 = 4.500. Ou seja, mesmo nesta conta rasa, sem incluir vários fatores, principalmente qualidade de vida, fica claro que os miseráveis pagam uma barbaridade para morar, e em condições precárias, sem nenhum luxo. Pior ainda se pensar que no apartamento de meu pai poderiam facilmente ser abrigadas bem mais que cinco famílias.
A mesma conta pode ser aplicada ao pequeno edifício da esquina das ruas Oscar Freire com Peixoto Gomide, que por uma briga entre seus proprietários virou um cortiço, sem luz, provavelmente sem água e esgoto. Já entrei lá e as condições de vida são para lá de precárias, verdadeiramente degradantes. É só uma invasão ou algum proprietário está ganhando muito ali, mais que se fosse alugado para famílias de classe média? Briga entre proprietários ou exploração de miseráveis? O que seja, não deveria ser permitido pelo poder público, se é que este tem algum interesse em comprir sua responsabilidade social definina na Constituição.
Lembrei também da história da Praça do Povo, que durante muitos anos foi também conhecida por "Clube do Mé" e seus campos de futebol. Quando a administração Serra decidiu tomar o espaço acabou-se descobrindo que tudo aquilo, que incluia uma pequena favela e uma grande academia de ginástica invisível, tinha um "proprietário", um paraibano (se não me falha a memória) que tirava algo em torno de R$ 500 mil/ano dali (publicado em matérias)
Com uma matéria sobre as enchentes no Jardim Pantanal que mostrava inquilinos nas áreas mais críticas, lembrei também que já faz muito ouço que muitos favelados da cidade vivem de aluguél e o preço é alto. 

Fato é que não é de hoje que se ouve sobre a exploração direta e indireta da miséria . Quem fabrica os saquinhos de balas e chicletes que são colocados nos espelhos dos carros em várias esquinas da cidade? Será rentável? É mentira que muitas invasões são organizadas e estimuladas? Para que fins? Quem tem poder para isto? Quem lucra?

São inúmeras as fontes que afirmam que negociar com pobre é muito melhor que com classe média ou rico. Pobre paga em dia, não falha, tem vergonha de dever. Mais, não sabe fazer conta e parece haver uma profunda má vontade em educá-los. Ninguém tem interesse e incluo, com certeza, os ditos protetores dos fracos e oprimidos. Desculpem, sim, são verdadeiramente oprimidos, mas de verdade quem?

O escândalo do INSS serve como prova?  Como bom exemplo, sim, serve.

domingo, 20 de abril de 2025

Violência

Fórum, do Leitor 
O Estado de São Paulo 



Extrapolando esta matéria fica a pergunta: a quem interessa este país bandido? Quem está tirando proveito? Quem não quer a pacificação? Quem lucra? E se sabe que lucra pesado, muito pesado. Estou falando de violência criminal, roubos, assaltos e outros? Não só. Está aí para quem quiser ver. You bet! Pode apostar nisto.


Óbvio que há interesse político em manter o que está aí, mas quanto ganha cada facção, e não falo de facção do crime organizado, mas da sociedade constituída, leia-se em particular política.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

A troca de semáforos resolve? Para quem? Para que?

Fórum do Leitor
SP Reclama
O Estado de São Paulo

Desde que convivi e aprendi com especilistas, holandeses em particular, sobre qualidade de vida nas cidades, a importância da forma de fluidez do trânsito e das mobilidades, venho pregando sobre a urgência urgentíssima de se trocar todo sistema de semáforos de São Paulo, isto faz duas décadas. 
Todos querem uma cidade mais fluida, mas ninguém fala uma palavra, pressionar nem pensar, para que se dê jeito na porcariada que temos aqui. Chuveu... O sistema não funciona faz muito e para tentar resolver foram fazendo ganbiarras, acho que só nas caixinhas de semáforo, que só serviram para jogar dinheiro no lixo. Choveu... (a rima fica para vocês). Agora parece que estão trocando, a passo de tartaruga, como o maldito trânsito que nos espera no dia a dia, mas estão trocando.

Óbvio que não se tem notícia da agenda, dos critérios e menos ainda dos custos. O que quer que se esteja fazendo não foi discutido com a população, ou pelo menos eu e meus amigos que nos interessamos pelo assunto não soubemos de nada.

O perfil dos transportes e mobilidades vem mudando com muita rapidez. O que se implanta é para solucionar problemas atuais ou futuros? Qual futuro?

Cidades européias tem sistemas semafóricos que priorizam o transporte de massa e as mobilidades ativas, sem grande prejuízo aos motorizados. Este é o caminho, mas alguém aqui sabe ou se interessa por isto?

Primeiro exemplo: trocaram os postes e semáforos da esquina da rua Oscar Freire com Casa Branca. Oscar Freire com Casa Branca? Não tem lugar com maior prioridade? A pergunta é, repito, qual o critério para da troca de semáforos para a melhora de fluidez da cidade?

Por que os das esquinas da Oscar Freire com Augusta e Ministro Rocha Azevedo, que têm muito mais fluxo de trânsito, ainda não foram trocados? Se foram, já deram pau com chuva. Estes novos são inteligentes, conectados com outros num sistema integrado? Todos semáforos novos vão ter semáforos e tempos para pedestres? Lembro que quando pedimos semáforo para pedestres nas esquinas da Oscar Freire com Augusta e Ministro Rocha Azevedo a resposta da CET SP foi que haviam feito inspeção e não notaram necessidade de semaforo para pedestres. Muito tempo depois instalaram os para pedestres. Foi pressão do supermercado da esquina?

Repito a pergunta: qual é a prioriadade para cada mudança específicaComo está incluída a questão das mobilidades ativas no processo? Terão tempos diferenciados para corredor de ônibus?

Fato, e exemplo: os pedestres que vem de seus trabalhos na Oscar Freire cruzam a Casa Branca fora da faixa de pedestre, e de certa forma eles tem lá sua razão. É o caminho reto, mais curto e lógico para entrar na rua Cravinhos que dá na av. Nove de Julho e seus pontos de ônibus. A cidade está lotada de situações como esta, onde o caminho mais prático e sensato para o pedestre não vale nada perante a manutenção da fluidez dos veículos motorizados. Pedestres atropelados? A culpa é dos pedestres, nunca da engenharia de segurança viária.
O cruzamento de pedestres na saída do Parque Ibirapuera para o ponto de ônibus da av. Pedro Alvares de Cabral sentido Centro que o diga. Mesmo depois de décadas com a posição da faixa de pedestres boa para o fluxo de trânsito, faz pouco foi parcialmente corrigido. Agora, depois de cruzar o primeiro trecho da avenida na faixa de pedestres para o canteiro central, o pedeste dá com o ponto de ônibus exatamente de frente, mas do outro lado da avenida. Daí é obrigado a caminhar uns 40 metros até a esquina, esperar um bommm tempo o semáforo dos motorizados fechar, finalmente cruzar a avenida e voltar mais uns 40 metros até o ponto. No ponto de ônibus vai assistir outros pedestres desconcertados com o caminho a seguir e alguns tantos que se arriscam no meio dos carros. 
Para os funcionários do HC acontece o mesmo no cruzamento de pedestres para o ponto de ônibus que fica no canteiro central da av. Rebouças. Apareça por lá na saída do trabalho e facilmente vai entender o que digo. Walter Hook e Michael King, do ITDP, vistoriaram o local e saíram dizendo que é um absurdo não ter uma faixa de pedestres com semáforo, o que não faria qualquer diferença na fluidez do trânsito. A passarela existente um pouco acima? De novo, se obriga ao pedestre caminhar 100 metros, ou mais, até a passarela, subir e descer a escada para chegar ao ponto de ônibus. No ponto de ônibus ficam vendo a rua de onde vieram bem em frente e alguns tantos, incluindo doentes, se arriscando a cruzar no meio dos carros.  
Sobre passarelas, por favor, procurem dados sobre passarelas e vão entender seus prós e contras, o porque a antipatia geral contra elas. Passarela não é caminho natural. Já ouvi de técnicos respeitados que "passarela não raro é razão de atropelamento". Pedestres a usam como sombra. Pergunte-se, mas por que? 

Perguntem-se também: por que o pedestre faz seus próprios caminhos? Por que não respeita o que as autoridades impõem? 
Quem respeita é respeitado. Pedestre é respeitado pelas autoridades? 
Qual é o tempo de semáforo para pedestres cruzarem a av. Rebouças? Qual é a recomendação internacional? Em quanto tempo a paciência do pedestre europeu acaba?

Voltando, qual é o critério geral adotado para a troca de sinalização na cidade? Só se está mudando para fazer funcionar bem? Funcionar bem para quem, para que? Com o que está sendo realizado quantos dos problemas crônicos de trânsito e mobilidade serão corrigidos? Não vão apagar ao sinal da primeira chuva? Isto basta? Quais são os dados que se tem para estabelecer o cronograma e a prioridade de troca? Foi informado? Se foi, foi muito mal informado. A informação que a cidade receberá semáforos novos não diz absolutamente nada. É sobre a cidade, é sobre a vida dos cidadãos, e não simplesmente sobre a troca de semaforização, que é um detalhe importantíssimo e parte da solução, repito: parte da solução. 
Só dará os resultados minimamente desejados caso o projeto de troca esteja integrado a uma política / estratégia muitíssimo maior. Neste sentido, imagino que o projeto esteja integrado a brutal mudança de densidade populacional que a cidade vem sofrendo com esta pandemia de edifícios novos. Está adensando, supõe-se que tenham recalibrado tudo que está debaixo da terra, água, esgoto, águas pluviais, energia, comunicações, gás... Como não vi uma obra de ampliação / adequação no subsolo, não será um novo sistema de semáforo que dará fluidez em ruas e avenidas quando estas forem esburacadas por obras futuras das concessionárias, que virão, virão, não tenham dúvidas. 

A bem da verdade, quem se interessa? Pelo silêncio ninguém. O pessoal deve achar uma delícia ficar encalacrado todos dias no trânsito. Eu não acho. 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Opção pelo atraso

Opção pelo atraso, preciso escrever mais?

O título desta postagem está esquecida nos rascunhos faz sei lá quanto tempo. O planeta virou de ponta cabeça desde então e continuamos, como sempre, dando piruetas no ar, na terra empoeirada, na poça de lama, pisando, escorregando, caindo de cabeça na bosta de vaca, batendo na cerca de arame farpado... e nada indica que vamos mudar. E tem tudo para piorar.

Peguei minha santa diarista espremendo a garrafa de detergente na panela e mais um pouco no prato. Tentei pedir para não fazer mais, mas comecei o pedido de forma torta e parei no meio do caminho. Quando ela foi para sua casa descobri que o galão de água sanitária praticamente acabou. Não deveria durar muito mais? Desde aquele dia  venho pensando como conversar com ela para explicar porque não se deve e não quero que se use barbaridades de produtos de químicos limpeza. Teresa virou para mim e disse que todas, as faxineiras e diaristas, fazem o mesmo, tudo para "ficar limpinho e mostrar serviço". Limpinho?

Detalhe? Não regra, deprimente regra.

Foi no Pacaembu que vi pela primeira vez o chão ser varrido com rodo. Uai? Rodo não é para puxar água? Fui até o funcionário que enfadonho varria com rodo e tentei conversar, e nas primeiras palavras ele pôs um ponto final: "É muito mais fácil (com rodo)", ponto final. Será? Tenho minhas sérias dúvidas. Se fosse as vassouras não estariam extintas?

A culpa é de nossa colonização pelos portugueses. É mesmo? Culpa velha, de 500 anos, ou 200 da independência, e neste meio tempo fizemos o que para mudar a situação? 

O buraco na formação do povo que temos no Brasil é absurdo. O sujeito é contratado para colocar placas de sinalização de trânsito. Tem um poste novinho, o sujeito é instruído sobre quais placas devem colocadas em que lugar, e apontadas para onde. Parece ser óbvio que as placas sejam direcionadas para o olhar dos motoristas, mas por alguma razão misteriosa uma das placas está direcionada para um muro, sim, você leu correto, direcionada para um muro. O motorista para vê-la tem que quebrar o pescoço, ou não vê. Aliás, literalmente não a vê. 

"Você não pode falar assim com eles! Não se pode invadir a verdade deles". Como assim? A afirmação me foi repetida inúmeras vezes por inúmeras pessoas sobre comentários ou reclamações minhas para erros de funcionários. Quando não é isto é o "Não adianta nada falar". Qual será pior?

A questão não é invadir a verdade do outro, passamos disto há muito, mas como mudar posturas e posicionamentos, como tirar o Brasil do atraso que a cada dia aumenta mais. 
Uma das melhores provas que se souber invadir os pilares dos outros com inteligência dá resultados maravilhosos tem nome: "EMBRAPA". Ou, outro exemplo, poderia chamar-se "Sistema ISO". No caso de milhares que trabalham sob o manto do Sistema ISO não consigo entender como alguém que trabalhe neste ou em outros sistemas de qualidade total chegue no seu bairro, na sua rua, em casa e não replicar nada. Como assim? Por que?

O planeta virou de ponta cabeça. As regras do jogo não valem mais. Nossa opção pelo atraso está exposta para quem quiser ver. Só manteremos o nariz fora d'água porque temos uns pouquíssimos setores de nossa economia onde a palavra atraso é vista com horror. Contra estes, os que poderão nos salvar, há uma horda que a opção pelo atraso é bem mais do que sua salvação.

O preço da dívida com o futuro vale a pena? Pergunte aos países desenvolvidos.




Quantos mais inteligentes melhor

Pragmatismo.

Quanto mais melhor. É assim e não é assim, ou pode não ser assim. Depende sobre o que se está falando. Agora, se tem uma coisa que é líquida e certa, quando se fala sobre inteligência e conhecimento o unidos venceremos é verdade da qual não se escapa, ponto final.

Eu copiei e colei aqui estes dois trechos de um artigo que fala sobre a bagunça que está estabelecida por Trump, uma análise fria sobre o que 'possivelmente' está por vir. Vale a pena lê-lo, mas esta é uma outra história. No meio da análise brilhante de Thomas Friedman está um pequeno detalhe: a China tem uma população de 1.4 bilhão o que oferece muito mais probabilidade de conseguir colher inteligências do que a maioria dos países. Esta fartura de inteligências, ou de potenciais, só terá algum efeito caso seja colhida com cuidado e receba incentivos para dar frutos.
Acho que está neste artigo, ou em outro qualquer, não importa, que o que fez dos Estados Unidos o que foram até ontem, foi o plantar, a colheita e o acolhimento do máximo de inteligências disponíveis não só no próprio Estados Unidos como de qualquer parte do planeta. Daí seu progresso e riqueza.

Num recente artigo de Friedman ele conta que foi perguntado na China se os Estados Unidos com Trump estão fazendo o mesmo que Mao Tsé-Tung fez na China: exterminar toda e qualquer oposição a suas vontades sem a mínima preocupação com o bem estar de toda a população. Não houve qualquer preocupação com inteligência e conhecimento. China só passou a se tornar o que é hoje, uma das potências mundiais, quando se terminou esta estupidez. Já faz tempo que toda e qualquer inteligência e conhecimento é muito bem vinda.

Quantos mais inteligentes melhor. Ponto final. Aliás não, quantos mais inteligentes bem aproveitados melhor, aí sim. Durante a Segunda Guerra Mundial os aliados tiraram proveito inclusive das mentes brilhantes que estavam presos, com ótimos resultados.   

Antes que leiam e digam que é discurso de esquerdista, aviso que não é. É pragmatismo:
(O pragmatismo é uma doutrina filosófica que se baseia na verdade do valor prático. Uma pessoa pragmática é aquela que busca resolver seus problemas de maneira ágil, prática, que visa mais as soluções do que os obstáculos.)
    
O Brasil tem uma população de mais de 200 milhões, para arredondar, sendo que declarados negros são mais de 50% da população. São aproveitados? Pelo que se apresenta, não. A bem da verdade nem os melhores brancos são bem aproveitados. Não chegamos ainda ao "o último que sair apaga a luz", mas já perdemos uma barbaridade de boas cabeças pensantes que jamais poderíamos ter perdido. E não conseguimos olhar com o devido cuidado (e respeito) para muito muito mais de 50% da população brasileira, e aqui não estou falando só da população negra, mas da imensa maioria que é invísivel aos olhos de uma elite boa parte mediocre. Leia-se "selfie". 

A bem da verdade, não me interessa o que eu penso, me interessa que as coisas andem para frente, que criem um futuro seguro, perene e para todos. Se quem está ao lado tem problemas é líquido e certo que uma hora estes problemas vão respingar em mim e nos meus, pensando com um pragmatismo frio. "Eu me viro" pode ter um toque de vencedor, de eu sou o bom, mas dificilmente se sustentará a longo prazo. Os exemplos são inúmeros, principalmente em negócios familiares, onde o patriarca ou a matriarca criam uma potência, mas centralizam tudo sem ser capaz de passar conhecimento e trazer inteligências para dentro, o que acaba matando toda a riqueza, não só material. Daí o dinheiro no Brasil mudar de mãos a cada 40 anos, segundo Eduardo Giannetti Fonseca, uma das maiores autoridades intelectuais do Brasil. Felizmente esta mentalidade está mudando aqui no Brasil. 

QI, quem indica, ou o amigo. Zero a ver com inteligência e conhecimento, tudo a ver com corporativismo e manter status quo, o poder, o nariz fora d'água. Acontece no mundo inteiro, mas muito muito mais aqui, neste Brasil do salve-se quem puder e eu quero o meu agora!

Pragmatismo: quanto mais inteligência e conhecimento melhor. Pelo menos estamos ouvindo com mais frequência a palavra "pragmatismo" nesta terra brasilis.

Sobre o que estamos vivendo, um ditado árabe:
"O que os sábios demoraram oito anos para construir, um imbecil destrói em oito minutos". Cá para nós, imbecis é que não faltam. E inteligência calada também sobra. Principalmente num país que tem uma péssima educação e não vê com bons olhos ciência e pesquisa.

E aí, o que vai ser?




quinta-feira, 3 de abril de 2025

Crescem os números de mortes no trânsito

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
Rádio Eldorado FM

Foram divulgados o números de mortes no trânsito de São Paulo, e cresceram, muito, são os piores em muitos anos, uma  década. Aliás, cresceram como os números da violência urbana, das mortes por assassinatos. Triste coincidência? Não é, tem tudo para não ser. A meu ver são dados entrelaçados, reflexo da qualidade de vida geral que temos, ou, melhor, nos permitimos ter. É o que somos. 

O drama social do Brasil é de total responsabilidade de cada um de nós, do completo desinteresse dos brasileiros pelo coletivo, a única forma de resolver qualquer situação. Estou errado, a responsabilidade é das autoridades, como insistem? É mesmo? Quais são as outras hipóteses? Não existe outra hipótese? Eles são os únicos culpados? É mesmo? Só passando para lembrar que o que chamamos de autoridades são funcionários públicos, explicando melhor, os que exercem cargos delegados por nós, cada um de nós, o povo em geral. É mais complicado do que isto? É, mas em última estância é isto, eles são funcionários que contratamos para nos servir, nada mais. Pois então, de quem é a responsabilidade?

Alguém aí está realmente preocupado com a morte do próximo? Se estiver, explica, porque no silêncio, na mudez, não dá para ouvir e entender. Se não se entende, se não se explica, como se pode acreditar?

Os números divulgados sobre mortes no trânsito, ruins, são os brutos, mas... Quais são os dados particulares? Onde, quando, quem, como e por que? Alguém sabe? É fácil criar imaginários em cima de números brutos, uma imagem inacabada da realidade. É muito mais difícil de ser enganado quando a informação vem bem investigada, detalhada, aprofundada.
 
A quem interessa números brutos? 

Como vieram os dados da pesquisa tirados polícia técnica e legistas? Aliás, alguém os viu? Como e por quem foram analisados? Alguém sabe? 
Deixar um morto no meio da rua por horas para só então fazer a perícia é o ideal? Não se perde detalhes que podem mudar a sequência dos fatos que resultaram o acidente e o óbito?

Trânsito pode ser analisado como um jogo onde todos participantes devem respeitar regras e principalmente os outros participantes. A ciência, através dos dados que fartamente coletados em diversas partes do planeta e não só em relação ao trânsito, reza que quanto mais tranquilo, mais calmo for o jogo, menor a quebra do respeito às regras e normas de segurança, portanto menor a possibilidade de acidentes. 
Paz no trânsito, menos acidentes, menos mortes. Por isto a opção pelo acalmamento de trânsito, técnica usada e aprovada em todas partes do mundo onde a acidentalidade é baixíssima. 
Está provado que segregação, qualquer que seja, cria castas, privilégios, o que contribui para uma segurança particular, individual, não coletiva, que numa análise mais profunda não se sustenta para qualquer sistema de segurança. Trânsito incluído.  

Se há uma forte pressão, válida, pelo fim da discriminação, segregação e privilégios, por que no trânsito a opção é por segregar? Sim, eu sei, há situações que separar, segregar, é a única alternativa de segurança, pelo menos por um determinado momento, então pelo menos que se segregue onde de fato é necessário, não indiscriminadamente. Os dados sobre pais super protetores que estão vindo a tona ultimamente colocam este comportamento como um erro crasso. 

Minta, minta, minta mil vezes e a mentira se tornará verdade. Ciclovias e ciclofaixas são seguras. É mesmo? Quem disse? A fonte é segura? Sim, dão mais segurança ao ciclista, mas como, quando, por que e principalmente com que efeitos colaterais? A pergunta que fica: quanto ciclovias e ciclofaixas tem responsabilidade sobre os índices de acidentalidade? Nada a ver? Não mesmo?

Minta, minta, minta! Faz décadas que a melhor opção para a segurança individual foi (e segue sendo) a construção de muros, segurança particular, barreiras e outras medidas segregatórias de contensão. Pergunto: funcionou? A segurança de todos aumentou? Que sociedade temos?

A cidade é a resposta para nosssos dramas. Que cidade queremos? Segregada? Discriminatória? De privilégios? É o que seguimos construindo.

Na Holanda surgiu uma cidade onde se extinguiu as ruas como as conhecemos, ou seja, sem calçadas, sarjetas, ruas, faixas de sinalização, sinais, semáforos, ou qualquer outro elemento que separe, segregue. Foram transformadas em espaços públicos indiscriminado, realmente para todos. O que parece uma loucura para a maioria, e não é, os números provam, é o aprofundamento do conceito de cidades acalmadas que há muito se pratica. Quando implantaram pela primeira vez foi uma gritaria: vai matar muita gente! Muito pelo contrário, diminuiu drasticamente o número de acidentes, e mortes. É aplicável em todo e qualquer lugar? Não, mas é o caminho. Aliás, é sim aplicável, depende da inteligência de quem aplicará. 

Ciclovias e ciclofaixas são necessárias? Sim, certamente são, mas definitivamente não são 'a' solução para a segurança de ciclistas, e não o são porque os dados que se tem são muito direcionados para o que se quer publicitar e ver, exatamente da mesma forma que muros 'são' seguros para seus moradores.

Por que temos toda esta vergonhosa insegurança? O que fizemos deu certo? Não estará na hora de pensar alternativas? Não passamos da hora de ter um olhar mais profundo sobre o que nos afeta? 

Vi este vídeo a seguir sem som, e mostra bem como pode ser a transformação das vias, leia-se espaços públicos, de uma cidade, da organização habitual e tradicional, para as ruas "espaços públicos", sem divisões, sem segregações, sem privilégios. É só um exemplo, nada mais. Por favor assistam, simplesmente assistam, sem 'nós ou eles'. 

Antes de assistir lembre-se que nós, brasileiros, (paulistas, paulistanos, no meu caso) somos seres humanos. A voz corrente que nós somos diferentes se sustenta? A meu ver definitivamente não. Se as cidades são todas semelhantes, se usam praticamente os mesmos conceitos e praticas para se organizar, crescer, fortalecer e enriquecer, porque não se pode usar as mesmas boas práticas experimentadas?