segunda-feira, 28 de julho de 2025

... cicloclovias segregadas atraem mais ciclistas. Mas...

 "... cicloclovias segregadas atraem mais ciclistas", está escrito numa matéria do Mobilidades do Estadão.


SP Reclama
O Estado de São Paulo

"Ciclovias segregadas" tem este nome porque são 'segregadas', óbvio. Ou seja, como está no dicionário, Segregar: "Colocar-se de lado; pôr-se à margem de; separar ou separar-se", razões mais decisivas pelas quais nossa sociedade está cada vez mais dividida e violenta.
"Ciclovias segregadas atraem mais ciclistas" pela sensação de segurança, até certo ponto e dependendo das condições pertinente, mas não necessariamente verdade raza e definitiva.
O que não é tão óbvio é que segregar, mesmo em nome ao estímulo, tem seu preço. Hoje caminhamos, ou pedalamos, por um "Segrege-se e que se dane o resto". Será inteligente?

"Sem ciclovia (via segregada) não há segurança", é a palavra espalhada, verdade popular que abraça a maioria que o faz sem questionamentos. Será? Segregar será o único caminho para a segurança? Muros, grades, seguranças na porta, porta giratórias e outras medidas mais nos trouxeram mais segurança? Pelos números da última pesquisa agora apresentados, a resposta é "muito pelo contrário".

'Que vida você quer?' passa obrigatóriamente pela pergunta 'Que cidade você quer?'. Começando pela sua saúde, todos estudos apontam que o bem estar começa pela vida coletiva. Locais sadios são aqueles onde a comunidade olha pela segurança do próximo, do vizinho, de todos.  Nestes lugares há segurança porque o outro não está a margem, ou segregado, esquecido, largado. Segurança, a verdadeira, não a imaginária, está na integração, não na segregação. Unidos venceremos, simples e básico assim.

Em todas as partes do planeta a bicicleta foi e está sendo usada como uma ferramenta de integração social, não de segregação. O interesse pela bicicleta não está só na melhoria da mobilidade urbana, mas na capacidade de integração social que bem implantada ela oferece. Só não se Integra quando situações muito específicas realmente não permitem. 
Aqui, segrega-se, ponto final. Com isto grande parte das inúmeras vantagens que a bicicleta traz para a sociedade como um todo perde-se.

Há situações onde ciclovias segregadas não só são desnecessárias, como contraprodutivas. Segregar, "colocar-se de lado; pôr-se à margem de; separar ou separar-se" A rua é espaço público que deve ser dividido sem segregações, ponto de partida para a cidade que todos, sem exceção, queremos. 
Para começar, quem segrega coloca na sua conta a irritação dos que usam o espaço público quando são atropelados pelos direitos especiais dados aos ciclistas? "Deixa reclamar", é esta a resposta?

É necessário segregar? Sim, mas havendo necessidade, não generalizando, acima de tudo, bem pensado, o que não parece ser nosso caso quando olhamos o que está aí. Quanto mais km melhor é muito diferente da busca pela qualidade, esta sim amiga íntima da segurança, e inimiga da filosofia segregadora.

No Brasil a segregação vem com uma resposta simplista, populista a bem dizer, para soluções de problemas muito complexos. No caso do trânsito, ciclistas têm a mesma necessidade de segregação que pedestres? Pedestres são segregados porque seus deslocamentos são muito diferentes da forma de deslocamento de todos veículos, sem exceção, incluindo bicicletas, que por lei é veículo. Começa pela velocidade do caminhar e termina pela capacidade de mudar de direção, que no caso do pedestre pode facilmente ser abrupta, pára, gira, anda para trás, abre os braços, etc..., o que é impossível para qualquer veículo sobre rodas, a bem da verdade até para monociclos. É uma questão relacionada às leis de física, que até onde se sabe são imutáveis, pelo menos no resto do planeta.

O dia que o Brasil parar de segregar, colocar de lado; pôr à margem de; separar ou e principalmente separar-se, vamos iniciar a construção de um futuro com futuro.

domingo, 27 de julho de 2025

Juiz embriagado mata ciclista. Só isso?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

Mais uma morte. Não deixa de ser trivial, mas deve ser julgada no rigor da lei. Sera? Mas aí há um pequeno detalhe; o atropelador é um juiz aposentado. Vamos ver como a lei cairá sobre seus ombros, como seus iguais, juízes, vão encarar a realidade. Tenho pleno direito a esta dúvida. Creio que serão duros porque o juiz em questão atropelou bêbado e no momento da ocorrência se encontrava com uma mulher nua no seu colo. Mesmo assim eu creio que seja provavel uma punição, nem que seja para jogar o arquivo para baixo do tapete. Boa parte dos brasileiros devem pensar "vamos esperar para ver no que dá". Para infelicidade do sistema judiciário, a ocorrência fatal expôs uma situação nada simpática à população, que todos já sabíamos, mas é duro de engolir, o salário do juiz, uma brincadeirinha em torno de R$ 2.000.000,00 ao ano, sim, todos estes zeros, ou dois milhões de Reais ao ano. Sera que julgado culpado vão contrariar a lei e tirar o discreto salário do juiz? Duvido. Com todos estes predicados, talvez passe batido que um sujeito de 71 anos que dirige bêbado com uma senhora nua no colo é, pode-se dizer, imaturo. Se a esta altura do campeonato não tem maturidade, é factível imaginar que tivesse menos ainda mais jovem, quando trabalhava, no caso como juiz. Óbvio que isto não virá à tona. Se algum maluco for atrás e descobrir que este comportamento não é nem foi novidade, é de se supor que sua atuação em nome da justiça também não tenha sido. Aí é de se imaginar que vai entrar uma grossa e pesada turma do deixa disto, e também é de se imaginar que esta bizarra história macabra cause calafrios até nos que não são da justiça, mas trabalham intimamente ligados à ela.
Em outras palavras, a execrável morte não acidental da cidadã, por acaso ciclista, abriu a caixa de pandora que todos nós brasileiros sabemos que está aí, inclusive a remuneração vergonhosa, que eu prefiro profundamente ofensiva. O que eu creio que vá acontecer? Muito pouco, ou nada, além de uma provável condenação pela morte da ciclista. O resto, ora o resto... "Para com isso, cara!"

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Jockey Clube, Yate Clube Santa Paula e outros abandonados

SP Reclama
Forum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Jockey Club de São Paulo, Iate Clube Santa Paula. Abandonados; e muito mais mais outros, para não entrar no absurdo de todo centro da cidade. A quem cabe a responsabilidade, Prefeitura, Câmara ou Poder Judiciário? A bem da verdade, no estado que estão as coisas, é o que menos interessa. Tem que se resolver, ponto final. Abandonados há décadas, são um imenso prejuízo para a estabilidade da cidade e de seus cidadãos, muito maior que a maioria da população acostumada ao abandono geral consegue entender. São a prova que não é esta ou aquela instituição pública que está inoperante, falida, decrépta, mas todo o sistema que deveria servir ao povo. Qualquer tentativa de explicações por parte deles, o poder público, só piora. Passamos deste ponto, o que realmente interessa é dar solução a estas muitas situações vergonhosas, ridículas, que nos assombram, não importa de que forma. A teoria da vidraça quebrada é de uma verdade incontextável. Em São Paulo temos muito além de vidraças quebradas, temos 'só' um discreto Jockey Clube pintadinho, aparentemente bonitinho, mas largado, abandonado, sem futuro definido, imprestável para seu fim social implícito e obrigatório. E um Iate Clube Santa Paula e seu imenso hotel as margens da Represa Billings há décadas também largado às traças, ratos, baratas e sabe-se lá mais o que. Dois exemplos gritantes, dentre tantos outros. Sensação de abandono é um dos estímulos para a violência, a ciência e os dados provam. Se houver interesse real para reverter a bagunça que vivemos, que se comece por resolver os símbolos mais gritantes da incompetência. Assim foi feito em várias partes do mundo, com resultados sempre positivos. Aqui conhecemos esta técnica como "tolerância zero", que muitos dizem ser contra os interesses sociais. Contra os interesses sociais? Como assim? Por favor expliquem.

A saber, em NY, um imóvel fechado por mais de 6 meses é passível de pesadas multas. A razão, óbvia: prejudica a vizinhança. Paris obriga que todo e qualquer fachada de edifício seja limpa, tratada, restaurada, pintada com perfeição no prazo máximo de cada 10 anos. Nós temos uma lei que diz que a cada 5 anos é necessário fazer manutenção da fachada. Como tudo neste país, tem lei que cola e lei que não cola. Que vergonha!

Na alameda Casa Branca, área mais que nobre da cidade, um edifício ficou largado, inacabado, por mais de 30 anos. Pelo que contam, foram vários que entraram em contato com o proprietário para arrumar, terminar, tentaram comprá-lo, sempre tendo como resposta "não preciso, deixa lá". Como assim?
Situações como esta se espalham pelo Brasil. São Luis do Maranhão, Salvador, inúmeras cidades históricas, se não praticamente todas. 
O que corre entre o povão é que nossa memória, nosso patrimônio histórico, que a imensa maioria sequer entende sua importância vital, é abandonado de propósito para que chegue um dia a deteriorização completa e a irreversibilidade de sua recuperação, sendo necessária sua demolição, o que abre espaço para um novo emprendimento imobiliário bem rentável. Caso emblemático é a casa sede da Fazenda Bibi, que depois de muitas décadas de luta felizmente foi restaurada.

Terminando e a saber: NY na década de 80 chegou a ter mais de 80 mortes violentas por 100 mil. Para quem não sabe o que isto significa, o Brasil em 2023 teve 22 mortes violentas por 100 mil. A reversão da brutal violência de NY veio através do cuidar do que estava abandonado. O resultado está ai.

Aqui, pelo que parece, ninguém está nem aí.

domingo, 20 de julho de 2025

O abismo de comunicação

"O agro negócio tem um ponto positivo inquestionável, a entrada de dólares no país, e inúmeros pontos negativos que um conhecido,  engenheiro agrônomo, poderia enumerar. Um deles é a periferia das cidades grandes, em parte consequência da expulsão da população interiorana pelo modelo de negócio agrícola de grande escala",  segundo meu interlocutor.
 
E segue ele, "O país (Brasil) tinha uma extensa rede ferroviária que acabou por causa da indústria automobilística".

E termina, "A solução para o caos da cidade está nas mobilidades ativas e no transporte coletivo".

E aproveitando a 'sabedoria' popular, "Todos problemas vêem de políticas públicas erradas, da má fé. Tem que mudar".

E, E, E e E.... e poderia terminar com o usual "entendeu?".

Dito e feito. Dito e feito?
Como? O que?

Primeiro, as afirmações acima são verdadeiras, mas... não estão completas. Começando por elas e entrando a fundo em cada uma das questões surgem detalhes que, estes sim, podem levar aos resultados esperados.

Provavelmente já responderam ou ouviram alguém iniciar a resposta com um ".... sim, não, sim..." Brasileiro talvez seja o único povo que responde positivamente começando com um "...sim..., não, sim". Se for uma negativa é o contrário, não, sim, não. Eu faço isso. Estou cansado de ouvir esta resposta. Estou me patrulhando e estou tirando sarro de quem responde assim. Tenho dado boas risadas, mas o causo é sério.

Comunicação correta. Tai algo que nós, brasileiros, não somos educados e treinados para fazer. Sim, não, sim, respostas com frases incompletas, pensamentos que deixam para o outro completar ou subentender, e o infalível "entendeu?". É vício nacional. No final fica tudo num limbo além da imaginação.
Como isto influencia na comunicação de assuntos que demandam precisão, seriedade, e tomada de decisão correta? Não sei, mas tudo me leva a crer que é um dos mais graves desvios para construir resultados. 

Saindo do povão, me incluo aí, e entrando no mundo dos especialistas e conhecedores, aqueles que têm capacidade e podem resolver problemas, aposto que há um abismo absurdo na forma como expõe suas razões para o público, e esta é uma das razões pelas quais estamos vivendo estas graves crises com seguidos vôos de galinha.

Faz 50 anos que estamos gritando sobre a gravidade da questão ambiental, por exemplo. Ora, se a gritaria tem tanto tempo e não alcançou os resultados esperados, algo está muito errado, e sem muita dúvida, uma delas é a forma de comunicação. 

O causa esta tremenda dificuldade de definir uma posição? Por que navegamos no talvez? Não aprendemos onde isto nos traz?

terça-feira, 15 de julho de 2025

Nos falta educação emocional

Sigo dois grupos que estão em lados opostos, literalmente. Um de esquerda ideológica e o outro de direita patológica

O fogo da intransigência sempre esteve aceso, mas depois da reação de Trump com seu 50% o fogo explodiu em acusações pirotécnicas dos dois lados. Nada de novo, só um pouco mais barulhento, luminoso e quente que o habitual.

Confesso que tenho bons amigos dos dois lados, entendo algumas posições, mas fico cansado. Mais, longe deles gasto parte de meu tempo tentando descobrir como reverter esta queimação infernal tão destrutiva para os dois lados e mais ainda para nós, simples cidadãos que só queremos que a coisa funcione bem e tenhamos vidas normais, sem ter que obrigatoriamente que tocar fogo e se queimar.

Educação emocional, nossa educação emocional, aqui no Brasil, é muito ruim, ou inexistente. Se no passado havia uma educação social informal, os usos e costumes que colocavam limites na reação puramente emocional, ela veio se deteriorando ao longo dos anos de uma forma brutal, e o brutal aqui não é figura de linguagem.

Por razões ou interesses estamos jogados um ping pong entre um capitalismo selvagem e um socialismo selvagem, bestial melhor dizendo, os dois. O interesse maior, inclusive dos dois lados? Não interessa. O X da questão é destruir o outro. Fodam se todos e todo mundo. "Nós e eles", "eu!" (selfie!). Quem não quer pancadaria sofre as consequências, leia-se Brasil.

Educação emocional para saber conversar com um mínimo de racionalidade. Deixar o outro falar, ouvir, entender sem ser devorado pela emoção bruta e sem agarrar o outro pela goela.

Não sei o que você sente quando vê nossos congressistas atuando no plenário, mas eu fico maus. Morro de inveja quando vejo congressos ou parlamentos de outros países debatendo, e incluo Itália aí, famosa por seu comportamento expansivo, vamos dizer assim.

Desta vez fiquei tempo suficiente em Roma para poder ser convidado a alguns encontros familiares e de amigos. Voltei para casa feliz, calmo. Mesmo que os italianos tivessem, e tinham, posições bem diferentes, cada um expunha sua razão sem ser interrompido, sem interferências. E só depois de terminada sua exposição alguém começava a falar. 
Estou errado? Não creio. Exagerado? Não. Ou você acha que a baderna que vivemos, que já se transformou em caos, está aí por que? Não falo só de política, mas de violência pura, bruta, estúpida e irracional. De onde imagina que vem? De posições racionais?

Educação emocional leva a uma melhoria da racionalidade, e racionalidade nos levará a qualidade. Olhem os que nos servem de exemplo e verão que este foi o caminho que seguiram.

A entrevistada a Rádio Eldorado, falando sobre educação de crianças diferentes acabou de citar "conhecimento de ciência social". É sobre isto que me refiro quando falo sobre educação emocional. 
Hão de concordar que este Brasil que vivemos é infantil, tipo aqueles que jogam areia na cara do outro para não emprestar seu brinquedo. "É meu!"

Óbvio que para uma minoria não é interessante que a maioria pense racionalmente. E a maioria aceita. Quem cala, aceita, reza a verdade.

O precisamos é vender a ideia que só com um mínimo de controle emocional sairemos desta baderna que estamos metidos.

Os dois lados fanáticos, o do capitalismo selvagem e do socialismo selvagem, não vão mudar, sempre existirão, mas com algum comportamento racional a maioria conseguirá isolar estas doenças, então teremos o futuro que sempre desejamos.

Brasileiro fajuto: só agora descobriram?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 


Descobriram que o cara é brasileiro fajuto? Como diz o povão: "demorou!", isto para deixar o sarro barato. Um passo atrás, tem gente que sabia que Trump não era muito bom da cabeça, mas está se surpreendendo com o que está acontecendo agora. Como assim? Não dava para perceber que aquilo daria nisto? Não era previsível? Estás de brincadeira?!? Um passo a frente, depois de tentativa de golpe contra o Exército, décadas de nulidade no Congresso, 700 mil  mortos, falas sem sentido e outras loucuras absolutamente inaceitáveis, não dava para ter uma noção que o sujeito não está nem aí para não só o Brasil, mas única e exclusivamente interessado no que seja de seus interesses mui particulares? Pior, o sujeito em questão definitivamente não é o único, muito pelo contrário. Não importa a linha política e ideológica, temos aos montes. A bem da verdade, assusta mesmo a cegueira geral. Está sim me preocupa, e muito. 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Solidão: ...

Rádio Eldorado FM 

Brasil é um país com baixa educação emocional. Solidão acaba sendo uma consequência. Solidão individual e coletiva. Não é porque você está encaixado num grupo social que está ou ou acaba só, sente solidão, algumas vezes profunda. Ou você se encaixa na manada, pensa, age e fala a mesma coisa que este geral, ou você é deixado de lado, ou pior, desprezado ou até encurralado. Não importa nada se o solitário tem muito a oferecer. Via de regra não interessa a maioria enxergar a solidão do próximo. Inegável que Brasil virou salvasse quem puder, muito individualista.

Ainda pela baixa educação emocional, é difícil ter uma conversa racional mais profunda, onde os motivos não só da solidão venham à tona sem estremos. Aliás, fora do trivial é difícil estabelecer contato, mesmo com os muito próximos.

Solidão acaba sendo a medida da estabilidade social de um país, mas, quanto mais instável emocionante, menos se consegue rastrear a solidão.

Minha fuga é pedalar. Ou trabalho, o que não estou conseguindo fazer por conta de problemas familiares, problemas estes que estou tendo que aprender a lidar completamente só, portanto na solidão.

Não é porque você tem um ótimo relacionamento que você não está completamente só, totalmente afundado na solidão.
Amar é uma coisa. Amar não implica diretamente na não solidão. As duas emoções podem caminhar juntas, e não raro caminham.