sábado, 16 de agosto de 2025

666 e Babylon, a diferença que a idade faz

A década de 60 desencadeou uma série de misticismos. Imagino que tenha sido uma reação às regras que imperavam no ocidente, ou sob as asas da santa igreja católica, ainda sob influência dos últimos resquícios da santa Inquisição, já não mais sob o poder da igreja, mas dos fiéis, e por que não dizer num pós Segunda Guerra Mundial que praticamente dizimou todos valores. De qualquer forma continuamos temerosos ao desconhecido e daí as teorias da salvação no meio de uma transformação social que redefiniria tudo, da economia ao social. E surgem as minorias barulhentas indo atrás de budismo, cristianismo, novos profetas, velhas escrituras, enfim bobagens sem fim que salvariam o planeta e a humanidade, tais qual esta analise sem pé nem cabeça que faço aqui. 

Apocalipse! Uau! Apocalipse! A palavra apavorante de tudo que envolvia um futuro previsto entrou nas conversas, primeiros dos adultos, depois dos adolescentes, Apocalipse virou um apocalipse social, muito mais assustador e mais divertido que filmes de Hollywood. Fora meus exageros de praxe, esta é a mais pura verdade.

O desconhecido cria imagens interessantes. Não era tão fácil pesquisar naquela época. Aliás, dependendo do que, era muito chato para começar, e depois era uma trabalheira danada para chegar na informação que se queria. Não sei como está pesquisar um tema numa biblioteca de hoje, ou sei mais ou menos, é na telinha, mas nos séculos e séculos antes da telinha era ir para o fichário, procurar por ordem alfabética (se você soubesse o que estava procurando), folhear ficha por ficha, até encontrar o que queria, o que eu em particular raramente conseguia. 

Como todo adolescente de minha geração, adorava mistérios, a busca de magias, de caminhos para a paz e amor, o que quer que fosse isso. 

Aos 17 anos, ver um disco na vitrine da loja com a capa vermelha e um 666 estampado em preto, foi o máximo. Comprei, levei para casa, tirei o LP cuidadosamente da capa, coloquei no toca discos, e... Interessante, muito interessante, bem diferente do que estava acostumado, principalmente a faixa 'The Four Horsemen', cantada como um chamamento do Corão. Babylon, a música, era simpática, mas não minha preferida. Ouvi umas tantas vezes o disco, sem nunca ter feito uma relação mais direta com misticismos ou religião. Era só música.
O que eu ouvia na época era percebida como uma obra, letra, arranjos, composição, tudo junto e misturado. Eu tinha uma educação musical de ouvido estruturada, tinha condição de perceber e saborear nuances, pequenos detalhes, mas a preocupação com letra, sentido, mensagem, era praticamente zero. Era só música.
Mesmo na época dos Beatles e de outras descobertas, aliás, bem atrás no tempo, bossa nova, música clássica, big bands, música era simplesmente música.

Passou o tempo dos misticismos e outros devaneios spirituals, sim, spirituals, sem dúvida com toda a magia de Disney ai no meio. Com as mídias novas pesquisar ficou 'biscoito', como dizíamos.
Acabei de descobrir que Paul McCartney e George Harrison, no meio destas novas descobertas espirituais e etc... pegaram um avião e foram para San Francisco ver qual era o babado do movimento Flower Power e de tudo mais que estava acontecendo por lá. Acharam uma tremenda babaquice, ficaram dois dias, e voltaram para casa para o real life. 

Aqui, no Alto de Pinheiros, senhoras da mais fina educação e sociedade descobriram um "santo" que dava consultas espirituais numa das mansões. Reuniam-se todas ali uma vez por semana, na quarta-feira se não me engano, e entrava uma por vez numa sala fechada para ter com o "abençoado". O máximo que cheguei perto destes eventos foi esperando dentrou do carro estacionado na rua para que saíssem de lá iluminadas, com suas áureas brilhando felicidade. De fato algumas saiam. Um dia tudo acabou inesperadamente. Perguntei e ouvi a resposta impiedosa para as gargalhadas que se seguiram: as puras e esperançosas senhoras entravam na sala abençoada e... Bom, um dia, a dona da casa, um sobrarão, melhor, mansão, inadvertidamente abriu a porta e deu com a benção carnal que estava internisada na amiga. Santo pau na periquita!

O fato curioso desmontou muito de meus misticismos, mesmo assim continuei acreditando que havia muito mais entre céu e terra que se possa explicar. Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.   

Outro dia, ouvindo o 666, que é maravilhoso, tive a curiosidade e fui atrás do significado de Babylon, que na realidade é Babylon the great, Meretriz da Babilônia, ou também 'Grande Prostituta'. Primeiro, em minha santa estúpida ignorância sempre pensei que Balylon fosse uma cidade ou um homem. Abrindo uma série de páginas de pesquisa acabei descobrindo que é uma alegoria, melhor, que pode ter várias interpretações, praticamente todas relacionadas as políticas ou práticas sociais da época que foi escrito o Apocalipse. Já 666 sempre soube que está relacionado às bestas apocalípticas, que também são alegorias. 

Ignorância é uma benção*. E o caminho para o inferno. Escolha.

Este disco do Aphrodite Child, 666, musicalmente ótimo, hoje, nesta era de autocracias populistas baseadas na loucura estratégica, manda um recado que faz todo sentido. 




Babylon the great

*Já dizia o poeta inglês Thomas Gray que “Onde a ignorância é uma bênção, é loucura ser sábio”, mas a frase “Ignorância é uma bênção” ficou famosa com o personagem Cypher de Matrix (filme de 1999). Porém, antes de Matrix, outra figura icônica da Cultura Pop, John Lennon, já tinha proferido que “A ignorância é uma espécie de benção porque se você não sabe, não existe dor”.

Uau! 

Quando o Spirit se desfez, alguns de seus membros formaram o Jo Jo Gunne, que também tem uma música Babylon. Desta não faço ideia sobre o que fala, só saio dançando. Divirta-se. Aproveite porque ignorância é divertida por bem pouco tempo.




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