sexta-feira, 13 de junho de 2025

Sabores da infância e do passado

Quais são os sabores de sua infância? Titulo de uma matéria de uma revista Gourmet americana de mil novecentos e bolinha. Boa pergunta.

Arroz, sempre arroz.

Fim de semana eu estava liberado para uma única garrafa de Coca Cola e vez ou outra um suco de pêssego ou pera em lata da Yuqui, creio que esta era a marca. Do gosto das Cocas não me lembro, mas da magia de poder tomar uma lata de suco de pessego ou pera ainda recordo com delícia toda vez que tomo os sucos. Consigo lembrar com detalhes a entrada no supermercado Sirva-se, passar pela pratileira, pedir para pegar, e na rua abrir a lata e bebe-la entrando no paraíso.   

Os bifes feitos por meu pai eram maravilhosos. Frigideira de aço no fogo alto, quando vermelha, derreter manteiga sem deixar pegar fogo, imediatamente colocar o bife com borda de gordura, cozinha cheia de fumaça, um cheiro inigualável, bife começa a sangrar, só então o sal, aí vira o bife, deixa sangrar e serve. Faca afiada, corta-se a gordura, que é o que dá gosto à carne, e... delícia.  

Algumas vezes almocei na casa do então meu amigo Eduardo. Ele tinha uma empregada, Balbina, senhora já de certa idade, negra, que fazia um ovo mexido completamente diferente, maravilhoso, dos deuses, ou orixas, ou todos juntos. Eu era muito pequeno para saber qual a magia. Um dia me distraí e deixei os ovos na frigideira com manteiga mais tempo que o normal para um clássico ovo mexido. A clara ficou branca a meio ponto de sair dois ovos fritos, mas eu mexi e... ovos mexidos da Balbina. Não deixe secar. Divino!

Guarujá, peixe com purê, a senhora negra sorridente que gostava de mim e muito mais ainda de meus primos, de quem era cozinheira e santa, e coloca santa nisto, protetora. Nas férias ela ia junto com a família, coisas daquela época. O file de peixe com pure de batatas que era servido era coisa de outro planeta, tanto que, ainda muito pequeno, lá pelos meus 4 anos de idade, um dia fui até a cozinha, minima por sinal, agradecê-la.

Estas são histórias de minha infância. Lembrei, tem mais uma, curiosa. Lá pelos meus 4 anos de idade fui a festa de aniversário de um dos que estavam no pré primário e uma mão esticou uma garrafa de 7Up para mim. Quando olhei para cima dei com Marisa Matarazzo, sim a própria, a famosa cantora pré bossa nova, que em voz conhecia bem e adorava. Fiquei olhando para ela sem sabem o que responder. Sobre o refrigerante? Sei lá. Marisa Matarazzo!

E troquei de escola, ou fui convidado a mudar, sei lá. Mais justo a segunda opção. E na nova conheci a professora de francês que aplicava seguidas palmatórias, inesquecíveis. Esquece. E Zé Assumpção, amizade que durou mais de 65 anos. Eu não me lembro, mas a mãe dele, senhora fina e gentil, inteligência rara, das minhas paixões, contava rindo que no aniversário do Zé eu comecei uma guerra de brigadeiros na hora do apagar as velas que os adultos não conseguiram controlar. Saíram da sala de jantar, trancaram as portas e deixaram os anjinhos acalmarem. A reforma custou caro. Sobre brigadeiros... não, não são meus prediletos. Sobre a acusação que me fazem, não me lembro, mas nego veementemente. Eu? Fazer uma arte destas? Nunca!

Cachorro quente é bom. Em Mar del Plata, na praia de areia grossa e pedras, mar gelado, primos eufóricos com aquele sol que mal esquentava? Cachorro quente, melhor, panchos, muitos panchos, sentado dentro da barraca, no quentinho do meu casaco, nada mais delicioso. Diga-se de passagem, a salsicha Argentina é outra coisa.

Terceira escola. E minha mãe encasquetou que eu gostava muito de sanduíche de pimentão vermelho. Era bom, mas precisava ser todos dias? Nas raras vezes que tive dinheiro ia me deliciar com o misto da cantina. Muitos anos mais tarde voltei a comer o sanduíche de pimentão vermelho de minha mãe e era muito bom mesmo, mas precisava ser todos dias?

Sorvete Guarujá. Meu pai me deu 200 sei lá o que, creio que Cruzeiros, para passar toda as férias. Gastei 180 na recém inaugurada sorveteira Caramba. Preciso dizer algo mais? 
Poucos anos depois, o mesmo na Fredo de Buenos Aires.  La Flaminia... cucurucho de dulce de leche com cobertura de chocolate? Sonho! Faz uns anos, pouco mais de uma década, abriram uma Bacio di Late próxima. Repeti a loucura da infância: dois grandes de três sabores por dia, um mês impecável. 

Tostado jamon e queso con una tasa de chocolate caliente em Buenos Aires servidos por meu avô, Arturo, final da tarde no terraço do clube. Até hoje consigo sentir os gostos na boca, principalmente do tostado. Ali descobri não só gostos deliciosos, mas o que é uma boa vida. Detalhe, nesta mesma viagem, aos 11 anos de idade,  este meu avô, Arturo, me ensinou o que é um bom café. Avenida Santa Fé, Café de Colômbia expresso, 1966, o primeiro de um vício de vida. Aliás, nesta mesma férias ele, o velho Arturo Raul, parou o carro no meio da estrada, desceu, abriu minha porta, e disse "Daqui para frente você dirige". E lá fui eu. Isto em La Plata. 


Arroz. Entrei em casa depois do colégio e dei com uma panela de arroz recem feito, fogo que acabara de ser apagado, fumegando um cheirinho maravilhoso. Perguntei a minha mãe, mais em tom de brincadeira, se podia comer todo arroz, e ela caiu na besteira de dizer que sim. Panela de arroz para cinco. E eu raspei a panela e fui para meu quarto. Pouco depois aparece minha mãe na porta não sabendo se ficava preocupada pelo absurdo de arroz que eu havia engolido, se dava bronca por que teria que fazer mais e o almoço de meus irmãos que tinham que trabalhar atrasaria, ou o que. Não importa, ela ria e deu a volta em direção a cozinha dizendo a mesma frase que ouvi toda a vida: Arturo, comporte-se!

Arroz!

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Calçadas, caminhar, mobilidade

Segurança jurídica, o termo do momento. Ou a falta de segurança jurídica. É o que define não só os passos para o futuro, mas também quem é a sociedade que oferece ou não segurança. Brasil é o país da lei que cola e lei que não cola, começamos por aí. Brasil é o país com uma das maiores diferenças sociais. Brasil é o país onde caminhar a pé é coisa de pobre. Nossas calçadas que o digam. 
Cidades são o espelho da sociedade que ali vive. É no caminhar das calçadas que se constrói o que refletirá no social. Ali, no caminhar, do qual ninguém escapa, até mesmo motoristas, está estampada a equidade ou iniquidade. 
No Brasil a calçada é de responsabilidade do lote lindeiro, cabendo ao poder público fiscalizar. Há leis e normas, mas como com tudo, tem o que cola e o que não cola e, mais, pouca ou nenhuma fiscalização, isto quando há ou quando respeitam a segurança jurídica, ou ainda outras variáveis típicas do jeitinho brasileiro.
Cidades são construídas com vias, ruas e avenidas, as quais quem caminha obrigatoriamente cruza. Aí a equidade esvanece. A rua é dos automóveis, ninguém nega. O número de pedestres mortos e arrebentados não mente. O poder público tem pleno direito a sinalizar e fiscalizar o trânsito. Fiscalizar? Como? Tem lei (e norma) que cola e tem lei (e norma) que não cola. Fiscalizar o que e como?

Que cidade queremos? Igualdade? Equidade? Que vida você quer? Basta de violência! O primeiro passo é ser respeitado, dirão. Passo, dois passos, caminhar. Parece que brinco com a linguagem, mas não estou, definitivamente não estou. A cidade, a sociedade, a órdem, o progresso, só existem porque nos movimentamos, caminhamos. O direito ao caminhar com segurança é a base de uma sociedade equânime, justa, de bom futuro. Caminhar é mais que necessário, é essencial, determinante. Um país onde ainda se diz que caminhar é coisa de pobre está fadado a o que? Um país onde as leis e normas de segurança no trânsito para pedestres colam ou não colam está fadado a o que? Pense bem, o sujeito sai de casa, vai para a rua, e o primeiro recado que a cidade dá, melhor, que a sua sociedade lhe dá, é "Vai! trouxa! Vê se não atrapalha o trânsito". Muito dos problemas sociais que temos hoje, incluindo baixa produtividade, vem daí. Estou exagerando? Se você pensa assim, tenho certeza que se acostumou com o ruim. 

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Ser moderado, radicais, politicamente correto

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 
Rádio Eldorado FM 





É o que penso. Bravo Norberto Bobbio. Bravo Diogo Shelp.

Eu estou certo e os outros estão errados?

Ideias livres foi o que nos fez alcançar nas liberdades que alcançamos.

Politicamente correto, além de não implicar diretamente em agir corretamente ou ser correto, cai na besteira, para dizer o mínimo, de que o cuidado com as palavras leva direta e inevitavelmente a um comportamento social descente, apropriado, justo, produtivo.

Politicamente correto para quem e para que?

De pessoas que são politicamente corretas perante o público e nada as escondidas estou de saco cheio. Passei minha vida convivendo com eles, e aprendi, e continuo aprendendo. Aliás, aprendemos.
Qual é a inteligência embutida na besteira, até na grossa, estúpida? Não se aprende com erros ou o que possa parecer um erro? É repugnante ouvir o que não nos parece adequado? Se deve censurar ou limitar em nome de uma nova Santa Inquisição?

Salve, salve, Santo Chico Anízio 

sábado, 7 de junho de 2025

Duplamente ameaçado?

Recebi mais uma mensagem sobre os desmandos que ocorrem com frequência no Brasil e cai na besteira de responder. Não, não era vírus, nem fakenews, era fato, verdade, mas enviado com o gosto do ódio que faz da notícia uma arma para enlouquecer os que são contra. Não sou contra o que escreve, penso diferente, acredito em outra forma de resolver o problema, no caso, responsabilidade social. Solto o celular. Respiro. 

Calor pesado e vou tomar um sorvete. Aparece um menino, pré-adolescente, me pede para comprar um sorvete, e digo não. Para que? Como um ser de classe média com cara de alta elite não tenho o direito de recusar, não importa o que sou como cidadão ou se doo um bom percentual do meu dinheiro para instituições de caridade que têm um papel fundamental para a qualidade de vida dos pobres. Não comprei o sorvete para o pedinte, ponto final, sou execrável para o menino e os que estão em volta também tomando sorvete. Duvido que os iguais que me olham com reprovação façam alguma coisa de fato para mudar, ou pelo menos tentar mudar a situação daquele menino, de sua família e conhecidos. Atender ao pedido dele? Ninguém abre a boca ou tira a bunda de seus lugares. O problema é meu, decretam.
O menino tem prática, num rápido olhar sabe bem quem abordar e quem é tempo perdido. Foi bem treinado pela mãe para esmolar, pedir ou vender paninhos. Passa a irmã dele e o seu bebê no colo. Peito grandes que ainda amamentam e bebê bem exposto para todos verem, é concorrência desleal para o seu irmão que está ali pedindo sorvete. Mas o garoto sabe o que faz, é agressivo ao pedir e mais ainda depois de ouvir não, mesmo um não delicado. Solta frases prontas para encostar na parede quem se nega, as mesmas que ouvimos de tantos outros pedintes. Tudo igual. 
O que faço? Penso. Pago R$25,00 pelo sorvete para me livrar da situação ou continuo com a doação automática de R$200,00 / mês para uma entidade séria que com este dinheiro vai dar de comer a uns tantos miseráveis por dias? 

Nego o sorvete de novo, e o ambiente fica pesado. Por que os outros, os que me encaram em desaprovação, não satisfazem o menino? Hoje não quero dar, tive um dia ruim, preciso de paz. Os em volta me olham com desaprovação, mas quando o menino olha para eles buscando outra vítima, todos rapidamente desviam ou olham para o chão. O menino entendeu o jogo e força a barra. Eu tenho vontade de explodir, alguns torcem para que eu exploda, mas respiro fundo e profundamente constrangido até perdi a vontade de continuar no meu sorvete. 
Passa a mãe seguida dos irmãos menores que ela usa para sobreviver, talvez mais correto seria dizer como pequenos escravos. Já longe berra "vem!" para o garoto que se diverte em me acuar. Ele dá um último olhar ameaçador e se vai.

Fico sentado ali mesmo por um tempo, copinho do sorvete na mão vazio. Exausto. 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Nada mais estupido que punir piadas?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Entre os que conviveram com judeus costuma se dizer que judeu burro nasceu morto. E quem teve um contato mais aprofundado sabe que uma das bases desta "inteligência" é o imperdoável e maravilhoso senso de humor deles, algumas vezes até cruel com os próprios. Já fiquei sem saber se devia rir ou o que com piadas absurdas contadas por um rabino. É assim que eles, judeus, colocam tudo na mesa para conversar, discutir e pensar. E se fortalecer. E sobreviver...

"Punir piadas é sinal de fraqueza institucional"? Sinal de burrice, tacanhes, mediocridade. Pior, aponta para um Brasil que é tão estupido que deixou de ser risível faz muito.

Benção Chico Anízio

Benção a todos santos comediantes que tentaram fazer deste país um país




Vá de retro o politicamente correto

segunda-feira, 2 de junho de 2025

As rampas para cadeirantes

Rádio Eldorado FM 



A imagem fala por si. Pergunta: boa parte, se não a maioria destas rampas servem realmente para que? A maioria apresenta o mesmo problema: o cadeirante não consegue transpo-la. Ok, melhor com elas do que sem, como dizem, mas mais uma vez se implanta uma melhoria urbana para cumprir a lei, e não para servir ao uso.

Cadeirante ou pessoas com necessidades especiais de mobilidade, para quem estas rampas foram criadas, representam quanto da população paulistana? Mesmo que seja uma minoria, que não o é, eles merecem respeito.

Funcionar mesmo, funcionam para ciclistas subirem rápido na calçada. Definitivamente o projeto não parece ter sido pensado para cadeirantes.

A filmagem foi realizada na esquina das avenidas Higienópolis com Angélica, portanto bairro classe A. O mesmíssimo problema se apresenta na porta do Shopping Higienópolis. A bem da verdade, repito, é comum encontrar pela cidade rampas que pouco servem para seu fim.

Como sempre digo, não é a quantidade, é a qualidade que interessa, porque só a qualidade resolve.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Mais que um simples desrespeito a Marina Silva, Ministra

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Por que chegamos a este ponto? A resposta passa por pela nossa dificuldade conversar, discutir, ouvir, e saber o momento certo de falar, regra básica na troca de ideias. O desrespeito como Marina Silva foi tratada no Congresso é só mais uma ocorrência trivial no planeta de nossas autoridades, nada demais. Não trocamos ideias, atropelamos o outro com verdades particulares. Temas de extrema importância para o país são discutidos de forma pouco ou nada produtivas, isto quando são discutidas. A prova irrefutável? Brasil, o país do futuro (que nunca vem). Se constrói o futuro agregando, não acuando.
Marina tem o respeito e reconhecimento internacional, o que já bastaria para fazer aqueles senhores (?) ouvi-la com atenção, mesmo que ela estivesse ou esteja errada. Da forma como se levou o encontro fica a pergunta: aqueles senhores sabem sobre o que estão falando? Sim, sabem, porque falam com pleno conhecimento de questões particulares, imediatistas, quem sabe em proveito próprio. "Serei reeleito?"  

O Ministério do Meio Ambiente atrasa o progresso do Brasil, disse um deles. Faltou aos distintos políticos perguntar à Sra. Ministra do Meio Ambiente se a demora na definição da liberação das licenças não se deve à falta de pessoal, estrutura e verbas, e a uma discussão séria sobre o que é economia ambientalmente correta e qual a qualidade de futuro - econômico, se quiserem - que ela trás. Pecuaristas estão descobrindo que os mesmos ambientalistas que atrasam o futuro do Brasil estavam certos, e vem adotando medidas produtivas por eles há muito recomendadas.
Se os mesmos parlamentares que fizeram a senhora Marina, a Ministra, se levantar e sair, estão tão interessados no futuro do bem estar da população afetada pelas demoras, deveriam se perguntar por que eles mesmos, Congresso e Senado, não colocou em urgência urgentíssima dispositivo para o fortalecimento das várias investigações pendentes no meio ambiente, principalmente a lavagem de dinheiro e saída de bens de forma criminal do país. Dentre outras. Brumadinho que o diga.

Está claro que estes Congresso e Senado não têm sérias dificuldades para falar sobre meio ambiente. Pelo que já demonstraram, não lhes interessa destravar o futuro de todos, sem exceção, mas deixar a boiada deles passar. 

O Brasil é mestre em perder janelas de oportunidade. Há momento apropriado para tudo, inclusive para baixarias que sempre devem ser evitadas, mas infelizmente acontecem. Tratar alguém muito respeitado mundo afora de forma que este venha a se levantar e sair de uma reunião oficial que está divulgada por todas as mídias, aos quatro ventos, é dar mais uma prova que as autoridades brasileiras são imaturas, imprevisíveis, pouco polidas, o que, isto sim, sem nenhuma dúvida, atrapalha uma barbaridade o Brasil. Não só faltou sensibilidade, faltou inteligência, o que infelizmente também é fato corriqueiro. Não coloco aqui se foi ele ou ela, o que só piora a baixaria, mas o estrago sem tamanho para a imagem, comercial inclusive, de um país que já está vergonhosamente enrascado com a COP 30. 

Em entrevista para o Estadão, Kenneth Medlock, coloca que, por exemplo, a exploração de petróleo na faixa equatorial poderia financiar o frear da extração de madeira e do garimpo ilegais. "Poderia", mas no Brasil real terá alguma chance de ir? Quem se interessa de fato pelo meio ambiente? Interessante, a cada dia quem vem se interessando nos resultados ambientais é o agro busines.