domingo, 31 de janeiro de 2016

Florianopolis - Unidades de Conservação; Mar sem Fim

Quem gosta de águas, principalmente do mar, e sabe de verdade a importância da preservação ambiental para todos âmbitos deve assistir a série Mar Sem Fim, um dos melhores, talvez o melhor programa produzido sobre a condição que se encontra nosso litoral, muito triste aliás. Se estou falando de Florianópolis não posso deixar de mostrar o que Mar Sem Fim tem a dizer sobre as Unidades de Conservação de lá. Lembro aqui da importância crucial das mobilidades ativas, por sua vez a bicicleta, na preservação de qualquer água, nascentes, córregos, rios, pântanos, lagos, mangues, e mar. Nossa vida depende da qualidade das águas.
Senhores e senhoras, com vocês, o excelente Mar Sem Fim.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Rio Tavares, natureza e construções

Estou num dos novos edifícios de três andares construídos em Rio Tavares, ilha de Florianópolis, na mesma rua do Centro de Saúde. Novo, mas não está ligado a rede de esgoto, ou, pior, todo bairro não tem rede de esgoto. Em pleno século 21 deram autorização para um bairro cercado por reservas ambientais crescer rapidamente sem rede de esgoto? De um lado a montanha com uma mata atlântica primária, do outro uma praia muito bem preservada porque está protegida por dunas e uma mata típica, e no meio destes paraísos cada dia mais e mais fossas contaminando o solo? Ups! Pior, tem terreno que deve ser várzea e está sendo aterrado. Enfim, péssimo.
Acabei virando paixão de três lindos vira-latas, duas fêmeas e um macho de uns 20 kg cada, que me acompanhavam aos pulos onde fosse. São os donos do pedaço e da praia, conhecidos e amados por todos moradores. Numa das minhas caminhadas pela praia fui severamente repreendido por uma jovem senhora: “Os cachorros não podem vir à praia”. “Ok! Então vou alfabetiza-los e colocar uma placa na entrada da praia avisando”. Muita gente me fez cara de repreensão por estar sendo acompanhado, ou seguido, pelos lindos que são muito menos daninhos ao meio ambiente que qualquer de nós, humanos; mesmo quando cavam, cavam, cavam, enterram meio corpo da arreia e comem fazendo caretas siris ainda vivos, ou quando saem correndo atrás de qualquer pássaro pousado n’areia.
Para chegar a praia é necessário cruzar trilhas dentro da mata. Lá vivem vários saguis, estes sim um grave problema ambiental. Não são nativos da área e se transformaram em predadores de várias espécies nativas. Como não tem predadores estão fazendo um estrago digno de ser humano. Estão sendo caçados e transferidos para o local de origem. Gostaria de ver a reação da distinta senhora quando o morador local, ambientalista e conservacionista, me contou sobre os problemas causados pelos saguis. Madame não sabe de nada.
A cada vez que passava pela trilha fiquei me indagando quantas espécies vivem lá. Qual a complexidade daquela fauna e flora e em quanto tempo as construções vão afetar seriamente aquele ambiente? Entre os três vira-latas e todos aqueles humanos na praia eu fico com os vira-latas. Matemática simples: no segundo dia de praia uns pescadores pegaram uma garoupa de 40 kg que estava nadando atordoada já quase na areia. Garoupa pegando onda? A praia estava cheia de peixes mortos, de todos tamanhos e tipos. A razão? Segundo os pescadores "uns idiotas que usam dinamite para pescar lá na ilha (em frente)".

Ontem foi divulgado mais um ranque internacional sobre turismo e é óbvio que o Brasil é um dos países menos visitados. Com esta natureza maravilhosa país pouco visitado? Ridículo!

domingo, 24 de janeiro de 2016

Diário de um velhote banana

Fui até a padaria pedalando pegar uns pães e voltei com eles quentinhos, saídos do forno. Achei que iria fazer sucesso. Entrei na sala, dei bom dia e nem bom dia recebi de volta. Eu existo?
Os monstrinhos estão assistindo Diário de um Banana. Um deles acordou, ligou a TV, zapeou e o Diário de um Banana, o filme, estava lá. ‘Perder o Diário de um Banana para tomar o café da manha? Nunca!’ É um pouco sacanagem tirar eles do filme por que estão lendo o livro original. Mas café da manha não dá para ir para a praia. Ó Deus, ó vida, o que fazer?
Fico imaginando como ficaria ‘O diário de velhote bananão’. Não ouso perguntar a eles. Ser chamado de velhote por um pirralho de 7 anos achei até divertido, mas minha vingança será maligna: ‘Moleque, continua assistindo TV e jogando vídeo game e quando você tiver 20 anos vamos correr 10 KM’. Esta será minha vingança? Estarei mais velho ainda, provavelmente capengando. Para eles é agora, o resto não interessa nem faz sentido. Agora eles querem é ver o Diário de um Banana, o filme. Não ter qualquer controle sobre esta máfia de pentelhos dói. Pensando bem, não se pode ter controle sobre tudo. Pensando melhor ainda, neste Brasil do nunca antes é melhor desencanar. Que se dane! Mas dói.
São 9:40 h e o filme está longe do fim. Não sei que horas vai terminar, mas mais um pouco o velhote (bananão) aqui não vai aguentar ir para a praia com ou sem eles ou minha pele frita ou derrete, ou os dois juntos.

A TV continua ligada. Chega! “Eu vou para a praia. Tchau. Fui”, aviso aos pentelhos navegantes. Os três deram um pulo da TV e rapidinho estavam prontos. Dois haviam tomado café da manha durante o filme e um se fez de esperto e não comeu nada. “Não tomou o café da manha não vai para a praia”. Não teve sequer coragem para soltar o “...mas...” Quando voltei estava quieto e havia se comportado feito um anjinho. Criança gosta de ordem e disciplina. O resto do dia foi uma beleza. ‘Que lindas crianças, que anjinhos’! Tudo passou a funcionar bem, para mim e para eles, enfim, para todos. Que diferença para ontem! Bagunça gera bagunça. A verdade é a seguinte: Não há liberdade sem disciplina. Até uma criança sabe disto.

Acabei de terminar Oliver Twist, de Charles Dickens, um conto sobre uma criança inglesa na Inglaterra de 1830. Vale a leitura pela comparação com nosso Brasil do nunca antes. 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A autoridade e o mar.

A praia é maravilhosa, isolada, quase virgem, limpa, sem construções a beira mar, só com algumas poucas passagens pelo meio da mata existente entre as ruas e as dunas com vegetação rala. Faz três dias que o mar vem ficando mais agitado e neste fim de tarde estava com ondas altas, picadas, irregulares, difícil para quem só quer nadar um pouco para se acalmar. Não vejo os poucos surfistas que até ontem ainda se arriscavam pacientemente para conseguir pegar ondas “gordas e curtas”, segundo eles. Cruzar a arrebentação, que não acontece muito distante da praia, e sair nadando a favor da correnteza me vai levar para onde está a sequência de bandeiras vermelhas indicando perigo. Nado até onde as ondas da primeira arrebentação param de espumar. Fico só com a cabeça para fora da água subindo e descendo ao sabor das ondas como uma gaivota. Sou levado pela correnteza para a frente das bandeiras vermelhas que somem e aparecem ao sabor das ondas. Fico de costas para a praia olhando as ondas que vem e repasso páginas de Sidarta, de Herman Hesse. Definitivamente minha vida não esta sentada a beira do rio olhando as águas que passam, mas o marejar daquele mar a cada minuto mais agitado vai aos poucos me dando paralelos de meus problemas imediatos, um balançar de respostas que vão trazendo paz. Continuar boiando só vai me levar para onde há mais bandeiras vermelhas.
São três crianças, 10, 8 e 7 anos. Foi um dia particularmente difícil para nós, os mais velhos. As três crianças juntas foram capazes de colocar em prática um ‘complô’ contra o pai, a avó e eu, que não sou nada ali, segundo eles próprios. Chegaram a beira do desrespeito. Ou chegaram ao completo desrespeito premeditado. Não sei mais, aliás, não sei mais nada, afinal são crianças, não fazem ideia do fio da navalha que há entre a gozação e o escárnio. Não sabem o que é escárnio, mas tem uma facilidade incrível de pratica-lo. Não fui pai, não sei quanto se deve esticar a tolerância; sou de uma outra geração onde o respeito social era princípio essencial. Sou de outro tempo, esta é a única dúvida que não me resta. Nestes últimos dias conseguimos pelo menos evitar que sentem à mesa jogando nos tabletes ou lendo gibis. Na casa deles os pais permitem. Algum controle a qualquer preço tem preço. Ontem pela manha uma vizinha comentava que seu filho de um pouco mais de um ano só senta a mesa se estiver com um celular na mão, que sabe que é um erro, mas permite; e que o marido fica furioso. Pequenos mal hábitos, pequenas concessões, grandes estragos ou pitadas de liberdade? Liberdade? Duvido. As três crianças de casa dificilmente respondem quando eu e a avó perguntamos algo. Somos serviçais e devemos, de preferência, ser invisíveis. Me sinto mal como se comunicam com os pais. Praticamente fazem o que querem. Eu não devo estar louco, talvez tenha algum direito que achar anormal. Ontem passaram uma longa reportagem na Globo justamente sobre este problema de crianças, melhor dizendo pais, que não tem ou dão limites com estes aparelhos.
Ainda subindo e descendo ao sabor das ondas do mar vejo que tudo está a cada minuto mais agitado aqui assim como lá no apartamento. Dou braçadas fortes e vou para o raso. Fico em pé nas minhas próprias pernas e saio andando, meio desequilibrado com as ondas que ainda me pegam pelas costas. Saio d’água, cruzo a arreia, subo o primeiro trecho de duna, paro e olho em volta. A praia está linda, já contornada pela delicada névoa amarelada que vai chegando suavemente com o por do sol. O mar está muito agitado, se vê mesmo de longe, mas lá dentro me senti uma gaivota. Tenho que abrir as asas e voar.
Volto ao apartamento e as crianças estão surpreendentemente tranquilas vendo Forest Gump. Tereza conseguiu controlar a situação, não faço ideia como. Me pergunto quem sou eu e qual o valor de meus valores. As ondas do mar não são as mesmas nem nunca serão. Consigo boiar com muita facilidade, mas por mais que me esforce parece que estou destinado a morrer com a inflexibilidade de um pau que desce com a correnteza. Pau de chuva? Ou estou errado? Que Brasil é este?


Leiam a notícia que Thiago Benicchio, do ITDP, fala sobre os problemas das ciclovias de São Paulo. Estarei errado? Que cidade é esta?

domingo, 17 de janeiro de 2016

Propaganda de férias

Qual a diferença entre fazer uma obra no período de férias e no resto do ano? Simples: melhor fazer no período de férias quando todas as estradas estão cheias assim o povo vai ver que você está trabalhando para o bem do pais. Brasil, o trânsito parado de todos. Muito inteligente.
Sai de São Paulo em direção a Florianópolis às 5:00 h. da manha para não pegar trânsito na cidade e principalmente para passar pela Serra do Café sem problemas. Deu certo. Tranquilo até Curitiba. “O pior ficou para trás...” Na Regis Bitencourt só se canta vitória quando se chega no destino final. Como não pode ser diferente, no fim da serra entre Curitiba e Joinville o trânsito para. E fica parado. Vai andar, vai, vai... Para. Duas horas e 15 km depois passamos pelo recapeamento de um trecho de 500 metros. Recapeamento de pequenos trechos em pleno trânsito de férias? Brilhante. Mais a frente, ora, quem diria?, para quem ia ou voltava, em doses homeopáticas o para, vai, não vai, liga o carro, vai mais 20 metros, para.... Brilhante! São Paulo – Florianópolis em 14 horas. PT saudações.
A chegada até a casa de Florianópolis não poderia ser diferente. Mais quase uma hora para chegar até a Praia do Meio ou Praia da Cruz em Rio Tavares, Ilha de Florianópolis. Mas não se preocupem, neste local que fora das férias é vazio estão construindo viadutos para facilitar a vida de todos. Em vez de ficar entalado na velha via existente quando foram entregues a população você ficará entalado sobre o viaduto. Dinheiro é mato então viaduto no meio do mato. Faz sentido.
Ufa, carro na garagem! Tira a bicicleta de dentro, instala a roda dianteira e sai para rodar. O trânsito respeita.

Eu tenho um sonho: um dia pegar um trem (para qualquer parte do Brasil), meter a bicicleta dentro, chegar e sair pedalando. Tão civilizado... 

domingo, 10 de janeiro de 2016

festas e eventos para a boiada

Gostei demais de carnaval e sua bagunça. Hoje gosto bem menos porque grandes eventos, como carnaval, saíram do povo e viraram um business de boiada (ou boiada de business, como queiram). Eu tive a felicidade de ver e participar dos velhos e bons carnavais. Cheguei a ajudar vários blocos de grandes escolas a vestir as fantasias, logo ali na concentração, já no portão de entrada da avenida Marques de Sapucaí, a um instante do início do desfile. Sai atrás dos blocos de Ipanema numa época que havia um limite, o da diversão sadia. Vivi o pré carnaval e carnaval de Olinda, intenso, humano, emocionante, puro. Sei bem o que é multidão nas ruas, na arquibancada, o que diversão coletiva, massa feliz. Hoje boa parte destas festas viraram boiada e umas tantas terminam em estouro da boiada. Mesmo num Sambódromo o que vale é “Sua entrada (ou credencial) é ali, naquela porteira”. Até pequenos eventos, festas, viraram business.
Sempre culpo por não ter aceito o convite de minha avó Carminho que um dia quis me levar para ver o carnaval da av. Rio Branco, no Rio de Janeiro. Bem antes da Marques de Sapucaí. 
Tudo virou boiada humana. Mesmo assim sempre dá para tirar proveito. Eu estou me devendo descer para Santos pela Imigrantes e Anchieta na véspera de Ano Novo, quando as estradas congestionam e simplesmente param de ponta a ponta. Este ano foram até 6 horas de carro para chegar no litoral. De bicicleta vou muito mais rápido. Tem muita gente descendo no pedal. Infelizmente tem uns malditos ladrões de bicicleta pelo caminho. Ladrões de boiada, nada mais. Eu preferia a boa boiada dos que desceram pedalando pela Rota Márcia Prado, mas pelo visto não acontecerá mais. Tem um grande risco de assalto no fim da estrada de manutenção. Ladrões de oportunidade. 
Porque não ir pela estrada e no meio do trânsito. Nunca fiz. Ano que vem não corro a São Silvestre ai desço. Ou, se der muita sorte, vou ouvir que a estrada está fechada por causa de um dos frequentes acidentes, saio correndo e desço. Enfim, quero descer a Anchieta. Preferia descer numa boa, tranquilo, sem burlar nada. Espero ainda ver o dia que assim seja.
Infelizmente o coletivo virou uma boiada... Muuuu! No pancadão! Nós nos acostumamos com o ruim.

Semáforos de São Paulo

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Mais uma chuva e mais um sem número de semáforos de São Paulo apagados. Nunca vi acontecer com tanta frequência como vem acontecendo agora, nesta administração Haddad, do PT. A reforma do sistema semafórico que foi prometida, se estiver em andamento, definitivamente não funciona. E não poderia funcionar mesmo. Quem tem um mínimo de curiosidade cidadã conversa com marronzinhos e técnicos, e aproveita a oportunidade para olhar as caixas de comando semafórico verá que a caixa é muito velha, precária, vaza, o sistema eletrônico parece coisa dos anos 80, entenderá que os técnicos vêm fazendo milagres para que o semáforo volte a funcionar até a próxima chuva. A verdade é que todo sistema de São Paulo está completamente obsoleto e precisamos trocar tudo, semáforos, caixas de comando, sensores, cabeamento... e ainda criar uma central de operações inteligente apropriada para a São Paulo do futuro. Mais, precisamos ampliar e melhorar muito o sistema de imagens da cidade e do trânsito. Custa, custa muito, mas não tem verba pública mais bem gasta. Pelo quanto o Prefeito e seu Secretário de Transportes poderiam dar explicações dignas sobre o que está acontecendo. Como cidadão tive a curiosidade e vi como Marta Suplicy, também do PT, deixou a CET: uma sucata.

Quando na eleição passada se preparou o documento reivincatório aos candidatos à Prefeitura de São Paulo eu disse que preferia que a troca do sistema semafórico fosse nossa prioridade, até sobre a reivindicação de ciclovias. Quase apanhei. Minha posição continua a mesma. Estaríamos em outra posição, principalmente no que se refere a simpatia de toda a população paulistana.

domingo, 3 de janeiro de 2016

O tempo do silêncio

As ruas continuam vazias, como sempre ocorre depois das noites de Natal e Ano Novo. Melhor dos sonhos para quem tem gosta de paz e simplesmente pedalar. Tão vazia que dá para ouvir os carros de longe e cruzar boa parte dos cruzamentos sem pensar ou mesmo diminuir a velocidade.
Sou de uma época que o trânsito fluía mesmo nos piores congestionamentos e se encontrava vaga para estacionar o carro até na porta da faculdade. Não existia motoboy, tinham uns poucos loucos motociclistas passando correndo e praticamente nenhum ciclista pedalando durante a semana, fora os entregadores e suas cargueiras. Demorou a até chegar ao ponto que meus amigos começaram a ter e usar bicicleta. Caminhei muito e pedalei praticamente só numa São Paulo quase bucólica. Estabeleci uma relação muito especial e particular do pedalar com a paisagem e meu bem estar. A bicicleta me ofereceu longos momentos de silêncio, distanciamento, quase uma meditação sobre a vida maior, a vida da cidade e de suas diferenças; e quantas diferenças!
Veio a primeira onda de moda do mountain bike e eu encontrava amigos pedalando por ai. Sabia de quem era cada uma das bicicletas que circulava na minha área. O trânsito era um pouco mais carregado, mas a noite e nos fins de semana a cidade ficava muito tranquila e pedalávamos horas livres, conversando ou vendo com muita calma a paisagem. A cidade não tinha limites, nem de violência social ou de trânsito. Fora o selim, nosso prazer não tinha limites.
Éramos indivíduos. Tínhamos tempo e isolamento para ser. E éramos coletivos porque tínhamos tempo de sobra para pensar, repensar e avaliar nosso próprio papel e valor como indivíduos na sociedade. Esta construção era lenta, com tempo para respirar, para se dar o direito de sofrer, ser feliz, ou simplesmente viver sem nada pensar. “Desliga”, se recomendava aos mais tensos. Quem já pedalou na tranquilidade total sabe bem o prazer o que é desligar.

Sempre tive inveja de meus amigos que viveram suas infâncias, juventudes e adolescências em bairros onde todos se conheciam. Eram comunidades. A vida estava lá, viva e ao vivo, em frente aos olhos e ouvidos de quem quisesse ou não, ensinando o que a vida realmente é, o que somos. Contato humano, quente, pulsante. A cidade grande era quase um mistério a ser desvendado. Tudo tinha seu tempo. A bicicleta tem uma velocidade e escala de tempo humana.
O tempo hoje é você quem faz. Whatsup! e pronto. O social é você quem faz. Whatsup! Mesenger, Twiter... blimm, chegou mensagem, imediato. Você está dentro ou fora, simples assim, sem meio termo, sem tempo para pensar, dependendo se você está na rede social. Tem um monte de ciclista passando, um monte. Passam pelas ruas que lhes são definidas como seguras, passam rápido, apressados; lá vai a boiada. What’s up? A rota segura, a paz de pedalar na ciclovia. E as ruas ficam para trás pedalando.

Nestes últimos dias tenho guardado distância e tem sido ótimo. Quero entender onde estou. Estava intoxicado de mim mesmo, da minha dificuldade para compreender o que vem acontecendo. É muito bom ver todo este povo pedalando por ai, mas é duro não ter mais minha solidão, meu silêncio. What’s up? Não se dá mais o direito ao outro de ter seu tempo. Neste novo tempo o tempo é coletivo, socializado por todos que estão ligados, plugados, conectados. Tão livre e tão boiada.