sábado, 7 de junho de 2025

Duplamente ameaçado?

Recebi mais uma mensagem sobre os desmandos que ocorrem com frequência no Brasil e cai na besteira de responder. Não, não era vírus, nem fakenews, era fato, verdade, mas enviado com o gosto do ódio que faz da notícia uma arma para enlouquecer os que são contra. Não sou contra o que escreve, penso diferente, acredito em outra forma de resolver o problema, no caso, responsabilidade social. Solto o celular. Respiro. 

Calor pesado e vou tomar um sorvete. Aparece um menino, pré-adolescente, me pede para comprar um sorvete, e digo não. Para que? Como um ser de classe média com cara de alta elite não tenho o direito de recusar, não importa o que sou como cidadão ou se doo um bom percentual do meu dinheiro para instituições de caridade que têm um papel fundamental para a qualidade de vida dos pobres. Não comprei o sorvete para o pedinte, ponto final, sou execrável para o menino e os que estão em volta também tomando sorvete. Duvido que os iguais que me olham com reprovação façam alguma coisa de fato para mudar, ou pelo menos tentar mudar a situação daquele menino, de sua família e conhecidos. Atender ao pedido dele? Ninguém abre a boca ou tira a bunda de seus lugares. O problema é meu, decretam.
O menino tem prática, num rápido olhar sabe bem quem abordar e quem é tempo perdido. Foi bem treinado pela mãe para esmolar, pedir ou vender paninhos. Passa a irmã dele e o seu bebê no colo. Peito grandes que ainda amamentam e bebê bem exposto para todos verem, é concorrência desleal para o seu irmão que está ali pedindo sorvete. Mas o garoto sabe o que faz, é agressivo ao pedir e mais ainda depois de ouvir não, mesmo um não delicado. Solta frases prontas para encostar na parede quem se nega, as mesmas que ouvimos de tantos outros pedintes. Tudo igual. 
O que faço? Penso. Pago R$25,00 pelo sorvete para me livrar da situação ou continuo com a doação automática de R$200,00 / mês para uma entidade séria que com este dinheiro vai dar de comer a uns tantos miseráveis por dias? 

Nego o sorvete de novo, e o ambiente fica pesado. Por que os outros, os que me encaram em desaprovação, não satisfazem o menino? Hoje não quero dar, tive um dia ruim, preciso de paz. Os em volta me olham com desaprovação, mas quando o menino olha para eles buscando outra vítima, todos rapidamente desviam ou olham para o chão. O menino entendeu o jogo e força a barra. Eu tenho vontade de explodir, alguns torcem para que eu exploda, mas respiro fundo e profundamente constrangido até perdi a vontade de continuar no meu sorvete. 
Passa a mãe seguida dos irmãos menores que ela usa para sobreviver, talvez mais correto seria dizer como pequenos escravos. Já longe berra "vem!" para o garoto que se diverte em me acuar. Ele dá um último olhar ameaçador e se vai.

Fico sentado ali mesmo por um tempo, copinho do sorvete na mão vazio. Exausto. 

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